OrgaValue é uma tecnologia inovadora para criar órgãos humanos. Já a BEAT Therapeutics promete um composto inovador para tratar cancros agressivos. Os dois projetos, ambos nascidos na Universidade do Porto, conquistaram o primeiro e segundo lugares, respetivamente, da 8.ª edição dos Prémios EIT Health InnoStars, uma iniciativa do EIT Health – European Institute of Innovation and Technology que visa apoiar startups inovadoras na área da Saúde.

Criada por um grupo de investigadores do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da U.Porto (i3S), a OrgaValue propõe uma tecnologia inovadora para criar fígados humanos. A inovação tem potencial de aplicação tanto em tratamento como em diagnóstico de doenças. As mortes de pacientes, durante o tempo em que esperam por um transplante, são frequentes. Então, a equipa composta por Cristina Ribeiro, João Rocha Gomes e Rodrigo Val d’Oleiros, quis encontrar uma solução. “O problema não é só a falta de órgãos, mas a qualidade dos mesmos: 54% dos pacientes rejeitam o novo órgão”, explicam.

A tecnologia desenvolvida permite reabilitar órgãos humanos e torna-los totalmente transplantáveis. Isso é feito “através de uma solução líquida de limpeza que remove as células, deixando uma matriz não celular com a matriz orgânica apropriada. Então, novas células humanas saudáveis são introduzidas na matriz para bioengenharia de um novo órgão”, contam os cientistas. A equipa espera começar os primeiros ensaios clínicos do projeto em 2025.

Recorde-se que o projeto Orgavalue venceu a 1.ª edição do BIP Acceleration, o programa de aceleração de projetos de valorização de resultados de investigação da Universidade do Porto. Também em 2022, o investigador Rodrigo Val d’Oleiros, rosto principal do projeto, conquistou o Prémio Jovem Empreendedor 2022, atribuído pela Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE).

O projeto ORGAVALUE já valeu vários prémios ao investigador Rodrigo Val d’Oleiros. (Foto: DR)

A BEAT Therapeutics também tem no tratamento de doenças o seu foco, nomeadamente os cancros agressivos do ovário, pâncreas e mama triplo-negativo e próstata resistente à castração. Falamos de um composto – descoberto e testado com sucesso pela equipa – inovador devido tanto às suas origens como aos seus efeitos. Tem vindo a mostrar resultados promissores e pode ser quatro vezes mais eficaz do que a quimioterapia na redução de tumores. Como referem os investigadores, o objetivo é que este seja o “o tratamento de excelência para cancros agressivos”, constituindo por isso uma nova esperança para os mais de 1.7 milhões de pacientes diagnosticados todos os anos com cancros deste tipo.

A equipa por trás do inovador projeto é composta pelas/os investigadoras/es Lucília Saraiva e Ana Catarina Matos (FFUP e REQUIMTE), Ângela Carvalho, Hugo Prazeres e José Luís Costa (i3s), Maria José Umbelino Ferreira (FFUL) e ainda Silva Mulhovo, da Universidade de Pedagógica de Moçambique, numa colaboração frutífera ente várias instituições. O projeto é, assim, uma opção eficaz em casos em que os pacientes não têm nenhuma alternativa terapêutica além da quimioterapia convencional.

O ano de 2023 foi repleto de conquistas para a BEAT Therapeutics, ano em que também formaram a empresa. Em abril e maio deste ano, conquistaram o primeiro lugar no iUP25k – concurso de ideias de negócio da Universidade do Porto – e o segundo lugar no BIP Acceleration. Ambas as iniciativas foram organizadas pela U.Porto Inovação no âmbito do projeto UI-CAN – Universidades como Interface para o Empreendedorismo.

Já em junho, além de terem sido selecionados para a final da EIT Health, a equipa venceu o concurso nacional que colocou frente a frente projetos inovadores nascidos nas sete universidades parceiras do UI-CAN (Aveiro, Beira Interior, Coimbra, Évora, Minho, Porto e Trás-os-Montes e Alto Douro).

Mais recentemente, viram o seu trabalho reconhecido na competição espanhola Startup Olé e também pelo Programa Gilead GÉNESE, que atribuiu um financiamento de 15 mil euros à equipa.

Sobre os Prémios InnoStars

Atribuídos pelo IET desde 2016, os Prémios InnoStars destinam-se a empresas em fase de arranque no setor da saúde das regiões central, oriental e meridional da Europa.

A esta oitava edição dos galardões candidataram-se 107 projetos provenientes de 18 países europeus, dos quais foram selecionados 18. Destes, dez – incluindo três portugueses – tiveram a oportunidade de se apresentarem na grande final, realizada nos dias 7 e 8 de novembro, em Milão.

A OrgaValue foi distinguida com um prémio de 25 mil euros, ao passo que a BEAT Therapeutics conquistou um financiamento de 15 mil euros. O pódio foi preenchido pelo projeto D-Sight S.L., que levou para Espanha um prémio de 10 mil euros.

Inovação portuguesa no topo da Europa

Para além dos Prémios InnoStars, o evento realizado em Milão distinguiu ainda três startups portuguesas – duas das quais com ligações à U.Porto – ao abrigo do programa RIS Innovation Call 2023.

Em primeiro lugar ficou a portuense Gocap, um projeto coordenado pela investigadora Inês Gonçalves, do «Grupo Advanced Graphene Biomaterials» do i3S, e que se propõe a desenvolver primeira tampa para esterilização de cateteres ativada pela luz.

As infeções associadas a cateteres são as infeções associadas aos cuidados de saúde (IACS) mais frequentes, estimando-se que sejam responsáveis por cerca de 37 mil mortes – e mais de 4 milhões de pessoas afetadas – por ano, só na Europa. Atualmente, as opções de prevenção/tratamento, como utilização de soluções de bloqueio dos cateteres e a administração sistémica de antibióticos, são ineficientes e causam resistência bacteriana, constituindo uma grande ameaça para a saúde pública.

É neste contexto que a GOcap® surge como uma solução antimicrobiana segura e de longa duração, capaz de prevenir infeções em cateteres. Capaz de matar bactérias através da fotoactivação do grafeno, sem utilizar antibióticos, impedindo assim o desenvolvimento de resistência bacteriana, esta tampa inovadora pode contribuir para o bem-estar e qualidade de vida do paciente, reduzindo os riscos associados a infeções e hospitalizações, tendo um enorme impacto económico no sistema de saúde.

A terceira posição foi ocupada pela Orgacancer, também do Porto.

Para além de mentoring, participação num bootcamp e acesso a potenciais investidores e parceiros através do EIT Health, os consórcios por detrás dos projetos premiados vão também adquirir financiamento. As equipas Gocap e Orgacancer vão receber, respetivamente, 25 mil e 10 mil euros para continuar a desenvolver as suas soluções inovadoras.