Já mergulhou na Grande Barreira de Coral, viu tartarugas marinhas a nascer, nadou com baleias e tubarões, acampou com cangurus, e assistiu a uma ópera na icónica Opera House. Ana Rita Barreiros soma, desde 2013, experiências internacionais ímpares, a par da carreira de investigação que está a desenvolver fora de Portugal.
Mestre em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da U.Porto (onde ingressou em 2007), Ana Rita Barreiros está fora do país há seis anos. Tudo começou como uma experiência de voluntariado no Equador. Mas rapidamente se tornou mais do que isso. Hoje está em Sydney, na Austrália, onde é coordenadora de dois projetos de investigação no prestigiado The Westmead Institute for Medical Research. Mais recentemente, recebeu uma bolsa de Doutoramento.
Apesar das saudades da “família e dos amigos de longa-data”, a jovem de 30 anos continua a viver o sonho australiano. Tanto que, hoje, não prescinde de “viver a 2 minutos a pé da praia, do bom clima, da cultura de trabalho flexível”.
– Como surgiu esta oportunidade de partir para a Austrália, a terra dos cangurus?
Três anos depois de viver na América do Sul, e com a bagagem cheia de energia e motivação para aprender mais, decidi que era tempo de mudar. Descobri que era elegível para um visto que me permitia trabalhar na Austrália durante um ano (que se chama Work and Holiday). Concorri e consegui. Daí a conquistar a posição de trabalho que tenho hoje, foi um passo. Hoje estou com um visto profissional, patrocinado pela empresa onde trabalho.
– De que forma a Universidade do Porto teve impacto neste processo?
Sem dúvida que a formação que obtive através da minha jornada na Universidade do Porto foi muito rica, não só no campo académico, mas também a nível de desenvolvimento pessoal. As oportunidades que a Universidade me proporcionou – tal como o programa de estágios da AIESEC, ou o programa de mobilidade Erasmus – ajudaram-me a desenvolver a confiança e as competências necessárias para ser bem-sucedida numa entrevista de trabalho, numa reunião ou num café com colegas. Aprendi a comunicar, independentemente do idioma. E isso é essencial para viver no estrangeiro.
– O que a motivou a ir para fora?
A falta de reconhecimento profissional. Para mim era – e continua a ser – inaceitável trabalhar sem receber um salário e sem perspetiva de progressão e estabilidade. Principalmente na área da investigação científica, em que não existia – nem existe ainda – um programa estabelecido de carreira de investigador. Eu, claramente, disse “não” à precariedade.
A curiosidade e o interesse por outras culturas foi outro dos principais motivos que me levaram a explorar além-fronteiras. Sempre quis desafiar a minha capacidade de aprender mais, de conhecer mais e de me adaptar a outros contextos.
– Há quanto tempo está fora de Portugal?
Desde 2013, quando me mudei para o Equador – já lá vão 6 anos! Na Austrália estou há dois anos e meio.
– Como foi a adaptação?
Ótima. Eu estava muito segura do passo que estava a dar, e preparei-me bem para o que ia encontrar (em todos os países onde cheguei).
No Equador, em particular, a AIESEC teve um papel essencial na minha adaptação. A rede internacional funciona muito bem: fui muito bem recebida pelos membros da AIESEC da cidade acolhedora (que me ajudaram imediatamente com opções de alojamento, mostraram-me a cidade, etc.). Os membros da secção da Universidade do Porto acompanharam, sempre de perto, o meu processo e ajudaram em tudo o que precisei. A adaptação cultural foi mais desafiante, mas era precisamente esse o motivo pelo qual eu estava lá. Correu tudo tão bem que um projeto de três meses se estendeu por 3 anos!
A adaptação à Austrália foi muito mais suave. A sociedade é muito funcional e organizada, e baseia-se em pressupostos muito semelhantes aos da Europa. Sydney é uma cidade com muita imigração, e por isso está muito bem preparada para receber estrangeiros.
– O que gosta mais? E menos?
Adoro a qualidade de vida que é possível ter aqui. Já não prescindo de viver a 2 minutos a pé da praia, do bom clima, da cultura de trabalho flexível, do poder de compra e dos salários justos, da segurança, da organização. O que gosto menos é do sistema burocrático de imigração – têm um sistema muito restritivo e é muito difícil conseguir a residência permanente e estabilidade.
– Um conselho para quem visita Sydney?
Apreciem a Natureza que rodeia e preenche a cidade.
– Principais experiências no Equador e agora na Austrália?
Quando cheguei ao Equador, era voluntária num projeto de intervenção comunitária da AIESEC. No final de três meses, aceitei a proposta de trabalhar profissionalmente nessa mesma instituição, por um ano. Fui, depois desse ano, convidada para trabalhar como docente de Neuropsicologia em duas Universidades. Durante o período em que trabalhei como docente, fui também promovida a Coordenadora de Investigação da Faculdade de Psicologia, e apresentei os resultados dos nossos projetos em várias conferências nacionais – numa das quais ganhei o prémio de melhor apresentação oral.
Na Austrália, comecei a trabalhar como docente auxiliar (a que lhe chamam “Tutor”), em duas Universidades privadas. Foram experiências muito enriquecedoras, que me permitiram integrar e conhecer como funciona o sistema académico neste país. Seis meses depois comecei a trabalhar como investigadora num instituto de investigação médica da Universidade de Sydney, onde continuo a trabalhar. No decorrer destes dois anos, já fui promovida a coordenadora de dois projetos de investigação, ganhei um prémio pela apresentação dos resultados de um dos estudos que estou a liderar, fui nomeada pelo instituto para patrocínio do meu visto profissional e ganhei uma bolsa de doutoramento. Estou a aprender imenso e valorizo muito a confiança que a minha equipa e instituição depositam em mim.
– E a nível pessoal…
Poder proporcionar experiências às pessoas de quem mais gosto, é das coisas mais gratificantes que posso fazer na vida. Viver aqui já me permitiu levar a minha família e amigos a mergulhar na Grande Barreira de Corais, voar num helicóptero sobre o pacífico, ver tartarugas marinhas a nascer, nadar com baleias e tubarões, acampar com cangurus, assistir a uma ópera na icónica Opera House… e a lista poderia continuar.
– De que sente mais falta? Pensa em voltar a Portugal?
Sinto falta das pessoas mais importantes da minha vida: a minha família e os meus amigos de longa-data. Contudo, não penso voltar a viver em Portugal nos próximos anos – ainda tenho muitos objetivos por cumprir por cá.