Um estudo da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) verificou que as mulheres imigrantes em Portugal apresentam resultados menos adversos na gravidez do que as portuguesas nativas, nomeadamente, menor probabilidade de terem bebés com baixo peso ou pequenos para a idade gestacional. A explicação poderá residir no chamado “efeito do migrante saudável”.
O trabalho comparou vários fatores de risco que podem induzir complicações na gestação em mulheres portuguesas nativas e imigrantes pertencentes à coorte Geração XXI – projeto iniciado em 2005, que acompanha o crescimento e o desenvolvimento de mais de oito mil crianças da cidade do Porto.
Entre os fatores de risco analisados, incluíram-se, por exemplo, o país de nascimento da mãe, a idade com que esta deu à luz, o seu nível de educação e situação laboral, o rendimento do agregado familiar, o número de filhos, a existência prévia de gravidez gemelar e de cesariana, a presença de morbilidades durante a gravidez como a diabetes mellitus e a hipertensão e a exposição ao tabaco.
Os investigadores do ISPUP estudaram de que forma estes fatores de risco influenciavam a prevalência de complicações após a gestação, como o baixo peso ao nascimento (menos de 2,5 kg), o parto prematuro (menos de 37 semanas de gestação completas) ou o nascer pequeno para a idade gestacional (abaixo do percentil 10).
Constatou-se que, independente dos fatores de risco considerados, “as mulheres imigrantes apresentavam menor risco de terem filhos com baixo peso ao nascimento e pequenos para a idade gestacional do que as mães nativas. Por isso, o único fator que explica as diferenças nestes resultados é o país de nascimento da mãe, indicando que existe um efeito do migrante saudável – conceito que descreve a situação em que os imigrantes apresentam resultados em saúde iguais ou superiores à população nativa”, refere Musa Kana, primeiro autor do estudo, publicado na revista Journal of Immigrant and Minority Health, coordenado por Henrique Barros, investigador e Presidente do ISPUP.
O efeito do migrante saudável poderá ser explicado pelo facto de serem normalmente as pessoas saudáveis que emigram, havendo assim uma espécie de seleção no ato da migração.
“O nosso estudo reconheceu o papel preditivo do país materno de nascimento, o qual não está atualmente incluído no registo de nascimento. Isso ressalta a limitação da eficácia dos atuais indicadores de registo de nascimento, que não incluem informações vitais necessárias que possam explicar as causas dos resultados adversos da gravidez”, remata Musa Kana.
O estudo designado Adverse Pregnancy Outcomes: A Comparison of Risk Factors and Prevalence in Native and Migrant Mothers of Portuguese Generation XXI Birth Cohort é também assinado pela investigadora Sofia Correia e pode ser consultado na íntegra aqui.