Foi em 1997 que Sofia Vieira, na altura uma jovem ativista de 17 anos já com interesse em ações de responsabilidade social, decidiu ingressar no curso de Engenharia Química da Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP). Volvidos 24 anos, recorda as sábias palavras de professores que a acompanharam: “Muitas das matérias que estão aqui a aprender hoje vão-se volatilizar no tempo. O que realmente vos estamos a ensinar é a pensar”.

A luta por um mundo mais justo, seja por causas relacionadas com a sustentabilidade do planeta e do mundo animal ou ligadas à igualdade de género, sempre lhe correu nas veias, assim como o empreendedorismo.

Foi a partir da junção dos conhecimentos obtidos na faculdade com os seus valores sustentáveis que Sofia decidiu desenvolver formulações de produtos de higiene pessoal vegan. Nasceu assim a The Kind Lab, uma pequena unidade industrial em Santa Maria da Feira dedicada à produção da primeira marca portuguesa de cosméticos com o selo vegan internacional: a VeganCare.

Com um crescente aumento da procura por produtos cosméticos mais sustentáveis e, simultaneamente, a amplificação do desequilíbrio ambiental, a alumna da FEUP admite que foi impossível manter-se de braços cruzados, afirmando que “temos de estar mais à frente, atentos e focados nas inovações de que o planeta precisa para se regenerar”.

Para Sofia Vieira, que acompanha todo o processo de desenvolvimento, desde a escolha das matérias-primas provenientes de agricultura biológica à produção e controlo de qualidade, o futuro passa por continuar a fazer jus ao slogan da marca: “Connecting Beauty with Ethics”. O que significa continuar a criação de produtos com “os requisitos de sustentabilidade imperiosos ao momento atual e ao futuro das próximas gerações”, mantendo sempre um denominador comum: uma ligação ao ativismo social como contributo para um mundo mais ético e justo para todos.

Formada em Engenharia Química na FEUP, Sofia Vieira é a atual CEO da The Kind Lab, LDA. (Foto: DR)

– Naturalidade? Espinho.

– Idade? 41 anos.

– Do que mais e menos gostou na Universidade do Porto?

Gostei do facto da Universidade se situar numa das cidades mais bonitas do país, do companheirismo e união existente entre colegas, dos excelentes professores, que deixaram ensinamentos para a vida. Gostei do ambiente da vida académica, em geral.

Gostei menos da praxe, que vejo como uma tradição caduca, baseada no exercício abusivo de poder do colega mais antigo na faculdade sobre o novo colega, que está numa situação mais frágil. Acho este tipo de práticas não devia ter lugar num estabelecimento de ensino que pretende formar bons profissionais e líderes. Também não gostava da realização das garraiadas da Queima das Fitas, que felizmente viram um fim!

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

A atualização dos conteúdos dos cursos no sentido de proporcionar uma maior adequação dos profissionais formados a uma sociedade em constante mudança e com novos desafios e necessidades. Por outro lado, a abolição de tradições que já não fazem sentido, como é o caso da praxe.

– Como prefere passar os tempos livres?

Pratico ballet, gosto de passeios pela natureza e cinema.

– Um livro preferido?

Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago

– Um músico preferido?

Moby.

– Um prato preferido?

Arroz de feijão e tomate, de preferência picante.

– Um filme preferido?

A árvore da vida, de Terrence Malick.

– Uma viagem de sonho?

Costa Rica.

– Objetivo e projeto de vida?

Participar da construção de uma sociedade mais ética e compassiva.

– Uma inspiração?

Anita Roddick, uma mulher vanguardista visionária e dotada de uma inteligência e sensibilidade peculiares. Fundou a Body Shop nos anos 70 e desenvolveu a marca, levando-a aos quatro cantos do mundo. O ativismo social, ambiental e pelos direitos dos animais sempre foram estandartes desta empresa. Foi a primeira marca que se destacou das demais no mercado por ser contra os testes em animais e por lutar pelo seu fim