Em 100 anos, a cartografia evoluiu para o GPS. Nas operações de busca e salvamento, podem usar-se drones, os mesmos que, do céu, nos permitem recolher imagens únicas e nos levam até aos locais mais remotos. A tecnologia está cada vez mais presente na Engenharia Geográfica, recentemente rebatizada como Engenharia Geoespacial

A propósito dos 100 anos deste curso da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), a Biblioteca da FCUP foi palco, na tarde de 20 de junho, de um evento comemorativo, que foi até bem mais do que isso. Mais engenheiros geógrafos precisam-se e o mundo precisa deles.  Afinal, “a engenharia geoespacial quer ajudar o mundo”, como sublinhou um antigo estudante a assistir à cerimónia. 

Apesar de emprego e oportunidades profissionais não faltarem, salientou-se a necessidade de dar visibilidade a esta licenciatura e à área. E esse apelo ficou bem claro nas palavras de todos os que participaram no evento. “Acho que não há conhecimento da sociedade sobre as tarefas que um engenheiro geógrafo pode fazer”, sublinhou a Diretora da FCUP, Ana Cristina Freire.

Com o mote lançado, Joaquim Esteves da Silva, diretor do Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território da FCUP, no qual o curso se insere, concretizou com um exemplo prático que aconteceu durante uma iniciativa da Ciência Viva: “Nos trabalhos científicos que apresentaram a concurso, houve jovens do ensino secundário a utilizar ferramentas de engenharia geográfica e, quando lhes perguntámos quem são os especialistas que usam essa ferramenta, não souberam responder”.

É precisamente por isso que a Diretora de curso, Ana Cláudia Teodoro, defende que a divulgação do trabalho de um engenheiro geógrafo deve começar junto dos mais pequenos, pelos 6 anos. Afinal, é de pequenino que se torce o pepino e assim podem “crescer a querer ser engenheiros geoespaciais.” “A nossa área é estratégica para o país. Não há dúvida nenhuma”, salienta. 

Confiança no futuro 

“Olhei para as oito novas profissões do futuro, de acordo com o Fórum Económico Mundial, e percebi que tudo isto é engenharia geográfica”, confirma o presidente da Ordem dos Engenheiros da Região Norte (OERN), Bento Aires.

“Analistas de segurança de informação, especialistas em sustentabilidade, analistas de business intelligence, engenheiros de robótica, especialistas de Big Data, especialistas em transformação digital, especialistas em Inteligência Artificial e Machine Learning”, enumera o líder da OERN. “E até os operadores de equipamentos agrícolas porque cada vez mais vão lidar com sistemas de precisão e essa é uma das áreas de engenharia geoespacial”. 

Uma mensagem de confiança no futuro que deu mote à mesa-redonda para discussão sobre os “próximos 100 anos” do curso. “Depende de nós mostrarmos o nosso valor e onde é que podemos ajudar nos próximos anos”, realçou David Fernandes, antigo estudante da licenciatura, atualmente a trabalhar na EDP Global Solutions.

O engenheiro geógrafo abordou a importância da proatividade para dar destaque à profissão. “Posso estar à espera que venham descobrir, numa empresa com 13 mil pessoas, que o David pode dizer que aquele sítio é o melhor para colocar um painel solar ou posso ser eu a dar uma lista dos melhores sítios de acordo com razões económicas, de viabilidade técnica e ambiental.”

Não faltaram também os contributos de João Agria Torres, Presidente do Colégio Engenharia Geográfica da Ordem dos Engenheiros, de José Alberto Gonçalves e de José Pereira Osório, atual e antigo professor do curso, respetivamente. 

Mesa-redonda com João Agria Torres, Presidente do Colégio Engenharia Geográfica da Ordem dos Engenheiros (à esquerda), alumnus do curso, David Fernandes, estudante Inês Calmeiro e José Alberto Gonçalves e José Pereira Osório, atual e antigo docente da licenciatura, respetivamente. Foto: SICC.FCUP

A dar voz aos futuros engenheiros geógrafos, esteve Inês Calmeiro. “Temos imensas saídas profissionais e uma forte formação nas áreas da matemática e da inteligência artificial”, conta a estudante que está a trabalhar numa empresa canadiana no Porto. E quais as mais aliciantes no curso? A jovem de 23 anos não tem dúvidas. O futuro na área da exploração espacial e as possibilidades de colaboração com a Agência Espacial Europeia.

Da terra para o céu, a finalista da FCUP está preparada para altos voos. Quer seguir para o mestrado em Engenharia Geográfica, conhecer o mundo e cumprir o sonho de fazer um curso de controlador de tráfego aéreo. “Uma carreira que envolve um ambiente dinâmico, responsável por garantir a segurança e a eficiência dos voos, e uma experiência desafiadora e estimulante para complementar a minha formação em Engenharia Geoespacial”, remata.