Um estudo internacional liderado por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) concluiu que a combinação de dois fármacos específicos, bem conhecidos pelos médicos, pode reduzir o risco de doença cardiovascular em doentes com diabetes tipo 2.
Neste trabalho, a equipa avaliou dois grupos de fármacos com benefícios significativos e amplamente usados e seguros, mas cujo impacto do tratamento sob a forma combinada ainda não era suficientemente claro.
Segundo João Sérgio Neves, médico e investigador da FMUP, os resultados revelaram que “a utilização dos dois fármacos em simultâneo reduz de forma adicional o risco cardiovascular”, podendo contribuir para que os médicos e os doentes passem a optar com maior frequência pela utilização deste tratamento.
O investigador salienta que este é mais um pequeno passo para combater a morbilidade e a mortalidade associadas à doença cardiovascular na diabetes tipo 2, sublinhando que “os diabéticos têm um risco de enfarte do miocárdio ou AVC duas a quatro vezes superior à restante população”.
Para chegar a esta conclusão, os investigadores efetuaram uma análise ao estudo internacional Harmony Outcomes, no qual havia sido avaliado o impacto do tratamento com um medicamento antidiabético da classe dos agonistas do recetor do GLP-1 em doentes diabéticos com alto risco cardiovascular.
Nesta população, os investigadores avaliaram o impacto do tratamento com um agonista do recetor do GLP-1 nos doentes com e sem tratamento simultâneo com medicamentos da classe dos inibidores SGLT2 (outro grupo de medicamentos com benefícios cardiovasculares conhecidos). Posteriormente, os resultados obtidos foram combinados com os dados de um outro estudo internacional – Amplitude-O – o que permitiu avaliar o impacto da terapêutica combinada em mais de mil doentes.
Nova recomendação em vigor
Já após a publicação deste estudo, a Sociedade Europeia de Cardiologia atualizou as suas guidelines, passando a recomendar que todos os doentes com diabetes tipo 2 e alto risco cardiovascular sejam tratados com as duas classes de fármacos em combinação, “desde que tenham indicação clínica e não apresentem contraindicações ou intolerância”, salientam os investigadores.
O artigo científico foi recentemente publicado na “Revista do Colégio Americano de Cardiologia”, uma das mais relevantes publicações da área cardiovascular.
Intitulado «GLP1 Receptor Agonist Therapy with and Without SGLT2 Inhibitors in Patients with Type 2 Diabetes», o trabalho é assinado pelos investigadores da FMUP João Sérgio Neves, Marta Borges-Canha, Francisco Vasques-Nóvoa, Davide Carvalho, Adelino Leite Moreira e João Pedro Ferreira.