O projeto «FLAMIN-GO», do qual faz parte o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), foi recentemente financiado pela União Europeia, no âmbito de uma Ação de Investigação e Inovação (RIA), com seis milhões de euros. O objetivo do consórcio, que engloba 14 instituições de nove países, é desenvolver uma plataforma do tipo organ-on chip para mimetizar a artrite reumatoide da articulação e testar fármacos de uma forma personalizada.

A Artrite Reumatoide é uma doença crónica, autoimune e inflamatória que causa dor, edema (inchaço), rigidez e perda de função nas articulações. Caracteriza-se por uma inflamação de diversas articulações, podendo atingir e causar alterações na cartilagem, osso, tendões e ligamentos de diversas articulações. Normalmente existe um envolvimento simétrico, ou seja, afeta ambos os punhos ou ambos os joelhos. Atinge mais frequentemente os punhos e os dedos, mas pode também atingir pés, ombros, joelhos, cotovelos, ancas e coluna cervical, entre outros.

A AR afeta entre 0,5-1,5% da população nos países industrializados e em Portugal varia entre 0,8 e 1,5%. É quatro vezes mais prevalente em mulheres do que em homens e o pico de incidência nas mulheres é após a menopausa. Ainda assim, pode surgir em pessoas de todas as idades, incluindo adolescentes.

Apesar da doença não ter cura, já existem muitos tratamentos disponíveis, embora nem sempre eficazes. Clínicos e investigadores são unânimes em afirmar que é cada vez mais premente adequar as terapias ao perfil de cada um dos doentes.

“Como se fossem peças de lego…”

Foi com este objetivo de personalizar os tratamentos para a artrite reumatoide que o consórcio europeu «FLAMIN-GO» decidiu desenvolver uma plataforma que mimetiza todos os tecidos (cartilagem, tecido sinovial, sistema vascular e células imunes) atingidos por esta inflamação.

“Cada um destes tecidos estará num bloco, organizados como se fossem peças de lego, e os sensores vão captar este meio ambiente patológico (para perceber melhor a doença) e perceber como reagem os tecidos quando testamos os fármacos», explica Meriem Lamghari, líder do grupo de investigação em «Neuro & Skeletal Circuits” do i3S.

Esta plataforma, adianta a investigadora,” integra várias tecnologias, como a microfluídica, os sensores, a bio-impressão e a Imaging Mass Cytometry”. Além disso,serão utilizadas células derivadas de biopsias de pacientes com artrite reumatoide o que  permitirá  desenvolver a terapia adequada para cada paciente. Ou seja, obter uma terapia individualizada, personalizada”, especifica Meriem Lamghari. O projeto, aliás, prevê a criação de uma empresa startup para comercialização desta plataforma.

A missão do grupo de investigação português, que irá receber cerca de meio milhão de euros, é desenvolver o compartimento que mimetiza o tecido vascular em condições inflamatórias. O financiamento que vamos receber, adianta a investigadora, “permitirá contratar quatro investigadores, dois pós-doutorados e dois técnicos”.

Este trabalho articula-se com três outros projetos europeus já em curso: o «RESTORE», no qual a investigadora do i3S é a coordenadora, e que se centra no desenvolvimento de soluções baseadas em estratégias de nanomedicina para regeneração de cartilagem articular; o «PREMUROSA», que aposta na medicina personalizada para as doenças músculo-esqueléticas e envelhecimento ativo; e o «BonepainII», cujo principal objetivo é desenvolver novas terapias para a dor esquelética.