
Os pais de crianças prematuras valorizam fatores como a proximidade física e emocional com as crianças e as necessidades de informação. (Foto: DR)
Para os pais que têm filhos prematuros, aprender a desempenhar o papel de mãe e de pai é a principal fonte de stress. Esta alteração revela ser mais perturbadora para os pais do que a aparência e o comportamento do bebé e do que as imagens e sons da Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIN), de acordo com as conclusões do estudo “Papéis parentais e conhecimento em Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais”, liderado por Susana Silva, investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), e financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
Segundo este estudo, mães e pais de crianças muito pré-termo valorizam a confiança e a segurança nos cuidados de saúde, a proximidade física e emocional com as crianças e as necessidades de informação, deixando para segundo plano o seu próprio conforto e suporte social. O trabalho revela também que mães e pais defendem a promoção da igualdade de género e da equidade no acesso a cuidados, identificando a necessidade de criar condições que facilitem a presença masculina na UCIN; ter pelo menos um subsídio a 100% durante o período de internamento hospitalar; incluir a prematuridade como um ponderador na fórmula de cálculo do abono de família e na extensão do número de dias do subsídio para assistência a filho; comparticipação dos leites e acesso gratuito a todas as vacinas aconselháveis para prematuros.

Susana Silva, Investigadora responsável pelo estudo.
Apesar de reconhecerem os custos elevados suportados pelo Sistema Nacional de Saúde no âmbito da prematuridade, mães e pais salientam, ainda, a necessidade de melhorar as condições físicas da UCIN e de salvaguardar a privacidade dos pais e da informação sobre o estado de saúde da criança, disponibilizando, na proximidade, quartos individuais, casas de banho e uma sala de estar com máquina de venda de comida, isolamento térmico, luz natural e um banco de leite humano. A necessidade de maior apoio pré-hospitalar, na altura da admissão à UCIN e na transferência entre unidades hospitalares, uma maior proximidade entre a UCIN e a Obstetrícia, uma “via verde” para prematuros e a extensão do período em que a equipa da UCIN pode prestar serviço de urgência depois da alta hospitalar são também preocupações dos pais.
Estes resultados ganham um impacto reforçado, dada a discussão atual em torno da conceção de políticas centradas nos cidadãos e do desenvolvimento de cuidados de saúde centrados na família no contexto das UCIN.
A propósito desta investigação, será realizado um debate sobre o desenvolvimento de cuidados centrados na família em Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais, na próxima sexta-feira, dia 17 de abril, às 14h00, no auditório do ISPUP, onde serão apresentados e discutidos os restantes resultados deste estudo realizado entre julho de 2013 e julho de 2014.
O objetivo da sessão passa por analisar as visões e experiências de mães e pais de crianças muito pré-termo hospitalizadas em Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais, relativamente aos cuidados de saúde, tendo por base os resultados do estudo que aborda: necessidades da família em UCIN e fatores associados; stress parental; perceção das barreiras e dos facilitadores ao aleitamento materno; regulação da licença de parentalidade; e propostas quanto ao desenho e organização de cuidados neonatais.
O evento contará com a presença de Carmen Carvalho, representante da Direção da Seção de Neonatologia, Sociedade Portuguesa de Pediatria, e de Henrique Barros, Presidente do ISPUP.