As pessoas com doenças autoimunes inflamatórias sob tratamento imunossupressor estão mais sujeitas a infeções e, logo, são as que mais podem beneficiar de uma estratégia de vacinação eficaz, mas este é um grupo em que a vacinação continua a ser deficitária.

Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) revela agora que mais de metade dos indivíduos com estas doenças e sob tratamento imunossupressor têm um receio moderado ou elevado das vacinas, sobretudo por causa de eventuais efeitos secundários, da interação com medicamentos, da falta de efetividade e até de um agravamento das suas doenças de base.

Estes resultados constam do artigo “Vaccines – beliefs and concerns: the voice of patients with inflammatory immunomediated diseases”, publicado no European Journal of Gastroenterology & Hepatology.

Neste estudo, os participantes (275 doentes, no total) eram sobretudo pessoas com doenças inflamatórias intestinais, como doença de Crohn e colite ulcerosa, e doenças reumáticas. O objetivo era avaliar o conhecimento sobre vacinas por parte de adultos com doenças inflamatórias autoimunes, bem como identificar desconhecimentos e crenças mais comuns, de modo a planear estratégias que permitam aumentar a adesão à vacinação neste grupo de doentes.

“Em geral, os doentes têm um conhecimento genérico sobre as vacinas, mas falham em aspetos relacionados com as vacinas em pessoas sob terapêutica imunossupressora, relativos, por exemplo, à eficácia da vacina e à interação com a terapia imunossupressora, sendo esse desconhecimento agravado nos doentes com mais baixo nível de escolaridade”, afirmam os investigadores da FMUP.

“Terá de haver um trabalho intensivo”

Este estudo mostrou também que os indivíduos mais novos, abaixo dos 30 anos, são, curiosamente, os que demonstram mais preocupações sobre a possibilidade de as vacinas poderem agravar a sua doença imune e os menos preocupados com o preço da vacina, que foi fator importante para 48% dos doentes estudados.

“As taxas de vacinação estão dependentes das perspetivas dos doentes sobre o assunto. Por isso, os doentes devem sempre ser tidos em conta quando pensamos numa estratégia para aumentar a toma das vacinas nesses grupos”, aconselham.

Para os autores, “terá de haver um trabalho intensivo, envolvendo diferentes profissionais de saúde e os doentes. Uma melhor comunicação entre estes profissionais nos diferentes níveis de cuidados é determinante para aumentar as taxas de vacinação”.

Os autores sugerem que “os médicos de doenças infeciosas, com formação e experiência em vacinação, podem ser uma ajuda importante na vacinação dos doentes com doença imunomediada inflamatória, em apoio aos médicos de Gastroenterologia e Reumatologia e de Medicina Geral e Familiar. Concomitantemente e focando nos doentes, a literacia em saúde, em particular em vacinas, é essencial e deve ser estimulada”.

Este trabalho é assinado por Cândida Abreu, António Martins, Elsa Branco, Rafael Rocha, António Sarmento e Fernando Magro, todos eles investigadores da FMUP e do Centro Hospitalar e Universitário de São João.