Mais de metade dos óbitos de idosos residentes em lares portugueses ocorreram numa unidade hospitalar. Durante o último ano de vida, mais de 80% dos idosos institucionalizados foram encaminhados para cuidados médicos externos.

Estas conclusões resultam de um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), no qual os investigadores identificaram e caracterizaram as hospitalizações durante o último ano de vida, a partir de uma amostra nacional constituída por 614 idosos residentes em sete lares.

Entre os principais resultados, os dados revelam uma elevada proporção de morte em ambiente hospitalar (52%), encaminhamentos para unidades hospitalares no último ano de vida (82%), e hospitalizações potencialmente onerosas nos últimos três dias de vida (34%) e ao longo dos últimos 90 dias (48%). Segundo os autores, estes números estão acima dos valores observados em países nórdicos, anglo-saxónicos e no Canadá, por exemplo.

A dispneia e outros sintomas respiratórios, seguidos de sintomas neurológicos e quedas, foram os principais motivos que originaram o recurso à urgência hospitalar.

Segundo o artigo científico publicado na Revista Internacional de Investigação Ambiental e Saúde Pública, “a população estudada é predominantemente muito idosa e frágil, sem diretivas antecipadas de vontade, sujeita a hospitalizações frequentes e transições potencialmente onerosas perto do final de vida”.

“Estamos a falar de pessoas em situações de doença crónica em fase avançada, para quem os atendimentos em urgência hospitalar e internamento podem ser considerados um marcador de agressividade dos cuidados de saúde”, revela Helena Bárrios, investigadora da FMUP.

Investigadora defende reflexão sobre qualidade no fim de vida

De acordo a autora do estudo, “na grande maioria dos casos, a hospitalização ocorreu numa fase em que poderia ser privilegiado o conforto e o apoio ao doente e à família num ambiente conhecido, não tendo melhorado a sobrevida”.

Os investigadores destacam o facto de a sociedade em geral considerar os cuidados hospitalares como bons cuidados de fim de vida, “sendo neste contexto que a transferência de um doente em fim de vida para o hospital é considerada, em muitos casos, a melhor opção para o doente”.

Segundo os autores, “não há nenhum dado no estudo que indique que os residentes que morreram no lar tiveram piores cuidados ou pior qualidade na morte do que os residentes que foram transferidos para o hospital”. A médica Helena Bárrios destaca a necessidade de existir uma “profunda reflexão sobre o que deve ser considerado qualidade no fim de vida, e qualidade na morte”.

Dado existirem poucos estudos portugueses sobre este tema, os autores creem que um melhor conhecimento sobre este assunto “poderá orientar os decisores políticos na implementação de medidas bem-sucedidas para mitigar a agressividade dos cuidados de fim de vida no panorama nacional”.

Intitulado “Internamento de residentes em lares de idosos em fim de vida: experiência e preditores nos lares de idosos portugueses”, o estudo foi desenvolvido pelos investigadores Helena Bárrios, José Pedro Nunes, João Paulo Araújo Teixeira e Guilhermina Rego.