Durante os próximos dois anos, os investigadores Vijay Pal e Juliana Viegas vão integrar e desenvolver os seus projetos de investigação no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) no âmbito das Bolsas Marie Skłodowska-Curie de Pós-doutoramento (MSCA-PF), atribuídas pela União Europeia. O financiamento é de cerca de 160 mil euros para cada investigador.
Estas bolsas são altamente competitivas (1235 propostas selecionadas para financiamento num total de 7044 propostas submetidas no concurso de 2022) e têm como objetivo apoiar o potencial criativo e inovador dos investigadores pós-doutorados que apresentem projetos de investigação de excelência e de alto impacto e que desejem adquirir novas competências através de formação avançada, mobilidade internacional, interdisciplinar e inter-setorial.
Nesta edição de 2022/23, a Comissão Europeia atribuiu financiamento MSCA-PF a 25 propostas de instituições portuguesas, entre as quais se encontra o projeto de Vijay Pal. Adicionalmente, através do programa ERA Fellowships, foram contemplados mais 14 projetos para instituições nacionais, onde se inclui a de Juliana Viegas.
Denominado «TRAIN – Regulação de tumores através da imunidade e nanotecnologia», o projeto liderado por Vijay Pal, investigador doutorado de nacionalidade indiana, atualmente no Institute of Molecular and Cellular Biology (IBMC) em Estrasburgo, França, vai ser desenvolvido no grupo de investigação «Molecular Biomaterials», sob supervisão da líder do grupo, Helena Azevedo, e com co-supervisão da investigadora Maria José Oliveira, líder do grupo «Tumour and Microenvironment Interactions».
“Conheci o trabalho da Profª. Helena Azevedo durante o meu doutoramento no Institute of Nano Science and Technology, Mohali, Índia e, quando terminei, contactei-a para manifestar o meu interesse em trabalhar no seu laboratório. Ela falou-me das bolsas Marie Curie e considerei que seria uma excelente oportunidade para construir a minha carreira académica”, explica Vijay Pal.
“Escolhi o laboratório da Prof.ª Helena Azevedo, no i3S, devido à sua especialização no campo dos bionanomateriais moleculares e à excelência e foco do I3S na investigação básica, aplicada e translacional para o desenvolvimento de um futuro melhor para a sociedade. Para mim será uma oportunidade única para beneficiar de uma comunidade científica diversa e dinâmica e dará um enorme impulso ao meu CV<e.
O objetivo do projeto TRAIN é tratar doentes com cancro avançado com terapias inovadoras, mais eficazes e acessíveis a um maior número de pacientes oncológicos. Para isso, explica Vijay Pal, “vamos utilizar a atividade enzimática existente no microambiente tumoral e moléculas de péptidos, para modular o metabolismo dos tumores e promover a eficácia de imunoterapia, mas também para libertar fármacos quimioterapêuticos”.
A equipa vai focar-se no adenocarcinoma pancreático (PAAD) e desenvolver modelos biomiméticos tridimensionais de PAAD para testar diferentes combinações de quimio e imunoterapia. Para cumprir este objetivo, “vamos recorrer a uma abordagem multi-disciplinar que utilizará conceitos de nanotecnologia baseada em péptidos, enzimologia, imunologia e oncobiologia, juntamente com métodos de última geração nas áreas de ciência dos materiais, proteómica e biologia celular”, detalha o investigador.
O projecto TRAIN está alinhado com o plano “The Europe’s Beating Cancer Plan”, que tem com objetivo reduzir o impacto negativo do cancro nos doentes, nas suas famílias e nos sistemas de saúde, bem como reduzir as disparidades entre países relacionadas com o tratamento do cancro, oferecendo ao mesmo tempo oportunidades de formação e desenvolvimento de carreira internacional a um investigador jovem e criativo na intersecção das áreas de nanotecnologia de péptidos e da imunobiologia do cancro.
Desenvolver terapias com nanopartículas para tratar o melanoma
O projeto proposto por Juliana Viegas chama-se SkinModelOMA e pretende criar um modelo multicompartimentado de melanoma cutâneo para avaliação de sistemas nanoestruturados. Este modelo, explica a investigadora brasileira, “permitirá cultivar pele humana conjuntamente com um modelo 3D tumoral de melanoma. Vamos realizar um estudo de diferentes formas de inserções do tumor no tecido cutâneo e conduzir estudos de viabilidade, crescimento e atividade enzimática”.
O principal objetivo do trabalho “é que este modelo possa tornar-se uma eficiente plataforma de screening de nanoterapias, possibilitando a aplicação de tratamentos via tópica, intratumoral e simulando aplicações que alcancem o tecido cutâneo via derme”, acrescenta Juliana Viegas,
Este trabalho, que será desenvolvido no grupo «Nanomedicines & Translational Drug Delivery» do i3S,, sob a supervisão do investigador Bruno Sarmento, “inclui estudos de género e o modelo será desenvolvido em diferentes tipos de pele, desde peles brancas a peles negras, e também em diferentes idades de pele, já que existe uma variação na elasticidade”.
Licenciada em Farmácia, Juliana Viegas começou por trabalhar na indústria farmacêutica e fez depois o mestrado e o doutoramento em Ciências Farmacêuticas na área da nanotecnologia na Universidade de São Paulo, no Brasil.
“Trabalho com produção e otimização de nanopartículas desde 2012 e produzi em 2017 uma patente farmacêutica sobre Lipossomas; Os meus projetos de mestrado e doutorado basearam-se no desenvolvimento de nanopartículas contendo antitumoral e siRNAs para tratamento de cancro da pele melanoma e não-melanoma. Mais tarde, aprofundei os meus conhecimentos em cancro da pele e em outras doenças de pele e comecei a trabalhar com cultivo de tecidos ex vivo. Ter agora o meu projeto SkinModelOMA financiado com uma bolsa Marie Curie é um grande privilégio e vai permitir-me construir a base da minha carreira como investigadora”, remata.