Mães e pais que passaram pela experiência de ter pelo menos um filho muito prematuro (nascido antes das 32 semanas de gestação) apresentam lacunas no conhecimento acerca das causas e consequências da prematuridade. A conclusão é de um estudo pioneiro do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que acaba de ser publicado na revista Journal of Clinical Nursing.
“A ocorrência de um parto muito prematuro é um acontecimento perturbador para mães e pais que vivem essa experiência, com impacto a curto e a longo prazo na saúde e no bem-estar de toda a família. Estes pais reportam frequentemente a necessidade de obter informações claras e consistentes sobre o estado de saúde do seu bebé e sobre o processo de internamento, de forma a gerirem melhor a situação que estão a vivenciar”, começa por explicar Elisabete Alves, coordenadora do estudo.
“A avaliação do conhecimento sobre prematuridade de mães e pais de crianças prematuras pode contribuir para o desenho de estratégias de educação para a saúde que ajudem as famílias a gerir as situações de saúde e/ou doença de forma mais informada e autónoma”, acrescenta a investigadora do ISPUP.
O artigo agora publicado avaliou o nível de conhecimento de 196 mães e pais sobre a prevalência da prematuridade em Portugal e sobre as causas e as consequências de um parto prematuro. Os pais, recrutados através da XXS – Associação Portuguesa de Apoio ao Bebé Prematuro, responderam a um questionário online (disponível entre maio e julho de 2017).
“Esperávamos que estes pais tivessem um maior conhecimento sobre a prematuridade, porque já tinham passado pela experiência de ter um filho muito prematuro. No entanto, verificámos que apresentam várias lacunas de conhecimento sobre esta temática”, refere.
As lacunas no conhecimento sobre prematuridade
Relativamente à prevalência de partos prematuros e muito prematuros, em Portugal, os participantes apontaram uma estimativa significativamente superior à prevalência verificada no nosso país. “Esta sobrestimação poderá estar relacionada com as especificidades da própria amostra. O conhecimento de outras famílias que também passaram por esse evento, assim como um maior foco em notícias e informações sobre este tema, poderá ter contribuído para a sobrestimação da prevalência de nascimentos prematuros”, nota Elisabete Alves.
Observou-se que mais de 90% dos participantes identificaram as principais causas clínicas para a ocorrência de um parto prematuro, nomeadamente as complicações da placenta, as desordens hipertensivas da gravidez, a gestação múltipla e a restrição do crescimento intrauterino.
Contudo, mães e pais identificaram com menor frequência características comportamentais e sociodemográficas como possíveis causas de prematuridade. Note-se que apenas 24,2% dos indivíduos indicaram o baixo estatuto socioeconómico como uma das causas associadas a um parto prematuro.
“Estes resultados podem ser explicados pela elevada percentagem de partos pré-termo atribuíveis a fatores clínicos, assim como pela enfâse no estudo destes fatores na literatura oriunda das ciências da saúde”, refere.
Quanto ao conhecimento sobre as consequências de um parto prematuro, cerca de metade dos participantes identificou todas as consequências adversas mais frequentes da prematuridade. Mais de 80% dos pais identificaram as complicações cardíacas e as dificuldades respiratórias, talvez porque “representam graves situações clínicas no desenvolvimento destas crianças”, enquanto os problemas comportamentais e as dificuldades cognitivas foram menos frequentemente reconhecidos.
Em geral, mães e pais com um estatuto socioeconómico mais elevado responderam corretamente às questões sobre a prevalência, causas e consequências da prematuridade, mais vezes, do que aqueles com baixo estatuto socioeconómico.
Atuar no sentido de assegurar cuidados de saúde centrados na família
O estudo designado Prematurity-related knowledge among mothers and fathers of very preterm infants é pioneiro na avaliação do conhecimento sobre prematuridade em mães e pais que tiveram um parto muito prematuro.
“Os resultados deste artigo revelam que é necessário melhorar o conhecimento dos pais sobre a prematuridade, através do investimento na transferência e partilha de conhecimento. Compreender as barreiras que dificultam a obtenção de conhecimento adequado sobre prematuridade pode contribuir para a melhoria global da prevenção dessa condição”, nota Elisabete Alves.
O artigo sublinha a necessidade de melhorar a comunicação com mães e pais, durante e após o internamento na neonatologia. “Importa considerar a educação dos pais e a transferência de informação por parte dos profissionais de saúde como pilares fundamentais da prestação de cuidados. Estes são aspetos cruciais contemplados nas recomendações internacionais sobre cuidados integrados e centrados na família”, remata.
Participaram também no artigo Joana Matos, Mariana Amorim, Susana Silva e Conceição Nogueira.