Um pedagogo, pintor, historiador e museólogo que se distinguiu igualmente pela sua “perseverança, bonomia e espírito conciliador”. É desta forma que a Fundação Marques da Silva (FIMS) recorda António Cardoso Pinheiro de Carvalho, professor jubilado da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) que faleceu no passado dia 3 de junho, aos 89 anos de idade.

Natural de Salvador do Monte (Amarante), António Cardoso (1932-2021) desenhou um percurso dividido entre os domínios do ensino, da arte e da museologia. Autor de várias exposições de pintura individuais e coletivas, em Portugal e no estrangeiro, dirigiu diversas publicações no domínio da pedagogia, apresentou programas educativos de televisão, nos anos 60, e foi realizador da Telescola, entre outros.

Em meados dos anos 60, inicia a sua ligação à U.Porto ao ingressar na Escola Superior de Belas Artes do Porto, antecessora das atuais faculdade de Arquitetura (FAUP) e de Belas Artes (FBAUP) Acabaria por mudar para a licenciatura de História da então “refundada” Faculdade de Letras (FLUP), que concluiu em 1974 com a classificação final de 16 valores.

Fortemente marcado pelos professores José António Ferreira de Almeida e Carlos Alberto Ferreira de Almeida, ingressou, em 1981, no quadro de docentes do Curso de História, variante de Arte da FLUP.

Ao encontro de Marques da Silva

Foi, de resto, no âmbito da tese de doutoramento em História de Arte – que defendeu a 19 de novembro de 1992, na FLUP – que o “destino” de António Cardoso se cruzou com o legado de José Marques da Silva, o histórico arquiteto portuense e considerado o “fundador” da Escola do Porto.

Intitulado “O Arquitecto José Marques da Silva e a Arquitectura no Norte do País na primeira metade do século XX“, o trabalho desenvolvido por António Cardoso conduziu à doação do legado de Marques da Silva à Universidade, formalizada no testamento da arquiteta Maria José Marques da Silva (24 de Junho de 1993), sua herdeira, e que resultou na criação, em 1994, do Instituto Arquitecto José Marques da Silva, atual Fundação Marques da Silva.

Numa “singela homenagem” publicada nas redes sociais, a FIMS não deixou, de resto, de recordar aquele que foi o “principal mentor deste projeto e membro do seu Conselho Geral”. “Recordamos as qualidades humanas que sempre o distinguiram, a atenção ao outro, a sua perseverança, bonomia e espírito conciliador; e a qualidade do seu percurso profissional, como investigador – até à data permanece o autor do estudo mais abrangente e sistematizado do arquiteto José Marques da Silva -, como professor, como divulgador e como artista”.

Enquanto professor da FLUP, António Cardoso orientou várias teses de doutoramento e de mestrado, participou em júris de provas universitárias e dirigiu ainda seminários de Património/Restauro, Escultura e Arquitetura do século XX no Curso de Mestrado de História de Arte do Departamento de Ciências e Técnicas do Património. Organizou também exposições de artistas portuenses, como Ângelo de Sousa, Carlos Carreiro e Zulmiro de Carvalho nas instalações da faculdade e fez parte da Comissão do Património da Câmara Municipal do Porto em representação da FLUP (1996-2001).

Na década de 90, foi convidado assumir o cargo de diretor do Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso (MMASC), em Amarante, o qual desempenhou até à sua morte.

O funeral de António Cardoso realizou-se no dia 4 de junho, na sua terra natal.