Um estudo europeu liderado por Manuel Lopes-Lima, investigador do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR), e Ronaldo Sousa (Universidade do Minho) alerta para o preocupante estado de conservação dos mexilhões de água doce na Europa, com 75% das espécies classificadas com estatuto de “ameaça“.
O declínio destas espécies a nível europeu, incluindo em Portugal, decorre das diversas atividades humanas que resultam em perda e fragmentação do habitat, poluição, introdução de espécies invasoras, sobreexploração de recursos e mudanças na temperatura e regimes de caudais. Em Portugal estão descritas seis espécies ameaçadas, entre as quais a Margaritifera margaritifera (criticamente ameaçada), a Potomida littoralis (ameaçada) e a Unio tumidiformis (vulnerável), em particular pela perda e fragmentação de habitat resultante da presença de barragens e outros obstáculos.
Os mexilhões de água doce (Unionida) são responsáveis por importantes funções e serviços ambientais, como a filtração da água, intervenção nos ciclos biogeoquímicos, habitat para outras espécies associadas e fonte de alimento para níveis tróficos superiores, pelo que o seu declínio poderá gerar graves impactos em ecossistemas aquáticos.
Por outro lado, as larvas destes animais passam obrigatoriamente por uma fase como parasitas utilizando peixes como hospedeiros, o que aumenta substancialmente o seu poder de colonização, incluindo a possibilidade de dispersão para montante nos rios. Esta característica faz com que estes bivalves sejam bons bioindicadores do estado das populações piscícolas.
O estudo “Conservation status of freshwater mussels in Europe: state of the art and future challenges” publicado na revista Biological Reviews contou com a participação de mais três investigadores portugueses (Elsa Froufe, do CIIMAR; Simone Varandas, da UTAD; e Amílcar Teixeira, do IPB), num total de 49 investigadores de 26 países europeus.