Há produtos naturais com potencial biotecnológico “escondido” em toda a parte. E é para desvendá-los que uma equipa de investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP) desenvolveu um método inovador para a descoberta de novos produtos naturais oriundos de cianobactérias, com potenciais aplicações a nível farmacêutico, mas também na nutrição ou na cosmética.
Aquilo a que chamamos de produtos naturais não são mais do que pequenas moléculas produzidas por seres vivos, tais como plantas e microrganismos. Estes compostos são utilizados pelo homem ao longo da história, estando presentes na nossa vida em diversas formas, tais como medicamentos, aditivos alimentares, inseticidas e cosméticos.
No caso da equipa de investigação em Cyanobacterial Natural Products do CIIMAR, o trabalho tem-se focado essencialmente na descoberta de novos produtos naturais provenientes das cianobactérias, um tipo especial de microrganismos que, para além de terem capacidade fotossintética, têm sido fonte de inúmeros produtos naturais.
A inovação do método proposto num estudo recentemente publicado na conceituada revista científica Angewandte Chemie International Edition prende-se com a perceção de que as cianobactérias não degradam os ácidos gordos que lhes são fornecidos.
O método consiste em “alimentar” estas bactérias com um ácido gordo marcado que é depois usado por elas para produzir compostos naturais. Ao produzir os seus produtos naturais, as cianobactérias vão incorporar neles esta marcação de tal forma que estes passam a ser possíveis de detetar por técnicas de espectrometria de massa.
“Noutros organismos, isto não funcionaria porque os ácidos gordos seriam degradados e perder-se-ia a marcação. Este método permite a deteção de novos produtos naturais de uma forma muito rápida, em cerca de três semanas”, explica Sandra Figueiredo, membro da equipa de investigação.
Tratamento do cancro é uma das aplicações
Isto mesmo ficou comprovado no potencial dos primeiros compostos descobertos pelos investigadores: “Com este novo método, conseguimos já descobrir cerca de uma dezena de novos compostos, a partir de apenas duas cianobactérias da coleção de culturas LEGEcc [do CIIMAR]”, refere Sandra Figueiredo.
Os produtos naturais descobertos no âmbito do estudo mostraram, por exemplo, ter atividade relevante na área do cancro, embora não sejam particularmente potentes. Note-se, contudo, que já há outros produtos naturais de cianobactérias a serem usados para tratar doenças oncológicas.
Mas esta é apenas uma das áreas que poderão aproveitar o potencial de novos produtos naturais com origem em cianobactérias. “No futuro, esta técnica permitirá descobrir muitos mais produtos naturais a partir destes organismos”, antecipa a investigadora..
Neste momento, a equipa já tem vários projetos em andamento resultantes do desenvolvimento deste novo método, sendo que já identificaram várias famílias novas de compostos em meia dúzia de estirpes de cianobactérias analisadas.
“Daqui para a frente, iremos analisar cerca de uma centena de estirpes da LEGEcc e esperamos reportar mais de uma dezena de novas famílias de compostos nos próximos anos” remata Sandra Figueiredo.