A cidade do Porto vai ter um novo pulmão verde e, tal como o Parque Central da Asprela, a sua conceção tem assinatura de arquitetos paisagistas da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). A empresa municipal GO Porto lançou recentemente o concurso público para a construção do Parque da Alameda de Cartes, em Campanhã, que contempla uma área localizada na interface dos bairros do Falcão, Cerco e Lagarteiro, com ligação ao Parque Oriental. 

Este novo espaço verde teve origem no projeto europeu URBiNAT (Urban Innovative & Inclusive Nature), que conta com a participação da FCUP e do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO/BIOPOLIS). A conceção do jardim envolveu os contributos dos cidadãos locais e também o uso de soluções de base natural (Nature Based Solutions). 

“Se olharmos para a forma como as pessoas usam o espaço podemos mais facilmente dar resposta às suas necessidades. Quem mora no Cerco do Porto e quer deslocar-se para a Corujeira, para o fazer ao longo de estradas com passeios, demora 16 minutos.  Em apenas oito minutos contamos 48 pessoas a fazer um percurso alternativo mais curto, mas com pouca acessibilidade”, começa por explicar José Miguel Lameiras, arquiteto paisagista da FCUP e coordenador do projeto. “É uma demonstração clara da necessidade de intervenção do arquiteto paisagista neste território”, sublinha. 

De acordo com o docente da FCUP, a missão de um arquiteto paisagista é também a de “coser territórios” e de desenhar para a “qualidade de vida das pessoas”. Este é precisamente o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido, em articulação com a Câmara Municipal do Porto e com os cidadãos da cidade, ao longo dos últimos anos. 

Arquitetos paisagistas da FCUP fizeram o estudo do espaço atual e recolheram, para a conceção do jardim, os contributos dos cidadãos locais. (Foto: Parque da Alameda de Cartes FCUP – BIOPOLIS/CIBIO)

Adaptação às alterações climáticas com soluções de base natural 

Para além da componente social e de mobilidade dos residentes, a equipa da FCUP e do CIBIO/BIOPOLIS teve também em conta, no desenho do jardim, os efeitos das alterações climáticas e medidas de adaptação

“Fizemos um modelo tridimensional de todo este território com recurso a drone e também simulações ao nível do conforto térmico e da radiação solar”, conta José Miguel Lameiras. Ao nível da topografia, os arquitetos paisagistas trabalharam a modelação do terreno para garantir a mobilidade pedonal e ciclável e gerar zonas mais planas, destinadas a atividades de recreio. 

A equipa verificou também a existência de zonas sem vegetação que atingem temperaturas muito elevadas. “A arquitetura paisagista é simultaneamente uma arte e uma ciência estrategicamente posicionada na linha da frente da mitigação das alterações climáticas”, remata. Precisamente por isso tiveram em conta a caducidade. “Foram feitas várias simulações ao nível da radiação solar porque queremos que, no inverno, a radiação chegue ao parque e crie espaços mais amenos e que, no verão, a sombra da vegetação torne a zona mais fresca”. 

Nesta equação, entra a plantação de árvores com diferentes taxas de crescimento. Conciliando árvores de crescimento rápido, que, em dez anos dominam a paisagem, e outras de crescimento lento que, ao fim de 20, trazem um maior desempenho ecológico ao Parque.

À semelhança do Parque Central da Asprela, também este novo espaço vai ter em conta o combate às cheias. Para tal, 100% das águas da chuva serão infiltradas no local através de bacias de retenção. “Implementamos ainda soluções inovadoras para reter água em zonas de grandes declives”, nota José Miguel Lameiras.

Obra deverá estar concluída no prazo de um ano

No projeto estiveram também envolvidos os docentes da FCUP, Teresa Portela Marques e Paulo Farinha Marques, e os bolseiros de investigação, David Campos, Rosendo Silva e Beatriz Truta, mestres em arquitetura paisagista pela FCUP. 

A obra tem o valor base de 1,8 milhões de euros, incluindo 800 mil euros de financiamento europeu do URBiNAT, no âmbito do programa Horizonte 2020. O restante valor será apoiado pela Câmara Municipal do Porto. Concluída a obra, cujo prazo estimado é de cerca de um ano, a equipa da FCUP vai desenvolver uma avaliação pós ocupacional e monitorizar a evolução do Parque.

Para além da FCUP e do CIBIO/BIOPOLIS, fazem também parte do grupo de trabalho a Universidade de Coimbra (UC), a Give U Design and Art (GUDA), o Centro de Estudos Sociais (CES), a Câmara Municipal do Porto e a empresa municipal Domus Social. Os projetos de especialidades foram desenvolvidos em articulação com a SOPSEC. A gestão do projeto e da obra é feita pela GOPorto.