No final do ano passado, o Ministério do Ambiente e da Ação Climática revelou a lista de empresas e projetos selecionados para a “short list” da candidatura portuguesa a apresentar a Bruxelas no âmbito do hidrogénio, para obtenção do estatuto IPCEI, de projeto de interesse comum europeu. ‘Amnis Pura’ é um dos nomes que consta da lista e revela o desígnio do projeto alavancado por Paulo Ribeirinha e Frederico Relvas, ambos investigadores da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP): a purificação de hidrogénio e tecnologias relacionadas, assim como a separação de ar (produção de oxigénio e azoto) para aplicação em várias indústrias.
Do trabalho feito pelos investigadores resulta o projeto com parecer favorável da Comissão Europeia “H2Battery – Development of highly efficient hydrogen battery”, cujo foco é a utilização do hidrogénio como veículo de armazenamento de energia elétrica.
Através da tecnologia de adsorção seletiva por modulação da pressão – a Pressure Swing Adsorption (PSA) -, os componentes de uma mistura gasosa, tais como o dióxido de carbono, metano e monóxido de carbono, são separados do hidrogénio, estabelecendo-se previamente o grau de pureza necessária para utilização em diferentes setores industriais.
“No caso da purificação de hidrogénio a partir de correntes de reformação de hidrocarbonetos, a principal dificuldade é a remoção do monóxido de carbono que deverá ser forçosamente realizada abaixo da medida de concentração 0.2 ppm (parte por milhão), de forma a cumprir com as normas adequadas à indústria automóvel.”, avança Paulo Ribeirinha, que concluiu em 2018 o doutoramento em Engenharia Química e Biológica na FEUP com distinção.
Para colmatar este obstáculo, a spin-off da FEUP desenvolveu um adsorvente com uma capacidade aprimorada para o monóxido de carbono, permitindo, assim, a obtenção de uma eficiência 15% superior quando comparada com os concorrentes. Além disso, “o processo de modificação possui um custo reduzido e é possível ser feito a partir de adsorventes comerciais”, conclui o investigador.
Além das características inovadoras da tecnologia PSA da Amnis Pura, a empresa tem como objetivo preencher uma lacuna existente no mercado. Os grandes produtores de gases industriais a nível mundial focam-se apenas no desenvolvimento de unidades de grande dimensão, deixando para trás as de pequena escala, cuja procura tem vindo a aumentar.
“De acordo com os contactos industriais que temos estabelecido, é muito difícil encontrar empresas no mercado europeu totalmente dedicadas ao desenvolvimento deste tipo de equipamentos de menor dimensão, sendo que as existentes obtêm um desempenho baixo devido à dificuldade da remoção do monóxido de carbono. E é aqui que surge uma oportunidade para nós”, revela Paulo Ribeirinha.
Da FEUP para a indústria
Mas o surgimento da Amnis Pura e a sua ligação à FEUP não são de agora. Tudo começou no Laboratório de Engenharia de Processos, Ambiente, Biotecnologia e Energia (LEPABE) da FEUP a partir de uma investigação coordenada por Adélio Mendes, Professor Catedrático no Departamento de Engenharia Química da instituição.
O ponto de viragem acontece em 2015, através do projeto PEMBeyond, quando “a investigação permitiu conceber e otimizar um material adsorvente que possibilita, a partir de correntes de reformado, purificar hidrogénio por PSA com um elevado grau de pureza e recuperação, tendo obtido um bom desempenho e cumprido com todos os objetivos delineados.”, explica Frederico Relvas, cofundador da Amnis Pura e atual doutorando de Engenharia Química e Biológica na FEUP.
Para além de integrar a candidatura portuguesa ao projeto europeu no domínio do hidrogénio, a empresa é também finalista da sexta edição do Cleantech Camp, um programa europeu que visa acelerar a transição energética na Europa. Foi uma das duas únicas empresas portuguesas entre os 15 projetos selecionados a nível europeu, enfrentando propostas vindas de Espanha, França, Suécia, Itália, Finlândia e Ucrânia nas próximas etapas do programa na área da energia limpa.
Em jogo estão 20 mil euros e um possível financiamento de projetos-pilotos, no valor máximo de 120 mil euros, que Paulo Ribeirinha afirma utilizar, caso seja vencedor, no desenvolvimento de uma unidade com escala de interesse industrial para purificação de H2.
“A nossa candidatura ao Cleantech Camp prende-se com a necessidade de a empresa, que é bastante recente, se apresentar ao mercado, angariar mais conhecimentos a nível empresarial e criar ligações e parcerias com outras empresas”, confessa.
A Amnis Pura participa ainda no projeto “Baterias 2030” que visa a conceção e desenvolvimento de tecnologias relacionadas com novas abordagens à produção descentralizada de energia sustentável e plataformas de utilização eficiente da energia numa lógica de comunidades energéticas. O seu objetivo, enquanto empresa dedicada à purificação de hidrogénio, é a produção de uma bateria composta por este elemento químico e por um eletrolisador integrado com uma pilha de combustível, ambos de 10 kW, trabalho este que será feito em conjunto com a FEUP.