A Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) lidera um projeto que está a estudar “estratégias verdes” para mitigar os efeitos das alterações climáticas no setor vitivinícola. O VineProtect, financiado pelo PRIMA, um programa da União Europeia para a investigação e inovação em soluções para a região mediterrânica, decorre até 2025 e pretende melhorar a resiliência das plantas.
A premissa deste projeto é transpor para a viticultura o que já é feito na medicina, encarando o microbioma como parte estruturante da planta. Por exemplo, querem desenvolver soluções à base de fungos vivos para combater outros fungos e doenças comuns na vinha e também criar um bio-hidrogel a partir de resíduos da poda.
O VineProtect envolve investigadores de Portugal, Itália, Turquia e Marrocos. Em Portugal, para além de uma equipa de cientistas e docentes da FCUP, o consórcio conta ainda com investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
“Este projeto incide sobretudo nas vinhas da região do Douro, uma vez que são um terroir muito ameaçado pelas alterações climáticas”, explica a líder do projeto Conceição Santos, docente da FCUP. De uma forma global, o VineProtect quer encontrar estratégias para mitigar o impacto da crise climática na vinha, nomeadamente ao nível da diminuição da precipitação, o aumento da temperatura e o aumento da incidência de patógenos. “Pretendemos apostar na proteção sustentável das doenças da vinha, na caraterização do património genético do microbioma da região, e em melhorar a gestão sustentável do solo”, concretiza.
E é a isso mesmo que se dedicam os investigadores na Faculdade de Ciências, que trabalham no iB2 – Integrative Biology and Biotechnology Laboratory. A partir deste laboratório, estão a ser criadas e estudadas coleções de bactérias e fungos nativos que possam ser benéficos para a videira.
“Há bactérias e fungos que são benéficos e que têm características que podem potenciar o uso de água da planta, a absorção de nutrientes e até as defesas da planta em relação aos patógenos que estejam no solo”, explica João Prada, engenheiro agrónomo formado na FCUP, membro do iB2 Lab e bolseiro de doutoramento na UTAD.
Múltiplas soluções para vários países
Cada país do consórcio terá a sua própria coleção de bactérias – bactérias nativas – e, no caso português, alguns destes microrganismos já foram isolados em trabalho de campo. Atualmente, estão a ser selecionados, em laboratório, os que possam ser “mais interessantes” em viticultura, ou seja, os que possam ser “plant-growth promoters” e promovam o crescimento e desenvolvimento das videiras. Em Portugal, o trabalho de campo decorre nas três sub-regiões do Douro (no Baixo Corgo e no Cima Corgo em duas quintas da Sogrape e no Douro Superior em vinhas da empresa Gerações de Xisto).
Paralelamente, o foco está também no estudo e na utilização de plantas fixadoras de azoto – como as leguminosas – como cobertura de solo. Desta forma, os investigadores querem chegar a uma solução que permita à planta produzir mais utilizando menos água, um recurso que cada vez vai ser mais escasso. Estas plantas podem ajudar o solo a reter água e tornar mais eficiente a nutrição das videiras.
Da Turquia, chegará também uma outra estratégia sustentável: um bio-hidrogel a partir de resíduos da poda. Esta formulação será aplicada nas vinhas do Douro. Espera-se que estes bio-hidrogéis aumentem a retenção de água no solo ao absorver a que vem das chuvas ou via irrigação. A ideia é aproveitar um recurso numa lógica de economia circular, utilizando resíduos que, de outra forma, teriam de ser eliminados.
Outros objetivos deste projeto passam por “integrar a ecofisiologia e a metabolómica das videiras, para comparar a eficácia das abordagens propostas nos diferentes terroirs” e assim “selecionar, para cada região, a abordagem mais eficiente para melhorar a resiliência da produção vitícola”, avaliar o “impacto socioeconómico e ambiental destas abordagens” e, por fim, “transferir o conhecimento gerado” para os viticultores, stakeholders e sociedade de cada região para que possam aceder a “soluções vantajosas” para cada caso.
O VineProtect, que teve início em abril de 2022, é financiado pelo PRIMA em cerca de 761 mil euros, sendo que, desse financiamento, Portugal recebeu uma fatia de cerca de 250 mil euros, repartidos entre a FCUP e a UTAD.