Portugal é um dos países europeus mais afetados pela erosão costeira, verificando-se o recuo da zona de costa em largos metros, ao longo das últimas décadas. Em Estruturas de Defesa Costeira e ordenamento no concelho de Ovar. Esmoriz, Cortegaça, Furadouro (Portugal). 1993-2015, título recentemente lançado pela U.Porto Press, Fernando Veloso Gomes –, professor catedrático jubilado do Departamento de Engenharia Civil da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e Presidente do Instituto de Hidráulica e Recursos Hídricos (IHRH) entre 1993 e 2017 – coloca em análise o impacto da erosão costeira nas praias de Esmoriz, Cortegaça e Furadouro, bem como novas abordagens para a resolução dos graves problemas que afetam este trecho costeiro.

O trecho em causa tem uma extensão de 13 quilómetros, situando-se a cerca de 30 quilómetros a sul do Porto e da foz do Rio Douro e imediatamente a sul da Barrinha de Esmoriz ou Paramos, na fronteira entre os concelhos de Espinho e Ovar.

Numa das primeiras Cartas de Vulnerabilidade para a costa portuguesa (1994), nas quais se começou a questionar a expansão das frentes urbanas em zonas vulneráveis, as praias de Esmoriz, Cortegaça e Furadouro surgem com classificação elevada a nível da sua localização (e consequente risco de exposição).

Exemplo de uma das primeiras Cartas de Vulnerabilidade para a costa portuguesa (Veloso-Gomes & Papadatos, 1994) [P. 15 do livro] / Foto: DR

Atualmente, seis esporões e oito estruturas longitudinais aderentes, num total aproximado de 4,4 quilómetros, defendem a frente edificada litoral de Esmoriz-Cortegaça-Furadouro. “A origem dos problemas erosivos neste trecho costeiro está relacionada com a diminuição do volume de sedimentos transportados pela corrente de deriva litoral (originada pela obliquidade da agitação marítima), cuja direção predominante é de norte para sul”, explica Fernando Veloso Gomes..

Os processos erosivos iniciaram-se ainda no século XIX, justificando a construção das primeiras estruturas de defesa costeira (1909) “a norte da frente edificada Esmoriz-Cortegaça, designadamente na zona costeira de Espinho”. Isto porque, entre 1885 e 1910, a linha de costa em Espinho tinha recuado um total de 225 metros.

Zona costeira de Espinho e Paramos, adjacente a norte da zona edificada Esmoriz – Cortegaça. Estruturas de defesa existentes, comprimentos e anos em que foram executadas. Foto: DR

Os problemas erosivos foram avançando para sul, sendo que, nas últimas três décadas do século XX, assistiu-se a uma expansão e densificação da construção nas praias de Esmoriz-Cortegaça, “sem ter em atenção o elevado nível de exposição desses territórios, de baixa altitude e sem proteções naturais, às ações diretas e indiretas do mar”. Inclusive, nalgumas áreas “a erosão chegou até ao limite onde poderia avançar sobre terra, colocando a primeira linha de casas separada do mar apenas pelas estruturas de defesa costeira”, nota o autor.

A floresta como zona tampão da erosão costeira

Por outro lado, a extensa mancha florestal a sul da frente urbana de Cortegaça tem sido sujeita a erosão progressiva, o que tem resultado na queda de centenas de pinheiros, colocando em causa a segurança de banhistas e de pequenas embarcações de pesca artesanal.

Nesta vasta extensão de mancha florestal, em processo erosivo, localiza-se o aglomerado urbano do Furadouro, com notórias erosões a norte e a sul, apesar das estruturas de defesa existentes.

A intensidade da erosão na mata florestal assume dimensões preocupantes – tanto mais que em planícies costeiras de baixa altitude, sem proteções naturais, a floresta funciona como zona tampão, “com um estatuto de proteção em relação à não edificabilidade”, o que constitui “um aspeto de ordenamento globalmente muito favorável”.

Pelo facto de as intervenções de defesa costeira terem limitações funcionais e gerarem impactos negativos, ao longo das últimas quatro décadas tem sido dada atenção crescente a novas abordagens para a resolução dos graves problemas que afetam este trecho, quer por parte dos organismos de governo, quer por parte da comunidade académica e científica.

Com esta publicação – e com as que se seguirão, com o mesmo cariz, inseridas na série Zonas Costeiras. Um Legado para o Futuro –, Fernando Veloso Gomes pretende deixar um testemunho de problemas, dinâmicas naturais e antropogénicas, metodologias, estudos e intervenções no terreno, que servirão como ensinamentos e meios para eventuais reorientações estratégicas.

A obra Estruturas de Defesa Costeira e ordenamento no concelho de Ovar está disponível na loja online da U.Porto Press, com um desconto de 10%.