Durante os primeiros meses da pandemia de COVID-19, Clara Ramalhão andou pelas ruas da cidade do Porto. Por companhia tinha apenas a câmara fotográfica. “Deslocava-me quase que em segredo com as armas de que disponha”, por um território “árido de uma quietude inquieta”. Moveu-a a necessidade de eternizar aquele “momento dúbio e ameaçador”. Sentia-o “singular” e, pelas emoções que lhe despertou “estranhamente belo”. Entre os “bancos abandonados e as calçadas nuas” encontrou “olhares fugidios de medo e de dúvida, muitas vezes numa atitude de suplica”.

O resultado está agora aqui… A cidade do Porto como palco figurativo daquilo que se passava de forma avassaladora pelo mundo. O livro Só Neste Porto Só , editado pela U.Porto Press, reúne fotografias de um silêncio perturbador.  Coloca-nos perante um paradoxo que teima em nos surpreender: um emaranhado de ruas desertas, povoadas de ausência de vida. Empurra-nos para a fronteira da incredulidade.

A jusante desta antítese à convivialidade, um gesto de partilha e união, bem ao espírito da época natalícia em que nos encontramos: o livro está agora disponível para que todos possam usufruir e comungar desta experiência que embora comum foi, ao mesmo tempo, tão diferente para cada um de nós. Só Neste Porto Só encontra-se acessível a todos que queiram partilhar esta memória coletiva.

Sobre Clara Ramalhão

Nascida em Lourenço Marques, Moçambique, Clara Ramalhão é fotógrafa e médica de profissão. Desenvolve a sua atividade como fotógrafa desde 1997, conciliando esta com a sua ação como médica neurorradiologista.

Autora de várias publicações nos domínios das artes e da medicina, assinou várias exposições de fotografia focadas maioritariamente na sua ligação a África, Entra elas inclui-se  “A Voz da Forma“,  exposição que esteve patente na Casa Comum da Reitoria da U.Porto  entre dezembro de de 2019 e os primeiros meses deste ano.