“O meu coração sempre balançou entre a Medicina e a Arquitetura”. Embora a vocação profissional tenha levado Alexandra Matias a optar pela primeira opção, o interesse e o fascínio pelas artes têm acompanhado desde sempre o percurso desta professora associada da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).
Após a conclusão da licenciatura em Medicina na FMUP, em 1988, a transição para a prática clínica no hospital levou a futura médica obstetra a encontrar o tema que ainda hoje lhe desperta grande curiosidade: os gémeos monozigóticos. Considerados como uma fonte de inspiração artística e cultural ao longo da História, terão sido características como a raridade e a dimensão mística e mágica que fizeram deste tema a sua “paixão” profissional.
Na verdade, foi já depois do doutoramento (2000) e agregação (2007) em Medicina Fetal que Alexandra Matias partilhou com a comunidade científica um artigo onde, de forma algo provocatória, chamava a atenção para as várias diferenças entre os gémeos “ditos” idênticos. Recentemente, a autora voltou ao assunto e editou uma obra internacional que reúne a visão de diferentes especialistas sobre o tema.
No seu curriculum, Alexandra Matias contabiliza mais de 15 prémios e bolsas científicas, e mais de 240 artigos assinados em diversas revistas nacionais e internacionais. A par de uma intensa atividade nas áreas da docência e da investigação, integrou e presidiu diversas sociedades científicas, como a Associação Portuguesa de Diagnóstico Pré-natal e a Sociedade Iberoamericana de Diagnóstico e Tratamento Pré-natal.
Das influências da cultura italiana à inspiração que vai buscar a festivais de música e de literatura, Alexandra Matias tem o objetivo de “manter a vida viva e intensa em cada dia.” E prova de que as duas áreas andaram sempre lado a lado durante o seu percurso, confessa-se uma apoiante da ideia de uma Medicina apoiada pela Arte, com o objetivo de enriquecimento curricular e de formar melhores médicos.
Naturalidade? Porto
Idade? 55 anos
De que mais gosta na Universidade do Porto?
As várias iniciativas no sentido de procurar colaboração com instituições estrangeiras e abertura da U.Porto a estudantes estrangeiros. A diversidade traz sinergias.
De que menos gosta na Universidade do Porto?
Dificuldade operacional de estabelecer projetos interinstitucionais a nível nacional.
Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?
Arranjar uma forma mágica de que a arte permeasse toda a atividade científica da Universidade. A arte faz melhor ciência.
Como prefere passar os tempos livres?
Viajar sem destino e para todos os destinos.
Um livro preferido?
Il resto di niente, de Enzo Striano
Um disco/músico preferido?
Orfeu e Euridice, de Gluck
Um prato preferido?
Linguini com parmesão e trufa no Stendhal, em Milão
Um filme preferido?
Il postino, de Massimo Troisi
Uma viagem de sonho?
Quénia, de Watamu a Masai Mara (felizmente realizada há 1 ano)
Um objetivo de vida?
Não perder a capacidade e o engenho de manter a vida viva e intensa em cada dia.
Uma inspiração?
Hay Festival (Cartagena) e Festival de Ópera (Glyndebourne)
O projeto da sua vida…
Terão de ser sempre muitos. Em termos pessoais, a primazia da família. Em termos profissionais, fazer com que o uso do ducto venoso, que propus ao mundo há 20 anos para melhorar o rastreio de cromossomopatias e cardiopatias no feto, chegue a cada vez mais grávidas em todo o mundo.