De mãos dadas com a inovação e de olhos postos no futuro, Pedro Aires Montenegro já deu mais do que provas do seu percurso promissor. Ligado há quase duas décadas à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, o hoje – e ainda! – jovem investigador de 36 anos tem-se destacado pelo seu trabalho no domínio da segurança ferroviária, e mais concretamente do comportamento dinâmico dos comboios, pelo qual vem somando vários prémios a nível nacional e internacional.

O CV fala por si. Em 2016, foi distinguido com o Young Researcher Best Paper Competition, atribuído ao melhor trabalho presente na conferência “Railways 2016 – Third International Conference on Railway Technology: Research, Development and Maintenance”, em Cagliari, Itália.

No ano seguinte, a história repete-se. O Prémio Inovação Jovem Engenheiro 2017, atribuído pela Ordem dos Engenheiros – Região Sul, vai para a sua investigação sobre o comportamento dinâmico de comboios sobre pontes, mais concretamente sobre a aplicação dos seus modelos no âmbito de um estudo pedido pela empresa russa de projeto de pontes Institute Giprostroymostv para a avaliação da segurança de circulação sobre a futura ponte ferroviária de alta velocidade sobre o Rio Volga.

Com o prémio de Young Researcher Best Paper Competition, atribuído no âmbito da conferência Railways 2016. (Foto: DR)

Mestre (2008) e doutor (2015) em Engenharia Civil pela FEUP, foi neste início de um ano atípico que Pedro Montenegro voltou a conquistar um prémio com uma investigação na área da segurança ferroviária, o ICCES Outstanding Young Researcher Award, desta vez avaliando o impacto das condições meteorológicas adversas na circulação de comboios de alta velocidade.

Como atual investigador nos projetos FCT Fiberbridge e H2020 In2Track2 na FEUP, o futuro de Pedro Aires Montenegro passa pela contínua aposta na descoberta de novos processos ligados à ferrovia, uma vez que se trata de “uma área que tem vindo a ganhar importância a nível nacional no que diz respeito a investimentos públicos”, como conclui.

Mas nem só da engenharia – e de comboios! – vive o homem. E o gosto de Pedro Montenegro pela vida destaca-se na sua vontade de querer fazer sempre mais, de preferência em contacto com a natureza e com o que o rodeia. Se for a correr, tanto melhor, ou não contasse já com 20 meias-maratonas e três maratonas nas pernas. Ou então de avião, onde já se imagina a voltar a percorrer os quatro cantos do mundo. A próxima paragem após a pandemia? “Talvez uma viagem pela América do Sul!”, revela. Se há fronteiras que não se fecham, são as dos desejos e dos sonhos…

o futuro do jovem investigador passa pela aposta na descoberta de novos processos ligados à ferrovia. (Foto: DR)

– Naturalidade? Porto

– Idade? 36 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Da qualidade do ensino e da investigação científica. Felizmente, os outputs científicos têm aumentado consideravelmente nos últimos anos, o que tem vindo a ajudar a Universidade a subir nos rankings. A nível menos profissional, gostei muito do ambiente proporcionado durante o curso e doutoramento que me levou a criar amizades que ainda hoje perduram!

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Da ainda falta de oportunidades dadas aos investigadores mais jovens, muito deles reconhecidos internacionalmente, tanto ao nível de carreira científica como docente. É importante pensar numa visão estratégica de curto/médio prazo que envolva uma dinâmica de investigação com impacto internacional, na qual os jovens tenham um papel cada vez mais fulcral. Para isso, e de forma a assegurar o sucesso no futuro da Universidade do Porto, é essencial aprofundar os vínculos destes investigadores com a instituição.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Aumentar a visibilidade da Universidade através de iniciativas presenciais e virtuais de forma a exponenciar as colaborações entre esta e a indústria. Em termos de investigação, a Universidade tem de apontar para a investigação base, essencial para a evolução natural da Ciência, mas também para a investigação aplicada de forma a contribuir de forma direta para a economia nacional.

– Como prefere passar os tempos livres?

Infelizmente a pandemia veio a mudar muitos hábitos. No entanto, nos tempos em que era permitido (que espero que voltem em breve), adorava fazer uns jantares, mais ou menos mensais, com o “círculo duro” de amigos, muitos deles ainda dos tempos do curso de Civil 2002-2008. A nível de desporto, o meu hobby principal é a corrida! Adoro participar em corridas, especialmente meias-maratonas (já tenho 20 no “CV”) e maratonas (apenas 3 ainda). A nível mais pessoal, não dispenso a brincadeira com os meus dois filhos de 4 e 2 anos! E claro…viajar! Mas, uma vez mais, a pandemia não veio ajudar.

Apaixonado pelo Running, Pedro Montenegro soma dezenas de medalhas pela participação em corridas. (Foto: DR)

– Um livro preferido?

1984, de George Orwell.

– Um disco/músico preferido?

OK Computer, dos Radiohead.

– Um prato preferido?

Comida portuguesa: Polvo à Lagareiro. Comida estrangeira: Ramen!

– Um filme preferido?

Padrinho I e II (não consigo dizer qual deles o melhor). Já em termos de “filme de culto”, os Indiana Jones, sem dúvida!

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)?

Fiz um intercâmbio no Japão de 5 meses durante o meu doutoramento. Esta era, sem dúvida, uma das viagens de sonho que já está concretizada (aproveitei ainda para ir à China e Coreia do Sul na altura).

Perto da fronteira entre as duas Coreias (2013). (Foto: DR)

– Um objetivo de vida?

A nível profissional, deixar a marca como investigador e dar um contributo para a melhoria da ferrovia em Portugal, que tanto precisa. A nível pessoal, diria que fazer os possíveis para dar aos meus filhos a orientação necessária para que tenham sucesso a nível pessoal e profissional.

– Uma inspiração?

Mesmo sabendo que pode ser visto como um cliché, diria que Nelson Mandela foi provavelmente uma das personagens mais inspiradoras da História recente. Já se tiver de pensar em alguém da Universidade do Porto que me tenha inspirado profissionalmente, diria o Professor Raimundo Delgado. Tive excelentes professores ao longo do meu percurso académico, mas diria que este se destacou na forma motivante com que dava as aulas de Estruturas. Infelizmente, partiu cedo demais, pouco após a sua jubilação.