Como forma de assinalar o ano do centenário do nascimento do romancista, historiador, crítico literário e ensaísta Ruben A., pseudónimo de Ruben Alfredo Andresen Leitão, a Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto (MHNC-UP) e o Movimento Patrimonial pela Música Portuguesa (MPMP) sugerem um programa musical único, criado em torno da obra literária do escritor que, com a família, viveu os seus primeiros anos na casa que hoje acolhe a Galeria da Biodiversidade.

Com lançamento previsto para o dia 30 de dezembro, pelas 18h00, a partir do canal YouTube do MHNC-UP, o concerto propõe uma apresentação inédita de “Um adeus aos deuses”, título da partitura vencedora do Prémio Musa 2020, uma iniciativa do MPMP que contou com a colaboração do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto.

Com esta galardão, procurou-se distinguir a excelência musical da composição contemporânea de tradição erudita ocidental, estimulando e promovendo ao mesmo tempo a língua portuguesa como veículo expressivo. As peças apresentadas a concurso partiram de textos do escritor e foram escritas para recitação e ensemble Pierrot (flauta, clarinete, violino, violoncelo e piano).

O vencedor do Prémio Musa 2020 foi Miguel Resende Bastos, um jovem compositor portuense atualmente baseado na Alemanha.  A sua música tem como principais influências as correntes artísticas e os compositores da segunda metade do séc. XX e séc. XXI, mas também os seus professores: os compositores Dimitris Andrikopoulos, Ivo Medek, René Uijlenhoet e Robin de Raaff, com quem estudou no Porto, em Brno e em Roterdão.

As obras de Miguel Resende Bastos, com foco na relação entre música e literatura (em poesia ou prosa), foram já por duas vezes premiadas, tendo mais recentemente trabalhado em música com declamação, ópera, bem como em projetos com coreógrafos e música eletrónica e para dança.

O jovem compositor mantém uma atividade regular como flautista, atuando principalmente com grupos dedicados à improvisação livre. Faz parte do Coral de Letras da Universidade do Porto, dirigido pelo maestro José Luís Borges Coelho.

Sobre Ruben A.

Ruben A. nasceu em Lisboa a 26 de maio de 1920 e faleceu em Londres em 1975. Estreou-se em 1949 com Páginas, um misto de diário e de ficção. Seguir-se-iam o romance Caranguejo (1954) e A Torre da Barbela (1965), obra que aposta na caricatura da psicologia portuguesa. A sua atividade literária na década de 60 ficou marcada pela edição de três volumes autobiográficos, O Mundo à Minha Procura. Em 1973, publicou a sua última obra, a novela Silêncio para 4.

Em paralelo com o percurso literário, foi também professor no King’s College em Londres e funcionário da Embaixada do Brasil em Lisboa durante quase 20 anos, cargo que deixou em 1972. Depois dessa data foi administrador da Imprensa Nacional-Casa da Moeda e diretor-geral dos Assuntos Culturais do Ministério da Educação e Cultura.

No dia em que se celebrou o primeiro centenário do nascimento de Ruben A., o Presidente da República emitiu uma mensagem evocando “com saudade” o homem com quem tinha privado e o escritor por quem nutre admiração.

“Figura genial, buliçosa, inventiva, curiosa, erudita, divertida, deixou-nos livros à sua medida, e só a morte precoce e um antigo e injusto alheamento impediram que fosse adequadamente reconhecido”, acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa.