Entusiasta de moda desde miúdo, mas com uma queda para a matemática e para a física, Tiago Ferreira da Silva, antigo estudante do Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), encontrou em Bali uma oportunidade de negócio e de realizar um dos seus sonhos: ter um projeto seu. The Flying Dutchman, uma marca portuguesa de camisas com padrões coloridos feitas a partir de tecidos reciclados, foi pensada e lançada em pleno confinamento, juntamente com um amigo, António Campos, residente em Bali.

Com o desacelerar dos negócios, tanto no Porto como do outro lado do mundo, na Indonésia, “tempo era algo que não faltava”. Era, por isso, o “timing ideal” para lançar a marca com a qual os dois empreendedores sonhavam desde 2016, altura em que fizeram uma viagem de mochila às costas pelo Sudeste Asiático e onde puderam encontrar “camisas tropicais de várias marcas locais totalmente diferentes das que habitualmente se encontra em Portugal”, como conta Tiago.

Feitas à mão a partir de uma pequena fábrica em Bali, que também produz vestuário para marcas de slow fashion australianas e canadianas, as camisas adquirem o selo de sustentabilidade através da utilização de tecidos deadstock na sua produção. Ou seja, materiais reaproveitados do que sobra de outras marcas de confeção têxtil, assim como da aplicação de botões de coco biodegradáveis.

“Desde que começámos o projeto, tentamos, em qualquer passo que damos e por mais pequeno que seja, contribuir para um futuro mais verde e circular. Adquirimos os tecidos sem poluir ainda mais o planeta, os aterros sanitários não ficam tão lotados e os nossos clientes compram uma camisa exclusiva confecionada à mão em Bali. É o compromisso perfeito!”, expressa o empreendedor de 28 anos.

Com um foco 100% direcionado para a vertente online, uma vez que a venda em loja física “é mais complexa a nível logístico”, a marca de camisas estreou-se recentemente na plataforma de e-commerce dott.pt, juntando-se, assim, à venda no próprio website ou através da página de Instagram da The Flying Dutchman.

As camisas da The Flying Dutchman são produzidas a partir de materiais reaproveitados do que sobra de outras marcas de confeção têxtil. (Foto: DR)

Da engenharia à moda

Em apenas alguns meses estava concretizado o sonho que, em 2016, ficou em stand-by, uma vez que Tiago Ferreira da Silva, na altura, trabalhava na Airbus Defense & Space, em Munique. Deixou a área da engenharia mecânica em 2019, após trabalhar dois anos na Lusospace – Aerospace Technology “em projetos de desenvolvimento de hardware para alguns dos maiores players da União Europeia da indústria aeroespacial”.

Mas, afinal, o que o levou a mudar tão radicalmente de área? Tiago explica: “Durante as minhas experiências profissionais, o que mais senti falta foi a componente de negócio. Como sempre desejei ter um projeto meu, assim que senti que tinha adquirido as ferramentas necessárias para o fazer, avancei.”

Começou por fundar a EDIS (Exclusive Designs, Inclusive Sizing), em 2019, uma plataforma que funciona como um marketplace para roupa feita à medida, através de um concurso lançado pela incubadora espanhola DEMIUM que seleciona candidatos com espírito empreendedor e competências necessárias para levantar um negócio de raiz.

“Com a criação desta primeira startup, tive a oportunidade de lidar com imensas marcas, designers e profissionais da área da moda. Aprendi imenso sobre confeção de roupa e fiquei com muita vontade de criar a minha própria marca. Sabia exatamente o que queria fazer!”, revela Tiago.

“Tirei imenso partido do conhecimento que adquiri durante o meu curso”

Ao longo de todas as experiências profissionais que teve, o seu “espírito empreendedor” e a ânsia de querer saber e aprender sempre mais mantiveram-se, nunca deixando de interligar tudo o que aprendeu durante o seu percurso académico com a área à qual se dedica desde 2018.

“Pude tirar imenso partido do conhecimento sobre materiais que adquiri durante o meu curso, em particular o comportamento mecânico de fibras metálicas, temática da minha dissertação. Os princípios de funcionamento destas fibras são semelhantes aos dos tecidos utilizados no setor têxtil.”, explica o alumnus da FEUP.

Apesar de a sua vida profissional ter dado uma volta de 180º, é impossível deixar a engenharia, já que ela lhe está no sangue. Com dois irmãos formados pela FEUP, Isabel em Bioengenharia e David em Engenharia e Gestão Industrial, Tiago sempre se viu como um “engenhocas”, que tentava constantemente “criar ou inventar coisas”.

“A maior competência que levo para a minha vida pessoal e profissional do curso que completei é a enorme flexibilidade em resolver problemas complexos a partir de uma abordagem analítica e pragmática”, constata Tiago Ferreira da Silva.