São mais de 1.5 milhões de pacientes a sofrer de cancros agressivos como o do ovário, pâncreas e mama que não têm outra opção terapêutica além da quimioterapia convencional. Na Universidade do Porto, numa investigação conjunta da Faculdade de Farmácia (FFUP), REQUIMTE e do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), nasceu uma tecnologia inovadora que pode trazer uma nova esperança para estes doentes. A mesma que acaba de conquistar a 9.ª edição do iUP25k – Concurso de ideias da Universidade do Porto, cuja final decorreu no passado dia 14 de abril, na Casa Comum (à Reitoria) da U.Porto.
Como referiu a investigadora Ângela Carvalho (i3S), no pitch de apresentação do projeto BBIT-Therapeutics, este será “o tratamento de excelência para cancros agressivos”. O composto descoberto, e testado, por este grupo de investigadores, é promissor devido tanto às suas origens como aos seus efeitos, e pode ser quatro vezes mais eficaz do que a quimioterapia na redução de tumores.
O prémio atribuído pelo júri do iUP25k inclui um valor monetário de 5 mil euros, um período de pré incubação na UPTEC, consultoria de empreendedorismo e participação no evento final UI-CAN, em representação da U.Porto.
Além da constituição da start-up BEAT-Therapeutics, a equipa vai usar parte do prémio “em estudos que permitirão definir as doses de referência para os primeiros ensaios clínicos”, refere Ângela Carvalho, em nome da equipa da qual fazem também parte as/os investigadoras/es Ana Catarina Matos e Lucília Saraiva, ambas da FFUP/ LAQV/REQUIMTE, Hugo Prazeres, do i3S, e Lúcio Lara Santos, do IPO-Porto.
Melhorar qualidade de vida de pacientes com Alzheimer e regenerar músculos
No segundo e terceiro lugares da competição ficaram, respetivamente, os projetos NEVADA e Regenera.
O projeto NEVADA, da autoria das investigadoras da Débora Nunes, Maria do Carmo Pereira, Maria João Ramalho, Stéphanie Andrade e Joana Loureiro, da Faculdade de Engenharia (FEUP), consiste numa abordagem que aproveita os benefícios de um conhecido medicamento para a doença de Alzheimer. Este é complementado com a ideia inovadora de usar um dispositivo biocompatível para libertar o medicamento ao longo do tempo.
Como referiram as investigadoras durante o seu pitch, “curar a doença ainda está longe de ser uma realidade para todos os pacientes”. Como tal, o projeto NEVADA promete, “pelo menos melhorar a qualidade de vida” dos mesmos.
Já o projeto Regenera pretende desenvolver biofármacos inovadores, tendo como princípios ativos dois tipos diferentes de células estaminais, mesenquimatosas, e/ou seus fatores parácrinos, que de forma sinergística promovem a regeneração dos tecidos musculoesqueléticos.
O projeto ambiciona marcar a diferença na medicina veterinária, mas está a ser desenvolvido para poder ser utilizado, também, em humanos.
A equipa é composta por Ana Colette Maurício, Ana Rita Santos e Inês Reis, investigadoras do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e também por Miguel Santos, do Centro de Estudos de Ciência Animal (CECA /ICETA). O Regenera tem vindo a ser testado em cães e cavalos. No caso dos cavalos de corrida, por exemplo, conseguiram que um animal lesionado pudesse voltar a competir passados apenas 30 dias.
Ambos os projetos vão receber um período de pré incubação na UPTEC e consultoria de empreendedorismo.
Do Porto para Dublin
Além do 1.º, 2.º e 3.º lugares, esta edição do iUP25k distinguiu mais dois projetos que terão como prémio uma viagem a Dublin, na Irlanda, para conhecer o ecossistema de empreendedorismo da cidade e participar na Dublin Tech Summit. Os três primeiros vencedores também participarão desta jornada, acompanhados por elementos da U.Porto Inovação.
Assim, o júri decidiu premiar os projetos BiOM, de três investigadoras da Faculdade de Medicina Dentária da U.Porto (FMDUP), e ReCup, que nasceu na FEUP.
BiOM é um elixir inovador e eficaz no tratamento da mucosite oral provocada por tratamentos oncológicos. Esta é uma patologia bastante dolorosa, que afeta cerca de 80% dos pacientes oncológicos e que pode, inclusivamente, levar à interrupção do tratamento do cancro em questão.
Assim, as investigadoras Benedita Maia, Leonor Furtado e Maria Azevedo decidiram criar um elixir mucoso, sem necessidade de receita médica, ecológico e acessível, na medida em que o objetivo é colocá-lo à venda em farmácias, parafarmácias e ervanárias.
Por fim, mas não por último, o júri distinguiu o projeto ReCup, um sistema circular automatizado de copos e embalagens de utilização única. “Por um mundo sem descartáveis” é o mote de Diogo Polónia e João Carlos Matos, ambos estudantes da FEUP.
O objetivo da ideia é transformar o descartável em reutilizável, e os seus criadores já estão a implementar a ideia nos copos de café de máquinas de vending.
“Um projeto que continuará a ser acarinhado”
Esta foi a nona edição do concurso de ideias de negócio da U.Porto, já visto como um dos mais emblemáticos eventos de promoção do empreendedorismo na instituição. O evento contou com o apoio do projeto UI-CAN e também da BTEN, Fundação Santander e UPTEC.
“É sempre um gosto receber, aqui na Universidade, o que de melhor se faz na nossa instituição”, referiu Pedro Rodrigues, Vice-Reitor da U.Porto para a Investigação e Inovação, no momento em que anunciou os vencedores.
“Este é um projeto que vai continuar a ser acarinhado pois entendemos que, tendo em conta a investigação tão diversa que se faz na nossa Universidade, temos cada vez mais que passar esse conhecimento para a formação de empresas e para a criação de valor”, concluiu.
Organizado pela U.Porto Inovação, o iUP25k tem como grande objetivo o de promover o surgimento de novas iniciativas empreendedoras na U.Porto e assegurar vantagens àqueles que querem valorizar o conhecimento gerado na instituição.
O júri desta edição foi constituído por José Rui Soares (BTEN), Raphael Stanzani (UPTEC) e Teresa Marcos (chefe da divisão municipal de empreendedorismo da Câmara Municipal do Porto).