Um trabalho desenvolvido por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) foi distinguido com uma menção honrosa no âmbito do Prémio Bial de Medicina Clínica 2022. A entrega do galardão decorreu no passado dia 8 de fevereiro, na Aula Magna da FMUP, numa cerimónia presidida pelo Presidente da República.

Resultante de uma colaboração entre a Universidade Eduardo Mondlane (Moçambique) e a FMUP, bem como de outras instituições académicas africanas e grupos de trabalho internacionais, a obra premiada apresenta os resultados de uma ampla pesquisa no domínio da hipertensão arterial na população moçambicana, realizada ao longo dos últimos 25 anos.

O trabalho, assinado pelos investigadores da FMUP Albertino Damasceno, Jorge Polónia e Nuno Lunet, mostrou que um em cada três adultos moçambicanos tem hipertensão arterial, identificando as suas causas, tipos e os baixos níveis de controlo. Foi ainda possível constatar a relação com a elevada mortalidade por acidentes cardiovasculares.

De acordo com Albertino Damasceno, pioneiro na área da cardiologia em Moçambique, a “hipertensão arterial é o principal fator de risco para a insuficiência cardíaca, para o acidente vascular cerebral e para a cardiopatia isquémica em África”.

O coordenador da obra «Contribuição para o estudo da Hipertensão Arterial em Moçambique e na África subsariana: Resultados de um combate de 25 anos» acrescenta ainda que as conclusões “poderão ajudar a individualizar estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento da hipertensão arterial para muitos portugueses ou imigrantes de origem africana residentes em Portugal”.

Para além dos investigadores da FMUP, integraram este trabalho António Prista (Universidade Pedagógica de Maputo), Carla Silva Matos (Ministério da Saúde de Moçambique) e Neusa Jessen (Hospital Central de Maputo/Universidade Eduardo Mondlane).

Trabalho sobre autismo foi o vencedor

Intitulada «Os desafios da Neurodiversidade: um percurso na área da medicina personalizada e de investigação no autismo», a obra da autoria do médico e investigador Miguel Castelo-Branco (Coimbra Institute for Biomedical Imaging and Translational Research) foi a vencedora do Prémio Bial de Medicina Clínica 2022.

O trabalho, distinguido com um montante de 100 mil euros, “representa uma visão de 15 anos de percurso na investigação básica e clínica na área do neurodesenvolvimento, em particular no autismo, influenciada pela história pessoal do autor”.

O júri do Prémio Bial 2022 atribuiu ainda uma outra menção honrosa no valor de 10 mil euros à investigadora Cláudia Faria (Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte/Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes), autora do trabalho «Brain Tumors 360º: from biological samples to precision medicine for patients».

A médica e investigadora “pretende contribuir para melhorar o conhecimento científico dos tumores cerebrais, através do desenvolvimento da Brain Tumor Target, uma plataforma centrada no doente que permite simular a doença humana e testar modelos e terapias inovadoras para Medicina Personalizada”.

Presidente da República reconhece o papel da investigação

Durante a sua intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa destacou a importância destes prémios “por mudarem a vida das pessoas”. Para o Presidente da República, “não há clínica médica que não se baseie numa muito sólida investigação fundamental e não há investigação fundamental que se possa satisfazer só por si”.

Luís Portela, presidente da Fundação Bial, elogiou a “elevada qualidade e competência” dos trabalhos submetidos e dos seus autores.

No papel de anfitrião do evento, Altamiro da Costa Pereira, diretor da FMUP, sublinhou que mais de 80% dos trabalhos científicos na área da medicina e investigação clínica são realizados na academia, realçando que a Aula Magna será, porventura, o local onde mais provas foram defendidas nesta área.

A cerimónia contou ainda com a presença de personalidades como Miguel Guimarães (Ordem dos Médicos), Rui Moreira (Presidente da Câmara Municipal do Porto), Manuel Pizarro (Ministro da Saúde) e do Reitor da U.Porto e presidente do CRUP, António de Sousa Pereira.

Homenagem a Manuel Sobrinho Simões

A cerimónia contou também com uma homenagem ao patologista e Professor Emérito da U.Porto, Manuel Sobrinho Simões.

Depois de ter anunciado aquela que foi a sua última participação enquanto presidente do júri do Prémio Bial, o fundador e diretor do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup) foi aplaudido pela assistência devido ao seu reconhecido contributo enquanto médico, professor e investigador.