Liliana Duarte iniciou o seu percurso académico nas Ciências, mas rapidamente percebeu que era a Engenharia o seu caminho. Mestre em Engenharia Metalúrgica e de Materiais pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e doutorada em Ciências pela Eidgenössische Technische Hochschule (ETH) em Zurique, vive na Suíça há já quase 15 anos, mas não esquece nunca as suas origens: o Porto, mais precisamente a pequena aldeia de Sarnada, em Paredes.

Apesar de não fazer parte dos planos de Liliana viver fora de Portugal, a vida acabou por se encarregar de alinhar o seu caminho nessa direção. Até porque foi ‘parar’ a Zurique, cidade que tão bem conhecia por lá passar as férias da escola desde os 5 anos.

Verdadeiramente apaixonada pelo trabalho que desenvolve, a também embaixadora Alumni FEUP na Suíça elogia a “organização suíça” e aponta a neve como o que mais e menos gosta naquele país. E explica porquê: ” Nós, portugueses, não estamos nada preparados para a neve e nem para o gelo. Mas sem dúvida que quando neva fica uma paz incrível!”.

Mas mesmo longe da terra natal há quase 15 anos, e apesar de ter formado família na Suíça, as saudades da família e amigos que ficaram em Portugal “são sempre muitas”. “Sinto falta do mar, do cheiro do mar, do peixe maravilhoso… do cheiro a café…”, confessa Liliana. Por isso mesmo, “é claro que penso em voltar, mas na minha vida as oportunidades foram surgindo e por isso fui ficando. Tal como aconteceu com a oportunidade de vir para a Suíça, talvez num futuro próximo apareça a oportunidade de regressar para Portugal”.

Liliana com a família, que constituiu durante a sua “estadia” em Zurique. (Foto: DR)

– Como surgiu a oportunidade de ir para a Suíça?

A oportunidade de vir para o estrangeiro surgiu no final do 4.º ano da minha licenciatura de Engenharia. Surgiu a possibilidade de realizar o estágio e a tese do 5°ano no Laboratório de Texturas de Materiais em Metz (LETAM) em França. A decisão foi imediata pois tinha muita curiosidade para conhecer outras Universidades e outros laboratórios. No final do estágio o meu orientador do laboratório em França ofereceu-me a possibilidade de ficar por lá para fazer o doutoramento. No entanto, eu sempre tive vontade de contribuir e trabalhar no meu País e por isso não aceitei e regressei a Portugal. Mas este professor disse-me logo… ainda vais fazer o doutoramento!

Dois anos mais tarde tive, novamente, a oportunidade de fazer o doutoramento e, desta vez, num país que eu já conhecia muito bem. Coincidências das coincidências: era para a Suíça, mais propriamente Zurique, cidade onde tive a oportunidade de fazer férias de verão desde os meus 5 anos porque tinha lá familiares!

A posição de doutoramento era na ETH de Zurique, na Suíça, e o tema era sobre ligas intermetálicas, que já tinha sido o meu estudo em França.

Fiquei a conhecer esta oportunidade, através de um professor do departamento de Metalúrgica e de Materiais (DEMM-FEUP) pois ele estava envolvido num projeto Europeu e teve acesso a essa informação sobre o doutoramento. Enviei o meu CV e fui imediatamente chamada para a entrevista na Suíça. Todo o processo demorou menos de 2 meses. E desde então que estou na Suíça.

– De que forma a Universidade do Porto teve impacto neste processo?

A Universidade do Porto teve uma importância fundamental na minha formação. Apesar de ainda não ter o reconhecimento que lhe é merecido, podemos ver que é uma instituição com prestígio e reputação. Falando das duas instituições que frequentei [para além da FEUP, Liliana Duarte frequentou ainda o curso de Física e Matemática aplicada na Faculdade de Ciências], posso dizer que temos excelentes professores com uma excelente reputação também no estrangeiro.

– O que a motivou a ir para fora?

Sinceramente, eu nunca desejei ou sequer planeei vir para fora. A oportunidade de vir surgiu quase naturalmente e aí tive curiosidade de ver outros laboratórios, outras formas de trabalhar, outras culturas. Quando tive a oportunidade de vir para a ETH de Zurique ainda hesitei um pouco (ou melhor muito… as saudades da família e amigos pesaram e pesam muito…), mas acabei por decidir vir para enriquecer o meu CV e ter a oportunidade de ver como é o ensino e a investigações noutro país.

– Há quanto tempo está fora de Portugal?

Já estou fora há uma eternidade… :-)! Para quem só queria fazer o doutoramento e regressar ao seu país. Vim para a Suíça em novembro de 2005, por isso faz exatamente este ano 14 anos. Mas o que é certo é que estes 14 anos passaram mesmo muito rápido.

– Como foi a adaptação?

A minha adaptação à Suíça foi relativamente fácil, tendo em conta que eu conhecia muito bem a Suíça, em especial Zurique, pois tinha cá família, os meus padrinhos. Desde muito nova que os visitava nas minhas férias escolares, o que me proporcionou um contacto muito precoce com a cultura Suíça, assim como com as tradições e a língua suíço-alemão (que é um dialeto). Em Zurique, a língua oficial é o alemão, língua que nunca aprendi na escola e, por isso, esta foi sem dúvida a parte mais difícil. Contudo, tanto no trabalho, como no dia-a-dia o Inglês é usado com muita frequência, o que amenizou a adaptação ao país.

Os costumes/tradições Suíços não são muito diferentes dos nossos, mas claro que há diferenças! Uma das tradições que tive oportunidade de aprender com os meus filhos foi a procissão das velas com nabos decorados (Räbeliechtli). Este evento decorre sempre na altura do S. Martinho mas em vez de castanhas assadas e de vinho, come-se Brezeli (pão) e bebe-se Punch (bebida de fruta quente). Cada criança leva um nabo decorado que serve de lanterna para iluminar o caminho e durante a procissão cantam canções típicas daqui.

Filho mais velho de Liliana a fazer os nabos para o “Räbeliechtli”.

– O que gosta mais? E menos?

O que mais gosto é de ver a neve e de ver nevar. Mas também é o que menos gosto pois traz muitas complicações no trânsito e à condução. Nós Portugueses não estamos nada preparados para a neve e nem para o gelo. Mas sem dúvida que quando neva fica uma paz incrível!

A nível profissional, o que mais gosto é da organização suíça e de como as Universidades/Institutos e mesmo empresas estão equipadas. Temos um elevado nível de equipamentos à nossa disposição, o que facilita o nosso trabalho. De salientar que o valor de financiamento para projetos é também muito mais elevado quando comparado com o que as Instituições portuguesas recebem, ou têm à sua disposição.

“A nível profissional, o que mais gosto é da organização suíça e de como as Universidades/Institutos e mesmo empresas estão equipadas”, destaca a embaixadora Alumni FEUP. (Foto: DR)

– De que sente mais falta? Pensa voltar a Portugal?

O que sinto mais falta…. posso dizer…. que de tudo. Temos um país incrível, com um clima excelente, uma gastronomia sem igual e os portugueses sabem receber tão bem!

Mas o que mais falta me faz e a minha família e amigos, as saudades são sempre muitas… sinto falta das nossas festas familiares e da nossa alegria. Sinto falta do mar, do cheiro do mar, do peixe maravilhoso… do cheiro a café.

É incrível, o que sentimos falta quando estamos fora do nosso país… há coisas que nem se conseguem explicar!

Quanto a voltar, é claro que penso em voltar, mas na minha vida as oportunidades foram surgindo e por isso fui ficando. Tal como aconteceu com a oportunidade de vir para a Suíça talvez num futuro próximo apareça a oportunidade de regressar para Portugal.

Quando tomei a decisão de vir para a Suíça, viemos dois, eu e o meu marido, mas agora no regresso já somos quatro, já nasceram aqui dois filhos.

– Um conselho para quem visita Zurique?

Zurique é sem dúvida uma cidade a visitar, é uma das maiores cidades do país. Para além disso a sua localização na parte central da Suíça é excelente para visitar outras partes do país e, para quem for amante da neve e das montanhas, é um ponto estratégico. Em Zurique existem vários museus e a rua principal, também conhecida como a rua mais cara do país, é sempre o ponto principal a visitar: a Bahnhofstrasse de Zurique. Na altura do Natal esta rua fica ainda mais bonita com a iluminação, com os mercados natalícios (Weihnachtenmarket) e a “Singing tree”.

Bahnhofstrasse de Zurique

Árvore de Natal Swarovski, dentro da Estação principal de Zurique

Zurique tem também igrejas que vale muito a pena visitar tais como:

Igreja Grossmünster , um dos principais símbolos da cidade de Zurique e possui duas torres. No seu interior tem os vitrais muito bonitos.

Igreja Saint Peter,  construída no século XIX possui o maior relógio em torre de toda a Europa.

Igreja do pregador (Predigerkirche) e Fraumünster

Para além das igrejas, museus e das lojas de chocolates, passear junto ao lago de Zurique é um passeio maravilhoso. Ou então subir a um dos altos de Zurique e apreciar a vista sobre a cidade do alto de Uetliberg.

O grande conselho que dou a quem visita a cidade e mesmo o país é de se deslocar de transporte públicos. A Suíça tem um dos melhores sistemas de transportes públicos e as ligações entre autocarro, comboio, metro, barco e mesmo os teleféricos é muito boa possibilitando assim viajar de uma forma cómoda e prática. ”