Entre o início de fevereiro e o princípio de abril, período que coincidiu com o segundo confinamento motivado pela pandemia de COVID-19, o trabalho presencial em Portugal aumentou 49%, a grande maioria dos cidadãos (90%) manifestou o desejo de ser vacinada, aumentaram os contactos fora do agregado familiar, assim como as idas à praia e a espaços verdes públicos. No mesmo período, as pessoas mais velhas deslocaram-se mais aos supermercados e aos estabelecimentos comerciais não essenciais, e as encomendas online diminuíram para menos de metade.
Os dados constam do mais recente relatório do do estudo Diários de uma Pandemia, conduzido pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), em parceria com o jornal PÚBLICO
Os resultados agora divulgados incluem as respostas de 3795 participantes, com idades entre os 16 e os 89 anos, que responderam a mais de 170 mil questionários, entre os dias 3 de fevereiro e 11 de abril de 2021.
90% dos participantes deseja ser vacinado. Subida do trabalho presencial
Perto de 90% dos participantes nos Diários de uma Pandemia manifestaram, ao longo das 10 semanas analisadas, a intenção de serem vacinados. As pessoas com mais idade e as que indicaram ter rendimentos mais elevados foram as que mais mostraram desejo de receber a vacina.
Entre o início de fevereiro e o princípio de abril, o trabalho presencial (fora de casa) subiu 49%, tendo sido mais frequente nas regiões Centro e Norte do país, assim como entre os trabalhadores com menor rendimento.
Já o teletrabalho foi mais comum na Área Metropolitana de Lisboa, entre as pessoas com 60 ou mais anos de idade, e entre as que têm maior rendimento. Durante o período em análise, houve um decréscimo global do teletrabalho em 20%.
Aumento dos contactos fora do agregado familiar
Entre fevereiro e abril, aumentou 82% (de 33% para 60%) a proporção de cidadãos que contactaram com pessoas externas ao agregado familiar (incluindo contactos profissionais) a uma distância menor de 2 metros, durante 15 minutos. Estes contactos foram mais frequentes entre os participantes com idades entre os 30 e os 39 anos e entre os residentes das zonas Centro e Norte de Portugal.
A utilização de transportes coletivos de passageiros foi globalmente baixa entre os participantes dos Diários de uma Pandemia. Esta modalidade de deslocação foi mais utilizada pelos indivíduos com menos de 30 anos e pelos que têm menor rendimento.
Por sua vez, as visitas a casas de amigos, familiares ou colegas aumentaram 50%, tendo sido mais frequentes nas regiões Norte e Centro de Portugal e mais realizadas pelos participantes com menos de 30 anos.
Ao longo das 10 semanas estudadas, observou-se um aumento dos contactos presenciais por parte dos cidadãos de todas as faixas etárias. No entanto, os inquiridos com 60 ou mais anos indicaram ter tido menos contactos presenciais com outras pessoas (em fevereiro, 24% dos mais velhos mencionaram uma total ausência de contactos presenciais).
Outro dado a destacar relaciona-se com a elevada utilização dos contactos por telefone ou Internet. Nove em cada dez respondentes dos Diários de uma Pandemia usaram estes meios de comunicação para falarem com pessoas fora do seu agregado familiar, embora os mais velhos e as pessoas com menor rendimento tenham tido menos contactos deste tipo.
Relativamente às saídas para passear ou fazer exercício físico, constatou-se que estas foram evitadas principalmente no início de fevereiro, tendo aumentado 32% até abril. Quem mais saiu para passear ou fazer exercício foram os mais velhos, os residentes na Área Metropolitana de Lisboa e as pessoas com maior rendimento. As idas à praia ou a espaços verdes públicos aumentaram para mais do dobro (de 8% para 17%), desde o início de fevereiro até 11 de abril, e foram mais frequentes entre os residentes na Área Metropolitana de Lisboa.
Vamos ao supermercado?
As deslocações aos cuidados de saúde por motivos não relacionados com a COVID-19 diminuíram 31% ao longo do mês de fevereiro, tendo depois aumentado 17% até abril, e foram mais frequentes entre os residentes da região Norte e da Área Metropolitana de Lisboa. As idas às farmácias seguiram uma tendência semelhante, apesar de terem sido mais comuns do que as deslocações a outros cuidados de saúde, principalmente entre os mais velhos.
As visitas a supermercados foram mencionadas por mais de um terço dos participantes no estudo (embora tenham sido mais evitadas a meio de fevereiro). Os mais velhos deslocaram-se mais a estes estabelecimentos comerciais, assim como os residentes na Área Metropolitana de Lisboa e os inquiridos com menor rendimento.
Por sua vez, as idas a estabelecimentos comerciais considerados não essenciais foram pouco frequentes, mas aumentaram quatro vezes entre fevereiro e abril (de 4% para 16%). Foram mais referidas pelos mais velhos e pelos moradores da Área Metropolitana de Lisboa.
Durante as 10 semanas de análise, as encomendas online diminuíram para menos de metade. As compras por esta via foram sempre mais comuns entre as pessoas com idades entre os 30 e os 39 anos e menos usuais entre os indivíduos com 60 ou mais anos.
Continue a participar nos Diários de uma Pandemia!
O estudo Diários de uma Pandemia entrou na sua segunda fase no início de fevereiro e está, desde então, a recolher informação sobre o modo como os portugueses atuam em relação a um conjunto de situações que poderão influenciar o curso da pandemia de COVID-19 em Portugal.
Para participar, basta responder ao inquérito: https://diariosdeumapandemia.inesctec.pt/