Um ganho de peso adequado durante a gravidez pode reduzir o risco de desenvolvimento de diabetes tipo 2 no período pós-parto em mulheres que têm diabetes gestacional, uma doença metabólica comum caracterizada por uma intolerância temporária ao açúcar no sangue. Um estudo nacional retrospetivo realizado por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) veio mostrar que os quilos ganhos durante a gravidez têm, de facto, um papel importante na persistência da diabetes ao longo do tempo.

O objetivo do trabalho, publicado na prestigiada revista científica Endocrine, era avaliar a relação entre o ganho de peso (ponderal) durante a gravidez e a persistência da diabetes no pós-parto através da realização de um teste à glicemia em jejum e de uma prova de tolerância à glicose oral (PTGO) entre as 24 e as 28 semanas de gestação.

Ao todo, foram avaliados os dados de 10.389 mulheres, com idade média de 33 anos, sendo que 19,6% tinham tido diabetes numa gravidez anterior. As mulheres engordaram cerca de 10 quilos (entre 6,4 e 14 quilos) durante a gravidez, mas o ganho de peso foi superior nas que tinham peso normal antes de engravidarem (entre 8,5 e 15 quilos) e menor nas mulheres que eram obesas (entre 3 a 11,5 quilos). Em média, as mulheres tinham 24 semanas de gestação e 77 quilos quando foram diagnosticadas com diabetes gestacional.

“Os nossos resultados mostraram que as mulheres com diabetes gestacional e um índice de massa corporal normal antes da gravidez apresentaram uma maior variação de peso gestacional do que as mulheres que tinham previamente excesso de peso ou obesidade”, indica Sofia Monteiro Coelho, da FMUP.

Menor variação do peso na gravidez aumenta risco

No entanto, conforme salienta, são as mulheres com menor variação do peso durante a gravidez que apresentam maior probabilidade de ter diabetes depois do parto. Os dados indicam, também, uma associação entre o baixo peso dos bebés à nascença e a diabetes pós-parto.

“Uma possível explicação pode ser uma menor ingestão calórica durante a gravidez em mulheres que tinham um peso normal no período pré-gestacional, levando assim a um ganho de peso inadequado. Outra hipótese associada ao baixo ganho de peso é um controlo inadequado dos níveis de glicose no sangue da mãe durante a gravidez”, sublinha.

Face a estes dados, “levantamos a hipótese de que deveríamos ser mais flexíveis no ganho de peso gestacional nessas mulheres, de modo a haver menos probabilidade de desenvolverem diabetes no pós-parto”.

Para os investigadores envolvidos, estes resultados podem servir de base a outros estudos destinados a avaliar o impacto de um ganho de peso limitado em mulheres obesas e nos seus descendentes e a determinar o ganho de peso ideal para mulheres com diabetes gestacional.

De acordo com as recomendações existentes, as mulheres com índice de massa corporal normal antes da gravidez podem ganhar entre 12,5 e 18 quilos durante a gravidez. Já as mulheres com excesso de peso só devem pesar mais 7 a 11,5 quilos e as mulheres obesas podem pesar no máximo mais 4,5 a 11 quilos quando estão grávidas.

Em Portugal, todas as mulheres grávidas têm acesso a um rastreio de diabetes gestacional, realizado através de um teste à glicemia plasmática em jejum e de prova de tolerância à glicose oral (PTGO), entre as 24 e as 28 semanas de gestação.

Este estudo científico resultou da dissertação do Mestrado em Medicina realizado por Sofia Monteiro Coelho, com a orientação dos professores da FMUP Davide Carvalho e Marta Borges Canha.