Apesar de ser uma fonte inesgotável de energia limpa numa era de grandes preocupações a nível energético, ainda são tímidas as aplicações da energia das ondas, nomeadamente em Portugal, onde o espaço marítimo é enorme face ao tamanho do país. Mas uma equipa de investigadores do grupo de Energia Marinha do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) e da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) acaba de demonstrar uma nova possibilidade de aplicação deste tipo de energia que esbarra com uma segunda grande preocupação a nível mundial: a aquacultura como fonte de recursos alimentares marinhos.

Num estudo intitulado “Wave energy conversion energizing offshore aquaculture: Prospects along the Portuguese coastline”, e agora publicado na revista cientifica Renewable Energy, os cientistas da U.Porto apresentam aquela que pode ser a conjugação perfeita para impulsionar o desenvolvimento de novas e sustentáveis estruturas offshore para aquacultura ao longo da costa portuguesa.

Conjugar aquacultura offshore e energia das ondas

A pesca excessiva e a imposição de quotas levaram a uma estabilização das capturas, a nível mundial, em menos de 85 milhões de toneladas por ano desde o início do século. Assim, nas últimas décadas, o crescente consumo mundial destes produtos tem sido assegurado sobretudo pela aquacultura, cuja produção se estima que alcance 62% da produção mundial até 2030. Este crescimento, a par com outras produções, requer consumos de energia cada vez maiores a que o mundo tem de responder.

Tendo em conta o vasto espaço marítimo português e a agitação continua e intensa das ondas associadas, existe interesse em expandir as operações de aquacultura existentes offshore e suportar as suas exigências energéticas da mesma com eletricidade produzida através da conversão da energia das ondas (CEO) uma fonte renovável e, neste caso, diretamente acessível.

Segundo Daniel Clemente, primeiro autor do estudo e investigador do CIIMAR e da FEUP, este trabalho “procura identificar a combinação perfeita entre tecnologias de CEO e as espécies em produção de aquacultura com o objetivo de promover a produção nacional de aquacultura de uma forma sustentável e independente das necessidades energéticas”.

Baseando-se em estudos anteriores que caracterizam as condições físico-químicas e metoceânicas da Costa Portuguesa – entre elas o vento, as ondas e o clima de um local específico – foi determinado o recurso energético disponível, os requisitos fisiológicos das espécies de aquacultura e as tecnologias de conversores de energia das ondas mais promissoras, assim como os custos inerentes.

A aplicação na Costa Portuguesa

O estudo não se fica pela teoria e sugere à partida os locais mais promissores para aplicação destas tecnologias no espaço marítimo Português. “Dos vários locais considerados, a priori, para a costa Portuguesa, Sines e Figueira da Foz foram identificados como dos mais promissores e para os quais existiam mais dados de base. Das cinco CEO consideradas, a capacidade de eficiência do conversor de energia desenvolvido nos laboratórios da FEUP no âmbito do projeto ATLANTIDA, batizado de OCECO, destacou-se.” Explica Daniel Clemente.

“Existe potencial para explorar a energia das ondas e associá-la a produtos aquáticos, desde pescado a algas marinhas, de forma sustentável e economicamente viável. Se podemos ter explorações de aquacultura offshore sustentadas, de forma autónoma, na nossa própria costa, por conversores de energia das ondas, porque não aproveitar essa oportunidade?” acrescenta.

Francisco Taveira Pinto, investigador do CIIMAR, Professor Catedrático e Diretor do Departamento de Engenharia Civil da FEUP, que liderou este estudo, realça o caso especial da aquacultura offshore no qual a energia das ondas é diretamente utilizada diminuindo as perdas: “a rentabilidade dos sistemas de extração de energia das ondas depende muito da utilização da eletricidade produzida. Se estes fins forem, por exemplo, múltiplos e co-localizados in situ, os custos diminuem e essa rentabilidade aumenta”.

“A aquacultura corresponde, nesta perspetiva, a uma atividade económica que pode usufruir desta potencialidade, contribuindo também para o desenvolvimento estratégico das tecnologias de extração de energia das ondas”, remata.