Pergunte-se a José Domingues de Almeida sobre o seu livro, músico ou filme preferidos, e a escolha recai quase sempre num autor francófono. O cozido à portuguesa é, de resto, a exceção que confirma a regra natural no “top” deste professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, homenageado em maio passado com as Palmas Académicas atribuídas pelo Estado Francês, galardão que reconhece o seu  contributo ativo para a expansão da cultura e língua francesas em Portugal.

Em jeito de auto-retrato, José Domingues de Almeida acredita ser um “ator incansável na promoção do francês, e do pensamento em francês em Portugal”. A começar pela FLUP, “onde os Estudos Franceses revelam muito dinamismo, chegando mesmo a dominar, a meu ver, esta área científica na Universidade portuguesa”, salienta.

José Domingues de Almeida doutorou-se na FLUP no ramo de Conhecimento em Literatura (Literatura Francesa e Francófonas Contemporâneas) e é docente na instituição desde 1987.

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Da sua coerência e perfeito enquadramento na forma de ser e viver da cidade do Porto como um todo: um misto de trabalho, exigência e vontade de estar à frente.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

De uma certa tendência para « empresarializar » a instituição e suas metas, desvalorizando as relações interpessoais, e não assumindo a componente humanística do saber e do saber-fazer; uma tendência nacional, de resto.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Incentivar o convívio e a partilha entre docentes intra-UP; um « Erasmus cá dentro »; o que aliás já ocorre com a experiência de excelência De par em par. Na FLUP, salientaria a importância do lanche de Natal, momento raro e rico de confraternização num contexto tão adverso. Precisamos de momentos assim.

– Como prefere passar os tempos livres?

Raramente são « livres ». Mas confesso que, para além da leitura, gosto de não fazer nada, ficar a ver um documentário. Mas, rapidamente, volto para o computador. Os deveres académicos (aulas, correções, publicações e colóquios), para além da componente propiamente burocrática da profissão, a isso obrigam.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)?

Gostava muito de ir à Etiópia (igrejas de Lalibela)… Já realizada: a antiga cidade de Éfeso na Turquia.

– Um livro preferido?

“La Traversée de l’Afrique”, de um escritor brilhante; o belga Eugène Savitzkaya.

– Um disco preferido?

Cresci a ouvir os ABBA… « The winner takes it all» ainda mexe comigo. Na música francesa contemporânea, gosto da irreverência das letras da Mylène Farmer, da mensagem do slam de qualidade, ou da voz rouca e potente da Patricia Kaas.

– Um prato preferido?

Cozido à portuguesa, claramente.

– Um filme preferido?

Vários. “Des dieux et des hommes” (invasão de um discurso de fé autêntica no nosso ambiente secular e sem esperança); “Babel” (caleidoscópio multicultural) e “Apocalypto” (leitura politicamente incorreta dos vencidos da História).

– Uma inspiração?

As palavras das pessoas verdadeiramente inteligentes e das que sofrem mesmo.

– Um objetivo?
Ser « alguém », poupando danos colaterais.