Considerado o pai das baterias de lítio, o norte-americano John Goodenough vai doar 500 mil dólares à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), com o propósito de apoiar o trabalho desenvolvido pela equipa de Maria Helena Braga, investigadora e professora da FEUP que se tem notabilizado na criação de uma nova geração de baterias sólidas.
A ligação de John Goodenough a Helena Braga teve início há quatro anos. O trabalho científico da investigadora, por diversas vezes publicado em jornais de elevado impacto e alvo de várias patentes, chamou a atenção do norte-americano que a convidou a colaborar com seu grupo de investigação na Universidade do Texas, nos EUA. Um pouco por todo o mundo, a comunidade académica tem acompanhado com particular interesse os desenvolvimentos alcançados pela equipa de Helena Braga e não é difícil perceber porquê. Falamos da possibilidade de vir a ter, muito em breve, disponível no mercado, uma bateria menos poluente, mais leve e capaz de multiplicar a capacidade das tradicionais baterias de ião de lítio, o que poderá significar uma revolução enorme na forma como armazenamos energia.
De modo a impulsionar o trabalho desenvolvido e sobretudo a convencer a indústria da verdadeira revolução que poderá estar iminente, John Goodenough decidiu fazer esta doação. Para Helena Braga, esta “representa uma honra e, ao mesmo tempo, a responsabilidade renovada de fazer melhor trabalho todos os dias, com a possibilidade de adquirir equipamento e financiar alunos que nos permitirão alcançar esse objectivo”.
Maria Helena Braga, 47 anos, publicou pela primeira vez sobre a tecnologia de eletrólitos de vidro em 2014. A principal inovação destas novas baterias é fazer depender a capacidade de armazenamento de energia não só das reações electroquímicas, como numa bateria tradicional, mas também do armazenamento electrostático como num condensador dando origem a uma bateria segura, em que não se formam “dendritos”. Estes elementos podem surgir em baterias de lítio tradicionais, que usam eletrólitos líquidos, levando a curtos circuitos internos que provocam incêndios rápidos e até mesmo explosões.
Esta tecnologia tem ainda a vantagem de poder operar em temperaturas muito baixas, outro benefício relativamente às baterias de lítio atuais. Isso poderá revolucionar todo o paradigma dos carros elétricos, por exemplo, uma vez que com estas novas baterias vão poder operar a temperaturas de -35 graus celsius.
Sobre John Goodenough
Condecorado com a Medalha Nacional da Ciência pelo presidente Barack Obama, John Bannister Goodenough, é muitas vezes considerado pela academia sueca quando chega a época do Nobel para a área da Química. É considerado o pai das baterias de iões de lítio, a invenção do início dos anos 90 que revolucionou o mundo da tecnologia e o dia de hoje, com gadgets e equipamentos eletrónicos a funcionar sem fios, em todo o lado, através de baterias recarregáveis. E por isso já recebeu vários prémios e comendas internacionais.
Aos 96 anos, continua a trabalhar na Universidade de Austin, no Texas, nos EUA. Esteve no Porto em abril de 2018, pela primeira vez, a convite da Comissão de Ligação à Indústria, para um debate sobre o armazenamento da energia no futuro.