Aprender Anatomia com a ajuda da realidade aumentada, desvendar os segredos da Criminologia numa “viagem museológica” a partir de uma prisão simulada, ou aprender Medicina Veterinária com a ajuda dos animais dos próprios estudantes. Estes são apenas alguns dos exemplos de ensino inovador na Universidade do Porto que integram o lote de vencedores da 6.ª edição do Concurso de Projetos de Inovação Pedagógica, iniciativa que premiou, pelo sexto ano consecutivo, o que de mais inovador se faz nas salas de aula da instituição.

Ao todo são oito projetos que estão a mudar o ensino na U.Porto e que vão receber um apoio financeiro – no valor total de 10 mil euros – para um objetivo comumpromover a melhoria do ensino e aprendizagem na instituição.

Entre os projetos distinguidos destacam-se três liderados por equipas de docentes do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS). É o caso do SKILLS LAB, um modelo inovador para o ensino de procedimentos clínicos de cães e gatos, aplicado desde há dois anos na unidade curricular de Semiologia Médica de Animais de Companhia (SMAC), do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária.

Em vez de recorrer aos tradicionais cães de raça Beagle, esta abordagem mista (simulação + real) dinamizada pelos docentes Pablo Payo Puente e Ricardo Marcos propõe uma aprendizagem assente na construção e utilização de simuladores low-cost e de animais de companhia dos estudantes, durante as aulas. Os resultados apontam para uma “melhor aprendizagem” e para uma “maior motivação dos estudantes”, juntamente com uma melhoria do bem-estar animal, pela redução do número de animais mantidos em canil”.

Os animais dos futuros médicos veterinários do ICBAS também vão às aulas. (Foto: Egidio Santos/U.Porto)

Outro dos projeto premiados no ICBAS é o BioLink,  atualmente em curso nas unidades  curriculares de Engenharia Regenerativa (ER) e Ciência e Engenharia de Biomateriais (CEB), ambas lecionadas ao 3.º ano  da Licenciatura em Bioengenharia (ramo de Bioengenharia Molecular). A ideia é promover a “aprendizagem integrada de conceitos fundamentais da área da bioengenharia – nomeadamente biomateriais e medicina regenerativa – através da articulação das aulas laboratoriais” das duas UCs.

Através desta estratégia integradora, pretende-se “estimular o interesse em investigação científica e fomentar a interdisciplinaridade, essencial no sucesso da Bioengenharia”. Outra das mais-valias passa pela possibilidade de ser “estendida a outras UCs”, defende a equipa constituída pelos docentes Ana Paula Pêgo, Cristina Barrias, Diana André, Maria Inês Almeida, Meriem Lamghari, Raquel Gonçalves e Rúben Pereira.

Ainda no ICBAS, foi selecionado o projeto Realidade Aumentada para um ensino clinicamente relevante da Anatomia Humana, liderado pelos docentes Mariana P. Monteiro, Adélio Vilaça e Sofia S. Pereira. Partindo do pressuposto que “o conhecimento detalhado da Anatomia humana é uma das pedras basilares do ensino Médico”, este projeto recorre a conteúdos concebidos com recursos a tecnologia de realidade aumentada para ajudar os estudantes a “responder ao desafio de acompanhar as exigências crescentes da Medicina”.

Do ICBAS para o Teatro Anatómico da Faculdade de Medicina (FMUP), é também com recurso às novas tecnologias que José Paulo Andrade, Susana Sá, Susana Silva e Mavilde Arantes ajudam os futuros médicos a desvendar os segredos do cérebro. No caso do projeto A realidade aumentada no ensino da Neuroanatomia , a ideia é garantir ao estudante a obtenção de novas perspetivas tridimensionais do encéfalo humano a partir da “utilização de um modelo realista do encéfalo humano e de posters neuroanatómicos, ambos com capacidades de Realidade Aumentada através de aplicações especializadas em smartphones ou tablets“.

“A aprendizagem dos estudantes será, assim, efetuada com maior motivação, conduzirá a uma compreensão mais profunda permitindo a obtenção de conceitos teóricos e práticos bastante complexos, combatendo a chamada neurofobia”, apontam os docentes.

Do laboratório para a prisão

A lista dos nove projetos de ensino/aprendizagem mais inovadores do último ano na U.Porto inclui também o PHYSIO-SKILLS, em curso na unidade curricular de Fisiologia do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia (FFUP).

Focado no ensino prático do método científico aplicado à Fisiologia, este projeto liderado pelo docente Jorge Ascenção Oliveira “inova no ensino de competências para análise de dados fisiológicos”, mas também “na forma de avaliação formativa, promovendo e valorizando as competências metacognitivas que os estudantes desenvolvem”. O financiamento agora garantido permitirá ainda adquirir “um equipamento para estudo de ritmos fisiológicos, que viabilizará novos protocolos e análises laboratoriais, que também podem ser acompanhadas a distância”.

Foi igualmente a pensar na formação dos futuros cientistas da U.Porto que o investigador João Horta Belo e os docentes André Pereira, Carla Rosa e João Pedro Araújo, todos eles do Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciência (FCUP), idealizaram o projeto Expansão e Compressão de Materiais uma plataforma pedagógica transversal , no âmbito da unidade curricular “Laboratórios de Física III” do 3.º ano das licenciaturas de Física e Engenharia Física.

“Um cientista/engenheiro deve ser capaz de acompanhar o ritmo crescente das descobertas/inovações e deve conseguir fazê-lo como membro duma equipa multidisciplinar”, pode ler-se na descrição deste projeto que desafia cada turma a vestir a pele de uma equipa de investigação, ficando responsável pela identificação, gestão, organização e desenvolvimento de todas as tarefas que compõem o trabalho laboratorial realizado ao longo do semestre. Pelo caminho, procura-se “capacitar o estudante com ferramentas técnicas e organizacionais” consideradas essenciais para “um cientista/engenheiro moderno”

Mora, por sua vez, na Faculdade de Engenharia (FEUP) o projeto Monitorização das condições higrotérmicas dos espaços de ensino, que Ana Sofia Teixeira, Eva Barreira, José Carlos Alves, Paulo Gomes da Costa e Vasco Freitas conduzem no contexto de várias unidades curriculares do Departamento de Engenharia Civil e do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores. Trata-se de “um projeto pioneiro e inovador, multidisciplinar e empreendedor” no qual se procura promover “um papel mais ativo dos estudantes no ensino e aprendizagem”, transformando a sala de aula numa espécie de “laboratório vivo”.

Por fim, foi ainda distinguido o projeto expo#HCriM – Visitar histórias de crimes e penas (FDUP), desenvolvido pelas docentes Fátima Rodrigues e Miriam da Silva Pina no quadro da disciplina de História da Criminologia do 1.º ano da licenciatura em Criminologia da Faculdade de Direito (FDUP). Partindo de um exercício que desafiava os estudantes a refletir sobre os papéis dos Museus do Crime na sociedade atual, o projeto culminou numa exposição, inaugurada em novembro passado na Prisão Simulada da FDUP.

Grande parte dos projetos distinguidos foca-se na promoção das competências científicas dos estudantes. (Foto: Egidio Santos/U.Porto)

Premiar a excelência no ensino

Promovido pela Unidade de Inovação Pedagógica e Tecnologias Educativas, sediada na Reitoria da U.Porto, concurso “Projetos de Inovação Pedagógica” da Universidade do Porto insere-se no âmbito do programa Promover a Excelência Pedagógica na Universidade do Porto, que tem por objetivo promover a melhoria dos modelos educativos aplicados nos cursos e unidades curriculares da instituição.

Os projetos distinguidos, todos eles propostos e dinamizados por docentes da U.Porto, devem revelar ” uma estratégia de intervenção pedagógica consistente, refletida e fundamentada que promova o envolvimento ativo dos estudantes, o uso de recursos inovadores e a melhoria geral dos processos de ensino e aprendizagem”.

Os projetos premiados este ano,  vão partilhar um apoio monetário no valor de 10 mil euros, financiamento esse que servirá para aplicar na aquisição de equipamentos, licenças ou programas informáticos, mobiliário, serviços externos e outras ações.

Todos os projetos vencedores vão ser apresentados, publicamente, na edição deste ano do Workshop de Inovação e Partilha Pedagógica da U.Porto, que se realiza nos próximos dias 6 e 7 de abril, na Faculdade de Belas Artes (FBAUP).