A Eptune Engineering, startup incubada na UPTEC — Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto, desenvolveu uma tecnologia de limpeza de lixo espacial. A solução insuflável utiliza uma espécie de paraquedas gerador de atrito que pode recolher satélites cinco anos após o fim da missão.
A startup aeroespacial 100% portuguesa está a desenvolver um paraquedas espacial insuflável, que se distingue por se tornar rígido após o enchimento e por reduzir a utilização de combustível na manobra de reentrada em órbitra. O insuflável usa a atmosfera rarefeita como fonte de atrito, o que permite reduzir entre cinco a dez vezes o tempo de saída da órbita dos satélites em fim de vida.
O projeto, cofinanciado em 212 mil euros pelo Programa Operacional Regional do Norte (NORTE 2020), através do Portugal 2020 e do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), centra-se no desenvolvimento das bases tecnológicas deste produto: a estrutura insuflável que dá a forma e suporta as cargas aerodinâmicas; o escudo térmico que protege a estrutura insuflável das altas temperaturas desta manobra; os processos de fabrico, e por fim os testes de materiais e componentes.
O fundador e CEO da Eptune Engineering, João Pedro Loureiro, acredita no potencial da solução, apontando a um possível uso na entrada em órbita de Marte. “O desafio foi desenvolver tecnologia para que estruturas insufláveis pudessem ser usadas em manobras de aerocaptura e aerotravagem. Da folha em branco até à produção e testes de protótipos, foi possível criar as bases tecnológicas para o desenvolvimento dos produtos que realizarão missões específicas de acordo com diferentes dimensões dos satélites. Esta tecnologia permitirá, também, efetuar manobras de entrada em órbita de um planeta como Marte sem consumir qualquer combustível”.
Olhando para o presente, João Pedro Loureiro pretende que esta solução passe a ser implementada em todos os satélites que partam para órbita, podendo, no futuro, e através de um meio de transporte, recolher os satélites mais antigos. “Nesta primeira fase, pretendemos que esta tecnologia esteja acoplada nos novos satélites que serão colocados em órbita, sendo que a médio prazo, a nossa solução poderá ser transportada para o espaço e, aí, acoplada ao satélite em fim de vida que pretendemos trazer de volta à Terra”.
A solução da Eptune Engineering pretende responder ao crescimento exponencial de satélites lançados ao longo dos últimos anos para a órbita terrestre baixa, que conta com oito mil satélites ativos e não-ativos, sendo que 25% desses satélites foram lançados só no ano de 2022.
Para tornar o projeto realidade foram necessárias, também, atividades complementares de análise orbital efetuadas em conjunto com o Instituto Superior Técnico. Os diversos protótipos e componentes produzidos pela Eptune Engineering foram testados pelo Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto (CEiiA), que enfrentou o desafio de testar materiais têxteis com propriedades especiais, desenvolvendo sistemas de fixação e ferramentas para estes testes, o que permitiu validar as propriedades dos materiais, costuras, soldaduras, bem como processos de fabrico e a resposta estrutural dos insufláveis.
Esta tecnologia pretende solucionar um dos principais problemas aeroespaciais, respondendo à missiva norte americana que impõe um limite para a remoção destes satélites até cinco anos após o fim da missão, e que a Agência Espacial Europeia (ESA) também vai adotar em breve.