São cinco pequenas ilhas flutuantes, e já não passam despercebidas a quem passa ao largo das marinas do Terminal de Cruzeiros de Leixões e de Leça da Palmeira. Mas desengane-se quem pensa que são meramente decorativas. Neste projeto pioneiro do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR-UP) pode estar a solução para a remoção mais eficaz de poluentes da água salgada.

Nascido na sequência do trabalho de investigação com ilhas flutuantes que o CIIMAR-UP vem desenvolvendo desde 2018, este pequeno “arquipélago” é “povoado” por uma grande diversidade de materiais e espécies de plantas. E é nestas, afinal, que reside uma solução antipoluente, baseada na natureza, apoiada nos processos de fitorremediação e capaz de providenciar diversos serviços ecossistémicos.

Os desafios do projeto prendem-se precisamente na capacidade de estabelecimento das plantas em elevadas concentrações salinas e na manutenção da integridade estrutural das plataformas face às adversidades e intemperes a que as zonas costeiras e portuárias estão sujeitas.

As plantas testadas na primeira fase do projeto foram a Sarcocornia spp., Juncus spp., Phragmites spp. e a Halimione spp., estando agora também contemplada a Inula crithmoides. A seleção das espécies mais adaptadas às condições impostas é fulcral para que futuramente se possam propagar em viveiro e seja possível tê-las à disposição para esta finalidade.

A caminho da “autossustentabilidade”

Cristina Calheiros, investigadora do CIIMAR-UP responsável pelo projeto de investigação, refere que o sucesso destes protótipos tem em vista “escalar esta solução de engenharia” e assim criar “sistemas de baixa manutenção caminhando para a autossustentabilidade”.

Importantes são também as vantagens que o projeto promete trazer para os ecossistemas. “Sendo possível replicar esta solução poderemos ter brevemente marinas, que antes estavam aparentemente desprovidas de vida acima da superfície, e que passam a apresentar uma maior diversidade de ecossistemas e também um enquadramento estético bastante aprazível. Tudo isto em consonância com o normal tráfego de barcos”, nota Cristina Calheiros.

Além da sua relevância na melhoria da qualidade da água e consequente desenvolvimento do ecossistema, estas ilhas flutuantes podem ainda tornar-se excelentes locais para monitorização de bioindicadores de espécies, por exemplo de bivalves e algas, que eventualmente entrem nos Portos e que não são nativas de Portugal.

Esforço conjunto

A equipa do CIIMAR responsável pelo projeto integra também as investigadoras Ana Paula Mucha (CIIMAR/FCUP) e Marisa Almeida (CIIMAR/FCUP), mas a abrangência da investigação, só foi possível com a estreita colaboração entre o CIIMAR e a APDL- Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo e ainda de empresas como a Bluemater e a Ecolink em diferentes momentos do projeto.

A primeira fase do projeto deu já origem a uma tese de mestrado, da autoria de João Carecho, estudante da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP). Em curso está igualmente o trabalho de mestrado de Glauce Campos, realizado no âmbito do programa BYTplus do CIIMAR, financiado pela Fundação Amadeu Dias.

O trabalho das ilhas flutuantes tem também suscitado interesse além-fronteiras, nomeadamente no Brasil, estando já estabelecida uma colaboração com a Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo.