A investigadora do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR) e da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP)  Catarina Magalhães e as investigadoras do CIIMAR, Ana Gomes e Leonor Pizarro, integraram a expedição Arctic Ocean Cruise (AO 2023) liderada pelo Instituto Polar Norueguês. Juntamente com outros 22 cientistas, as três investigadoras navegaram nas últimas três semanas, no navio de investigação Kronprins Haakon.

Durante a expedição Arctic Ocean 2023, partiram para o Ártico com o objetivo de recolher água do mar a várias profundidades e amostras de núcleos de gelo para estudar a diversidade microbiana e de peixes.

Esta campanha, integrada nos projetos CONNECTOCEANS (Conectar os Oceanos Atlântico e Ártico para Decifrar o Impacto das Alterações Climática nas Funções dos Microbiomas Planctónicos) e N-MicroARCTIC (O Microbioma do Azoto num Ártico em Mudança | Período de atividade na missão ao Oceano Ártico), foi realizada na região do Farms Strait. Sendo que esta região é a principal entrada de massas de água do Atlântico Norte no Ártico e a principal região de saída de gelo do Ártico, torna-se um objeto de estudo fundamental para quantificar as mudanças climáticas e para se compreender o futuro do Ártico.

Kronprins Haakon, um dos navios de investigação polar mais avançados e bem equipados no mundo. (Foto: Leonor Pizarro).

Dois projetos em cooperação

Os projetos CONNECTOCEANS e N-MicroARCTIC têm como objetivo estudar a diversidade e função dos microbiomas planctónicos do Oceano Ártico, de forma a fornecer novos conhecimentos acerca da resposta do microplâncton do Ártico ao aquecimento global e a intensificação do influxo de calor da água do Atlântico para o Ártico, a chamada “Atlantificação”, com ênfase aos processos do ciclo do azoto mediados pelos microrganismos que habitats destes ambientes polares.

Segundo Catarina Magalhães, docente do Departamento de Biologia da FCUP e investigadora do CIIMAR, uma vez que “os microbiomas são responsáveis pela manutenção de funções ambientais cruciais, por exemplo, produção de oxigénio, redistribuição de nutrientes como o azoto e manutenção do equilíbrio da produtividade primária do Oceano, os presentes projetos ajudarão a entender processos com significado global através da identificação de riscos emergentes, relacionados com a extensão da “Atlantificação” e progressivo aquecimento do Oceano Ártico.”

Por este motivo, durante esta expedição foi dada especial atenção às comunidades de bactérias nitrificantes, através da realização de experiências de nitrificação a bordo, uma vez que estas comunidades têm um papel fundamental na regulação dos processos biogeoquímicos no oceano.

Dados recolhidos no Ártico

A enorme quantidade de dados produzidos na campanha AO 2023 está a ser analisada num esforço coletivo internacional. Desta feita, está a fornecer novos conhecimentos acerca da resposta do microplâncton do Ártico e as suas funções ao aquecimento global e ao impacto da Atlantificação do Oceano Ártico.

Espera-se que todas as amostras recolhidas e os dados futuros deem aos investigadores novas perspectivas sobre a composição microbiana nesta região extrema, avançando assim o nosso conhecimento deste ecossistema intocado.

Neste sentido, Catarina Magalhães acrescenta: “As alterações climáticas são o grande desafio do nosso século com um impacto intensificado no Oceano Ártico, sendo urgente combinar esforços internacionais e multidisciplinares em expedições oceanográficas como a AO 2023 de forma a preencher lacunas críticas sobre o papel dos microbiomas na sustentação das mudanças dos regimes da produtividade, diversidade e recursos biológicos de um Oceano Ártico em mudança acelerada.”

Para além do CIIMAR, os projetos CONNECTOCEANS e N-MicroARCTIC contam com a colaboração de entidades como o Norwegian Polar Institute (NPI), o INESC TEC, a Dalhousie University (DAL) e o Ocean Frontier Institute (OFI), sendo financiados pelo Programa Polar Português (PROPOLAR9 e a Fundação para a Ciência e a Tecnologia.