Renato Mendes, oceanógrafo, investigador do Laboratório Colaborativo (CoLAB) +ATLANTIC e colaborador externo do Laboratório de Sistemas e Tecnologia Subaquática (LSTS) da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), foi o vencedor do FLAD Science Award Atlantic 2021, atribuído pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD).

O projeto levado a concurso, focado na área da robótica marinha, arrecadou 300 mil euros de financiamento para colocar o “Caravel”, um veículo marítimo autónomo de superfície, a navegar entre Portugal Continental e o Arquipélago dos Açores com controlo e supervisão remotos.

O objetivo é recolher dados oceânicos de longa duração e observar fenómenos temporários e localizados, como a proliferação ocasional de algas, o desenvolvimento de frentes oceânicas ou as aglomerações de detritos flutuantes. Tudo isto através de um veículo robótico movido apenas pela energia das ondas e do Sol, atuando de forma consistente e sustentável no oceano, e cujo software será desenvolvido pela equipa multidisciplinar coordenada pelo investigador.

“Os desenvolvimentos tecnológicos e a investigação de base são fundamentais para a exploração do oceano. Dada a maturidade atual dos sistemas robóticos marinhos, torna-se necessário criar um ambiente de confiança para a sua operacionalidade com os utilizadores finais que, neste caso em específico, são os cientistas que se dedicam à investigação marinha. O JUNO – Exploração Robótica das Águas Atlânticas será, desse ponto de vista, a base para uma utilização mais rotineira da robótica marinha na exploração do oceano em Portugal.”, explica Renato Mendes.

Com cerca de uma dezena de investigadores a trabalhar a velocidade de cruzeiro, a equipa do projeto JUNO irá começar a integrar a tecnologia de controlo remoto e navegação do “Caravel” já este ano, sendo a primeira vez que um veículo deste género faz esta travessia.

Tecnologia multifuncional de monitorização oceânica pan-atlântica

O software implementado permite igualmente planear a viagem à medida que ela vá decorrendo, cruzando dados recolhidos pelo próprio veículo (como a salinidade e as correntes), assim como de satélite e modelos oriundos do programa Copérnico de observação da Terra. A simplificação das operações de longa duração, melhorando a gestão de risco de navegação em zonas de maior tráfego marítimo, e a possibilidade de tanto cientistas como cidadãos poderem aceder aos dados recolhidos são outras das repercussões positivas da implementação desta tecnologia.

Além do conhecimento trazido pelo CoLAB +ATLANTIC e pelo LSTS, o projeto conta igualmente com o parceiro americano Massachusetts Institute of Technology (MIT), através do professor Pierre Lermusiaux, “cuja experiência na utilização de veículos marítimos autónomos será essencial para a integração da tecnologia e execução de testes operacionais”, revela o oceanógrafo.

Mas as sinergias não se criam apenas em laboratórios. O diálogo estreito entre a oceanografia e a robótica marinha adquire um papel de relevância por permitir “obter novos dados científicos em locais que, até então, eram de muito difícil acesso, inclusive em ambientes sensíveis ou em Áreas Marinhas Protegidas”.

“Há sempre um risco associado a qualquer campanha executada no mar, sendo um trabalho de coordenação entre diferentes áreas que exige um equilíbrio entre o valor científico das observações e a capacidade tecnológica de estar no lugar certo, à hora certa. Numa altura em que Portugal poderá, caso a extensão da sua plataforma continental venha a ser aprovada, vir a ter uma área marítima de mais de 4 milhões de km2, torna-se inadiável que esta soberania seja exercida também através de uma rede de observação oceânica mais abrangente e sustentável, onde a robótica marinha terá certamente um papel fundamental, permitindo cumprir os objetivos propostos pela Década do Oceano pelas Nações Unidas.”, comenta o investigador sobre as potencialidades das áreas da oceanografia e engenharia na exploração do oceano.

Com a grande viagem pelo Atlântico prevista para a primavera ou verão de 2024, Renato Mendes avança que o valor total atribuído pelo prémio será investido na continuidade das tarefas do JUNO, que incluem avaliação, desenvolvimento e testes operacionais do ‘ex-libris’ do projeto, o autónomo “Caravel”.

Sobre o FLAD Science Award Atlantic

A Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) pretende com este prémio conceder apoio e distinguir investigadores em início de carreira, promovendo assim a nova e promissora geração de investigadores a residir em Portugal, sempre com um elo de colaboração próximo com os principais grupos de investigação nos Estados Unidos.

Com o objetivo de estimular o desenvolvimento de tecnologia, o prémio entregue pela FLAD tem um grande foco na obtenção de resultados práticos, como a criação de engenharia e tecnologias, que facilitem a compreensão e exploração dos ecossistemas atlânticos.

A 2ª edição do FLAD Science Award Atlantic incluiu como áreas de estudo a engenharia/tecnologia e ambiente/ciências naturais, presentes já na edição anterior, acrescentando ainda as ciências sociais e as humanidades com o objetivo de criar e desenvolver ferramentas transversais e soluções estratégicas para os desafios da atividade humana no Atlântico.

Pedro Camanho, Professor Catedrático na FEUP, presidente do Laboratório de Energia, Transportes e Aeronáutica (LAETA) e cientista convidado na NASA, foi um dos membros do júri, assim como Elsa Henriques, membro do Conselho Executivo da FLAD e Professora no Instituto Superior Técnico, e Miguel Miranda, Professor Catedrático na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e presidente do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).