Gabriela Fernandes da Silva, atual estudante do Programa Doutoral em Ciências Veterinárias do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto, acaba de ser distinguida pela Sociedade Portuguesa de Patologia Animal (SPPA) com o Prémio SPPA 2022destinado à melhor dissertação de mestrado na área da Patologia Animal, defendida no último ano nas várias instituições de ensino de Medicina Veterinária, em Portugal.

O prémio decorre da tese intitulada “Pathological Findings in Rescued Hedgehogs”, desenvolvida por Gabriela Fernandes da Silva no âmbito do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária do ICBAS. O trabalho teve por base a descrição de várias patologias diagnosticadas num grupo de ouriços resgatados pela Associação Amigos Picudos, uma associação para a preservação e proteção deste animal.

Os ouriços foram encontrados debilitados ou feridos e levados para recuperação, sendo enviados para exame de necropsia e posterior análise histopatológica no Laboratório de Patologia Veterinária do ICBAS, onde decorreu o projeto.

Desenvolvido sob orientação de Irina Amorim, docente no ICBAS, o estudo incidiu sobre uma quantidade considerável de diferentes patologias de valor notável do ponto de vista da patologia comparada, patologias essas menos comuns ou mais relevantes encontradas em ouriços pigmeus africanos (animais de estimação) — como por exemplo, síndrome do ouriço oscilante, carcinoma de células escamosas e mastocitoma . Algumas destas patologias foram relatadas pela primeira vez nestas espécies em Portugal, resultando ainda num artigo científico já publicado na revista Animals.

Para além disso, Gabriela Fernandes da Silva identificou pela primeira vez a Mycobacterium spp. em ouriços em Portugal, permitindo o segundo relato de carcinoma da tiroide, a descrição de uma pneumonia lipídica pela primeira vez nestas espécies e de um adenocarcinoma pulmonar – uma patologia raramente identificada em ouriços pigmeus africamos.

O Ouriço Pigmeu Africano foi uma das espécies estudadas. (Foto: DR)

Sabe-se que a proximidade destes animais com os humanos tem vindo a aumentar, quer para fins de reabilitação, ou para animais de companhia, como é o caso do Ouriço Pigmeu Africano que se tem tornado cada vez mais popular dentro das nossas casas.

Face ao risco de transmissão de potenciais doenças zoonóticas e considerando que a maior parte das patologias diagnosticadas neste estudo foram encontradas acidentalmente post-mortem, isto é, sem qualquer diagnóstico médico definitivo prévio, o exame de necropsia provou ser uma ferramenta de vigilância útil na monitorização de determinadas doenças com potencial impacto na saúde pública.

A variedade de lesões e doenças encontradas neste estudo destaca por isso a importância deste pequeno mamífero no contexto eco-epidemiológico da doença, considerando o seu potencial para transportar doenças zoonóticas e o seu papel relevante no conceito One Health.

Para a Gabriela Fernandes da Silva, o reconhecimento atribuído pela Sociedade Portuguesa de Patologia Animal serve de incentivo para o futuro, no qual “espero poder desenvolver outros projetos científicos” na área da investigação e da patologia veterinária.

O Prémio SPPA 2022 foi entregue no passado dia 30 de junho, durante o XXV Encontro da SPPA, que decorreu no Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INAV) em Oeiras.