Steeve Lima, estudante do Programa Doutoral em Biologia Molecular e Celular do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto, atualmente ligado ao grupo «Bioengineering & Synthetic Microbiology», do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da U.Porto (i3S), foi distinguido com uma Young Investigator Scholarship no Meeting anual da Sociedade Internacional de Vesículas Extracelulares (ISEV), que decorreu entre os dias 20 e 22 de julho, em Filadélfia (EUA).

Licenciado em Biologia (2013) e mestre (2015) em Biologia Celular e Molecular pela Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP), Steeve Lima vem estudando, no i3S – onde está desde janeiro de 2018 -, as vesículas extracelulares produzidas por um grupo muito especial de bactérias Gram-negativas – as cianobactérias. A sua particularidade, explica, “vem do facto de serem fotoautotróficas. Assim, são capazes de, através da fotossíntese oxigénica, produzir compostos orgânicos”.

Basicamente, as cianobactérias “produzem o seu próprio alimento com o auxílio da luz, necessitando ainda de água, dióxido de carbono (do ar) e alguns minerais”. Uma característica que, aliada à sua grande versatilidade metabólica, as torna “muito atrativas para aplicações de biotecnologia”.

“O meu foco está nas vesículas extracelulares que as cianobactérias produzem e libertam para o meio extracelular, uma habilidade que parece ser transversal aos diferentes ramos da árvore da vida. Estas vesículas são pequenos sacos (na ordem dos nanómetros), libertados pela parede das bactérias e que acabam no espaço extracelular. O seu conteúdo está repleto de segredos, podendo as vesículas estar envolvidas em várias funções, como por exemplo na comunicação, proteção e transferência de ácidos nucleicos e fatores de virulência”, explica o investigador.

O trabalho premiado

No trabalho submetido ao ISEV2020 – e denominado «Vesículas extracelulares de cianobactérias são um mecanismo alternativo para lidar com o stress induzido pelo cobre», Steeve Lima apresenta resultados que apoiam a ideia de que «estas pequeníssimas estruturas podem ser uma das formas que as cianobactérias evoluíram para auxiliar na destoxificação do metal cobre. Visto ser um metal essencial para a fotossíntese e fundamental como co-factor de várias proteínas, libertá-lo encapsulado numa vesícula é uma forma original para a célula se ver livre de algo que, em excesso, causaria enormes problemas”.

A possibilidade deste mecanismo ser partilhado com outras bactérias Gram-negativas, algumas das quais patogénicas, está a ser também estudado por Steeve Lima.

Em caso afirmativo, adianta, seria “um interessante mecanismo alternativo para a sobrevivência das bactérias aos efeitos biocidas impostos pelo metal cobre”.

“Um excelente incentivo”

Fundada em 2012, na Suécia, a Sociedade Internacional de Vesículas Extracelulares é a principal sociedade profissional cientistas envolvidos no estudo de microvesículas e exossomos. Com quase 1.000 membros, a ISEV oferece várias oportunidades de pesquisa na área.

É neste contexto que surgem as Young Investigator Scholarships, destinadas a jovens investigadores em início de carreira. É o caso de Steeve Lima, para quem este apoio – no valor de 500 dólares – representa “um excelente incentivo para continuar a investigar uma temática da qual gosto muito (e para levar o meu doutoramento a bom termo)!”.

“Sendo atribuída pela principal Sociedade da área, é um enorme orgulho para mim e para o meu grupo de trabalho! Fico apenas triste pois a entrega do prémio não será presencial, mas sim virtual. De qualquer modo, fiquei muito feliz!”, remata o estudante.