Ao olharmos para o legado que deixou, é caso para perguntar, quantas vidas cabem numa só? Neste caso a resposta é: muitas e todas com muito para contar. Isto não é só um quadro: António Cardoso para além da evidência é uma exposição que percorre as paixões e interesses que moldaram a vida e obra do artista, professor, investigador e museólogo. Inaugura às 16h00 do dia 7 de maio, na Casa-Atelier José Marques da Silva. No dia da inauguração, a entrada é livre.

António Cardoso (1932-2021) desempenhou um papel determinante no processo que viria a dar lugar à criação da Fundação Marques da Silva (FIMS). De resto, diz-nos a Presidente do Conselho Diretivo da FIMS, Fátima Vieira, “a Fundação, provavelmente, não existiria se não fosse a sua ação continuada, e sempre de uma forma muito próxima, desde a fundação e ao longo de toda a sua existência”.

Tendo optado por um doutoramento em História da Arte, desenvolveu uma tese sobre Marques da Silva que é, acrescenta Fátima Vieira, “até hoje, o estudo mais abrangente e sistematizado sobre a vida e obra deste arquiteto portuense”. António Cardoso orientou muitas teses de doutoramento na Faculdade de Letras da U.Porto, recorda Fátima Vieira, era um “contador de histórias” e a abrangência desta exposição serve também para demonstrar a sua “faceta de artista”.

As suas obras de pintura, desenho e gravura foram amplamente expostas e encontram-se representadas em coleções particulares, na Fundação Calouste Gulbenkian e no Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, em Amarante, onde, de resto, a sua intervenção foi crucial. Viajou, conviveu, ensinou. Lutou pela defesa do património, em particular o amarantino. Homem culto, colecionador atento e comunicador de excelência, influenciou várias gerações de alunos que ajudou a formar, da Telescola à FLUP, de onde viria a jubilar-se em 2002.

“Isto não é só um quadro” é uma frase inspirada no universo do pintor surrealista belga René Magritte (1898-1967) que o próprio António Cardoso gostava de citar.  Não sendo exaustiva, dada a amplitude de tudo quanto fez, a mostra dá uma ideia da abrangente teia de interesses e paixões que moldaram a vida do homenageado, na expectativa de despertar o interesse para futuras investigações sobre o autor. Como António Cardoso dizia, “a memória permite compreender as pessoas e os acontecimentos. A memória é o recurso do ser humano contra a morte, a rasura”.

Esta exposição, curatorialmente desenvolvida por um coletivo formado por Susana Cardoso (filha), Laura Castro (DRCN), Domingas Vasconcelos (CMP), Celso Santos e Leonor Soares (FLUP) e Paula Abrunhosa (FIMS), é uma iniciativa da Fundação Marques da Silva e contou com o apoio da família de António Cardoso, da Direção-Geral da Cultura do Norte, do Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, da Câmara Municipal do Porto, e das faculdades de Letras (FLUP) e de Belas Artes (FBAUP) da Universidade do Porto.

A U.Porto Press já publicou uma coleção de 20 desenhos de António Cardoso que sugerem um percurso ao encontro da paisagem.

Desenho de António Cardoso. (Imagem: DR)

Sobre António Cardoso

Nasceu em Salvador do Monte (Amarante), em julho de 1932 e faleceu no Porto, aos 88 anos, em junho de 2021. O seu percurso de vida passa pelos domínios do ensino (foi professor, orientador, conferencista, autor), da investigação em história da arte (com particular destaque para a obra de José Marques da Silva e de Amadeo de Souza-Cardoso), da pintura (enquanto artista, curador e crítico de arte moderna e contemporânea), da museologia e da defesa patrimonial.

Durante os anos 50, António Cardoso estudou pintura na Academia Alvarez e frequentou a Escola Superior de Belas-Artes do Porto, precursora da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Licenciou-se em História, na FLUP, em 1974, onde se doutorou em História da Arte com uma tese sobre o Arquiteto José Marques da Silva.

A partir de 1981 lecionou na FLUP, que representou na Comissão do Património da Câmara Municipal do Porto, entre 1996 e 2001. Desde os anos 90 até ao seu desaparecimento, foi diretor do Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, cabendo-lhe a edição do primeiro catálogo da coleção do museu que ajudou a construir em as suas dimensões. Enquanto pintor, António Cardoso teve diversas exposições individuais e participou em inúmeras exposições coletivas.

O seu trabalho “Paisagem III” integrou a seleção enviada à I Bienal de Paris, em 1959. Com ele, mas também com as obras de Ângelo de Sousa, Artur Bual, René Bertholo, Lourdes de Castro, Luís Demée, Mário Eloy, António Quadros, Nuno Siqueira, Maria Teles e João Barata Feyo, Portugal recebeu o 1.º Prémio da crítica. Foi ainda membro da Associação Portuguesa de Museologia, da Associação Regional do Património Cultural e Natural e da secção portuguesa da Associação Internacional dos Críticos de Arte.

Isto não é só um quadro: António Cardoso para além da evidência inaugura às 16h00 do dia 7 de maio, na Fundação Marques da Silva. Ficará patente ao público até 17 de setembro de 2022.

A exposição pode ser visitada de segunda a sábado, das 14h00 às 18h00. O bilhete de entrada varia entre os 3 euros (geral) e o 1,50€ para jovens, estudantes e seniores. No dia da inauguração, 7 de maio, a entrada é livre.