Um ensaio clínico em curso na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) pode vir a mudar o modo como os médicos fazem o diagnóstico e o tratamento de várias alergias, nomeadamente aos ácaros e aos pólenes.

O estudo, coordenado por Diana Silva, investigadora da FMUP e imunoalergologista no Centro Hospitalar de São João (CHUSJ), tem como objetivo a avaliar o impacto do diagnóstico molecular em doentes alérgicos com sintomas persistentes tratados com vacinas antialérgicas (também conhecidas como imunoterapia com alergénios).

Com eficácia e segurança demonstradas na rinite e na asma, estas vacinas procuram “mudar a resposta imunológica anormal de um dado doente e, portanto, têm o potencial de modificar a evolução da doença alérgica e diminuir os sintomas de alergia”.

Atualmente em fase de recrutamento, este ensaio pretende seguir 210 participantes ao longo de 12 meses. Poderão participar pessoas com mais de cinco anos de idade, diagnóstico de asma ou rinoconjuntivite, testes de alergias a ácaros e/ou pólenes positivos e indicação médica para fazerem imunoterapia com alergénios.

O objetivo é saber se o tratamento com vacinas antialérgicas é mais eficaz nos doentes submetidos a diagnóstico molecular, que deteta com precisão os componentes moleculares das substâncias que provocam a alergia, do que em doentes que apenas realizam os métodos de diagnóstico habituais, assentes em testes cutâneos por picada com esses alergénios.

“Hoje existem novos conhecimentos na área da sensibilização a aeroalergénios, o que pode permitir adequar melhor o tratamento com vacinas antialérgicas a cada doente em particular, numa visão de medicina personalizada”, afirma a investigadora principal do estudo.

Vacinas antialérgicas: sim ou não?

Habitualmente reservado para situações muito particulares, o diagnóstico molecular usado neste estudo consiste essencialmente numa análise ao sangue que avalia se os doentes têm anticorpos para vários componentes moleculares de diferentes alergénios.

Os testes moleculares permitem ainda avaliar a correspondência entre o perfil de componentes moleculares dos doentes e do tratamento que estão a efetuar, de modo a perceber se este será o mais indicado ou se deve ser alterado.

“Já são conhecidos alguns componentes moleculares que se associam a diferentes situações clínicas. Uns associam-se a um perfil mais grave ou persistente, outros são marcadores de reatividade cruzada entre alergénios diferentes. Ao conhecer esse perfil, podemos decidir se é uma mais-valia ou não iniciar o tratamento com vacinas antialérgicas”, diz Diana Silva.

O ensaio tem a parceria da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (através da Bolsa Palma Carlos), do Serviço de Imunologia Básica e Clínica, Departamento de Patologia, FMUP, e do Serviço de Imunoalergologia do Centro Hospitalar Universitário de São João. O recrutamento termina com a inclusão da população alvo, estando previsto terminar em 2024.