Um estudo conduzido por investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) concluiu que uma maior exposição a espaços verdes pode prevenir o desenvolvimento de doenças alérgicas nas crianças.
A investigação, publicada na revista científica “Science of the Total Environment”, procurou avaliar se as crianças que sempre viveram em zonas com maior quantidade de vegetação ou perto de rios ou mar, apresentavam aos 10 anos menos sensibilidade alérgica – um fator de risco para o desenvolvimento de doenças alérgicas e respiratórias.
Inês Paciência, primeira autora do artigo, coordenado por Ana Isabel Ribeiro e André Moreira, explica que “os estudos publicados sobre o impacto dos espaços verdes no desenvolvimento de sensibilidade alérgica na infância não são conclusivos”.
Por essa razão, a equipa procurou explicar esta associação, realizando um estudo longitudinal que envolveu 730 crianças portuguesas, residentes na Área Metropolitana do Porto, e participantes na coorte do ISPUP, Geração XXI.
Os investigadores identificaram a área de residência destas crianças, em vários momentos críticos da infância, e analisaram a sua exposição a espaços verdes e azuis (rios e mar). A sensibilidade alérgica dos participantes no estudo foi avaliada aos 10 anos de idade.
O efeito protetor dos espaços verdes
O estudo concluiu que as crianças cuja área de residência tinha maior quantidade de vegetação, num raio de pelo menos 500 metros, mostraram menor sensibilidade alérgica aos 10 anos de idade do que as que viviam em zonas com menor quantidade de vegetação, demonstrando-se assim o efeito protetor das áreas verdes na saúde.
No entanto, o mesmo não se observou relativamente aos rios e ao mar. “Não encontrámos uma associação estatisticamente significativa entre a proximidade a espaços azuis e o menor risco de desenvolver sensibilização alérgica”, refere Inês Paciência.
Tendo em conta os resultados encontrados, e face ao crescente aumento de doenças alérgicas e respiratórias nas crianças, a investigadora do ISPUP considera ser importante promover a existência de espaços verdes.
“O planeamento urbano deve apostar na construção de espaços verdes perto das áreas residenciais, uma vez que as zonas verdes desempenham um grande papel na prevenção da doença e na promoção da saúde. É também crucial envolver os cidadãos na manutenção e promoção destes espaços”, conclui.
O projeto Exalar XXI
A investigação agora publicada, e designada Neighbourhood green and blue spaces and allergic sensitization in children: a longitudinal study based on repeated measures from the Generation XXI cohort, surge no âmbito do projeto do ISPUP Exalar XXI, que procura estudar a relação entre o ambiente urbano e as doenças alérgicas e asma nas crianças, através de estudos que avaliam a influência da exposição à poluição, aos espaços verdes e azuis, e à biodiversidade.
O artigo foi desenvolvido no âmbito da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do ISPUP. Nele colaboraram também os investigadores Carla Moreira, João Cavaleiro Rufo, Oksana Sokhatska, Tiago Rama, Elaine Hoffimann e Ana Cristina Santos.