Orgulhosa das suas raízes, bairrista até (ou não fosse uma mulher do Norte!), mas apaixonada pela aventura dos novos lugares e das novas pessoas, quis o coração, e também a razão, que o destino de Sofia Sá acabasse por ser a Bélgica, mais especificamente Leuven, onde vive, e Bruxelas, onde trabalha.
Comunicadora por natureza e por formação (é licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade do Porto e pós-graduada em Comunicação Empresarial pela Porto Business School), Sofia é hoje community manager no Centro de Investigação Comum da Comissão Europeia. Há quatro anos longe de Portugal, nunca deixou de estar perto da Universidade. “Tenho até um cachecol da U.Porto no meu gabinete e no ano passado estive presente no primeiro encontro de Alumni Benelux”, afirma.
As origens portuguesas estão sempre com ela. É dos que lhe são mais próximos que tem mais saudades, e da distância física em relação aos seus que mais se ressente. Apesar disso, não é uma opção voltar para Portugal pois são já fortes os alicerces que a agarram à Bélgica. Vai matando saudades com as conversas por telefone, com os livros de autores portugueses e com os restaurantes lusos que encontra em terras flamengas.
– O que te motivou a ir para Leuven, Bélgica?
Razão e emoção trouxeram-me para a Bélgica em 2016.
Estava há dois anos a viver longe do meu namorado (eu no meu país natal e ele no dele – Bélgica) quando decidimos que um de nós teria de se mudar. A escolha foi fácil! A Bélgica oferece mais oportunidades de emprego do que Portugal. Uma aventura profissional fora de Portugal vinha mesmo a calhar pois, infelizmente, estava a sentir-me profissionalmente estagnada e com poucas possibilidades de progressão na carreira.
– Como foi a adaptação?
Cheguei no princípio do outono o que tornou a adaptação mais “sombria”. No entanto, como já tinha vivido fora de Portugal duas vezes, primeiro no Brasil (Rio de Janeiro) para um intercâmbio universitário e, posteriormente, no País de Gales para estudar inglês e trabalhar, mudar de país não me assustava e a adaptação foi rápida. Já para não falar que trazia o “calo” do “mau tempo” do Reino Unido…
A língua não foi um problema – Tanto Bruxelas como Leuven são cidades extremamente internacionais e, por isso, ainda que o meu francês fosse muito arcaico e o meu holandês não-existente, o inglês era quase sempre bem-vindo.
No primeiro ano fiz muitos amigos, pois o estágio da Comissão Europeia (meu primeiro trabalho na Bélgica) teve uma vibe de ‘Erasmus a trabalhar’. Em geral, o ambiente de trabalho nas instituições europeias é muito agradável (pelo menos é o que me diz a minha experiência). Há sempre uma cerveja, um bar, uma conversa depois de um dia de trabalho :).
– Como surgiu a oportunidade de trabalhar num organismo da Comissão Europeia?
Estava à procura de trabalho na Bélgica já há algum tempo, sem sucesso, e percebi que o mercado era mais competitivo do que aquilo que eu inicialmente tinha imaginado. Apesar de já ter anos de experiência, decidi candidatar-me a um estágio na Comissão Europeia. Em setembro de 2016 estava a mudar-me para Leuven e a começar o estágio na Executive Agency for SMEs da CE. (Recomendo estes estágios vivamente!!).
Hoje em dia trabalho no Centro Comum de Investigação da CE como community manager.
– De que forma a Universidade do Porto teve impacto no teu percurso?
Quer a licenciatura em Cências da Comunicação, quer a pós graduação na Porto Business School foram cruciais para a minha carreira. A abordagem prática de ambos os cursos foi uma enorme vantagem na minha formação enquanto profissional e pessoa.
Alguns dos professores que cruzaram o meu caminho, como a Amélia Brandão ou o Vasco Ribeiro foram também importantes para as minhas escolhas profissionais (embora eles não o saibam). Nunca, até hoje, deixei de estar perto da U.Porto e tenciono levar o nome da universidade onde quer que vá. Tenho até um cachecol da U.Porto no meu gabinete e no ano passado estive presente no primeiro encontro de Alumni Benelux.
– O que é que gostas mais na Bélgica, em geral. E menos?
O que gosto mais – O chocolate, as batatas fritas e a cerveja (os ícones da cultura belga)!
Gosto muito que quase todo o comércio seja de rua (aqui não há a cultura de shoppings) e do facto de toda a gente ter bicicleta e se movimentar de uma forma super ecológica.
As oportunidades de trabalho que posso encontrar por cá e o estilo de vida que estas me permitem ter são dois fatores de peso, quando penso o que me mais me agrada aqui. Desde que me mudei para cá, estou estável financeiramente, o que me permite ir a casa, ao meu Porto, com bastante frequência e também viajar para explorar lugares onde nunca estive.
O que gosto menos – Há uns anos diria o mau tempo, mas o frio daqui é menos húmido, mais suportável e todos os lugares fechados (incluindo os transportes públicos) são aquecidos. Sendo assim, acho que o que menos gosto é a distância a que a Bélgica está de Portugal. Muitas vezes invejo os meus amigos alemães que “se põem em casa” com muita facilidade.
– Um conselho para quem visita Leuven/Bruxelas?
Em Bruxelas diria para evitar o óbvio, como o Manneken Pis (totalmente desinteressante na minha opinião) e explorar zonas como Sainte-Catherine (obrigatório comer uma “bouillabaisse” – sopa/guisado de peixe – no Noordzee) ou passear por Bois-de-la-Cambre num dia solarengo de outono. Para quem quer atividades mais culturais, uma visita ao House of European History vale muito a pena.
Se a ideia for party all night, recomendo L’Archiduc ou Madame Moustache.
Um ou dois dias para visitar Bruxelas é suficiente…depois é só apanhar um comboio para Leuven (Lovaina) e em 20 minutos chega-se à cidade flamenga mais conhecida pela sua universidade, onde eu vivo. É uma cidade repleta de diversidade cultural! Em Leuven diria que é obrigatório visitar a biblioteca da universidade e caminhar pelo centro e pelas suas praças. Se a visita for no verão, uma passagem pelo jardim botânico é obrigatória – muito pequenino mas muito charmoso.
– Do que é que sentes mais falta em Portugal?
Da família e dos amigos, sem dúvida nenhuma (nem preciso dizer mais). Sinto também muita falta do mar e da praia (até com nortada).
A comida é também um forte nosso e não podia deixar de mencionar a minha saudade dos pratos portugueses. No entanto, Bruxelas tem uma grande comunidade portuguesa e por isso é fácil encontrar pastéis de nata, bacalhau, alheiras,… Mas não há nada como comer estas iguarias em casa, principalmente um peixe fresco na brasa J
Tenho imensas saudades de falar a minha língua e por isso faço chamadas telefónicas e troco mensagens de voz com os meus pais e amigos com muita frequência. Faço também um esforço para ler livros de autores portugueses.
– Pensas voltar para Portugal?
Não é de todo uma opção, pois neste momento tenho uma carreira profissional aqui que não pretendo abandonar e a minha vida pessoal, que também já se enraizou por estes lados.
Mas nunca digo nunca e o meu amor por Portugal, pelo Porto (e já agora, Vila Nova de Gaia, de onde sou natural) e pelos Portuenses é tão grande que se algum dia surgir uma irrecusável oportunidade de trabalho, pode ser que regresse.