Um estudo desenvolvido por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) concluiu que os acidentes rodoviários provocam sequelas físicas mais graves nas pessoas idosas do que em adultos mais jovens.

A partir de um estudo retrospetivo de avaliações de lesões pessoais em vítimas de acidentes de trânsito, os autores compararam os dados referentes a lesões agudas semelhantes entre um grupo de pessoas idosas (grupo 1) e de adultos até aos 64 anos (grupo 2).

Os resultados mostraram que as sequelas foram mais frequentes e graves no grupo 1, aumentando com a idade, principalmente a partir dos 74 anos. As sequelas mais frequentes foram sobretudo de origem ortopédica, como ocorre nos casos gerais de acidentes rodoviários, mas no grupo 1 foram quase duas vezes mais frequentes. O grupo 1 apresentou ainda maiores incapacidades em diversas funções analisadas e desfechos de maior gravidade, resultando em maior perda de autonomia e dependência de terceiros.

Segundo os investigadores, este estudo gera evidência suficiente que prova a necessidade de modificar a metodologia tradicional de avaliação do dano pós-traumático em pessoas idosas, o qual deveria dar maior relevância aos contextos de vida real de cada pessoa.

O estudo dá particular destaque ao facto de a incapacidade funcional permanente não ter apresentado diferenças significativas entre os dois grupos. Os investigadores consideram que uma das razões pode residir na utilização de uma tabela de incapacidades permanentes que tende a valorizar mais as sequelas corporais do que as sequelas funcionais e situacionais.

Investigadores defendem avaliações mais abragentes

“É fundamental obter informação completa sobre estados fisiológicos e de saúde anteriores, iniciar a avaliação médico-legal o mais cedo possível, bem como fazer acompanhamentos regulares e realizar uma avaliação multidisciplinar”, enumera Teresa Magalhães, professora da FMUP.

O trabalho publicado no Journal of Clinical Medicine revela que os avanços científicos e médicos e as melhores condições de vida têm contribuído para que as pessoas idosas sejam progressivamente mais ativas e autónomas.

Consequência disso é que o número de pessoas idosas a viajar com frequência e por distâncias maiores nas estradas tem aumentado, segundo os autores. Contudo, um número significativo apresenta condições prévias de saúde que prejudicam a recuperação pós-trauma, tornando os desfechos mais graves.

“Até lesões de baixa gravidade podem destabilizar os estados físicos e psicológicos anteriores desta população”, afirmam os autores. “Todos estes factos originam uma grande complexidade e enormes desafios nos cuidados de saúde e na avaliação de lesões pessoais em idosos”, conclui a investigadora Flávia Cunha Diniz, sublinhando que a evidência científica nesta área ainda é escassa.

Este trabalho foi desenvolvido pelos investigadores Flávia Cunha Diniz, Tiago Taveira Gomes, Agostinho Santos, José Manuel Teixeira e Teresa Magalhães.