As Faculdades de Arquitectura (FAUP), Ciências (FCUP), Letras (FLUP) e Ciências da Nutrição e Alimentação (FCNAUP), localizadas no Pólo do Campo Alegre da Universidade do Porto, contestam a atual proposta de traçado, cota e perfil da ponte e acessos da nova travessia do Metro sobre o Rio Douro. Em causa estão questões de defesa da paisagem, salvaguarda patrimonial, impedimento do projeto de expansão da FAUP, segurança do acesso nascente daquela faculdade, e agravamento das dificuldades de ligação entre os vários espaços e edifícios do Pólo Universitário do Campo Alegre.

“Fazendo tábua-rasa do ‘Programa Estratégico de Desenvolvimento do Metro do Porto’ realizado por uma equipa da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), coordenada pelo Professor Paulo Pinho, em 2007, que previa o atravessamento do Douro pela Ponte de Arrábida, a Metro do Porto lançou, em março de 2021, o Concurso Internacional de Conceção para a elaboração do projeto de execução da Ponte Sobre o Rio Douro e Acessos entre o Porto (Campo Alegre) e Vila Nova de Gaia (Candal)”, começam por notas as faculdades, num comunicado publicado no site da FAUP.

O mesmo comunicado lembra que “a FAUP e a Reitoria da Universidade do Porto, não tendo sido nunca contactadas pela Metro do Porto, apenas no momento do lançamento do Concurso tomaram conhecimento do traçado e demais termos de referência de desenho da intervenção”. Em reação, e “entendendo que estes eram altamente questionáveis e fatalmente determinariam soluções projetuais que desqualificam urbanisticamente o polo universitário do Campo Alegre, [a FAUP e a Reitoria] manifestaram-se junto manifestaram-se junto da administração da Metro do Porto, contestando-os” Em resposta, “foi apenas garantido que a ponte não poderia passar sobre o terreno da Quinta da Póvoa”.

Com o conhecimento das propostas apresentadas a concurso e a ‘Decisão de Seleção’ “confirmaram-se as expectativas mais negativas”, refere a FAUP, acrescentando que “as determinantes impostas no Concurso traduziram-se em propostas gravosas e penalizadoras para a paisagem e contexto urbano, dado o traçado, cota e perfil que impõem à nova ponte”.

Expansão da FAUP em risco

A FAUP integra não só um conjunto de 18 obras de Álvaro Siza propostas pelo Governo Português para a Lista Indicativa do Património Mundial, como é atualmente objeto de um processo de Classificação como Monumento Nacional.

“No processo destaca-se o elevado valor cultural e paisagístico do conjunto e seu contributo para a qualificação da Paisagem Urbana da cidade do Porto. Defende-se uma Zona Especial de Proteção que salvaguarde as relações do edifício com a envolvente, em especial o conjunto de casas na Travessa da Pena até à Calçada da Boa Viagem que reforçam a relação de escala com a Casa Cor-de-Rosa, e garantem uma unidade de paisagem notável que não deverá ser interrompida”, frisa a FAUP.

As quatro Faculdades da U.Porto adiantam ainda que “o tabuleiro proposto para a nova ponte, com 15,4 metros de largura, aterra a nascente da Quinta da Póvoa, passando sobre a via panorâmica resvés entre a Casa de Agustina Bessa Luís e a Casa Cor de Rosa, rompendo com a escala do lugar e unidade paisagística”.

“A ponte projetada cai na vertical da FAUP, cortando uma área significativa do terreno da Quinta da Póvoa junto à Casa Cor de Rosa, condição que a administração da Metro do Porto havia garantido que não poderia acontecer”, lê-se no comunicado.

Como explica a Faculdade, “o túnel de saída do Metro para a superfície exterior é feito através de uma “trincheira” que atravessa o terreno a nascente da FAUP, impedindo a realização prevista para a expansão dos edifícios da FAUP. A entrada nascente da FAUP, acesso à área onde se concentra o Centro de Estudos, o Centro de Investigação e as seis salas de aula do Pavilhão Carlos Ramos, fica confrontada com a necessidade de atravessamento da linha de Metro num troço muito sensível do ponto de vista da segurança – a saída do túnel em rampa”.

“Total desconsideração pela Universidade”

As quatro faculdades signatárias consideram por isso “incompreensível a total desconsideração pela Universidade e, muito concretamente, pela condição urbana do Pólo do Campo Alegre” em todo o processo de planeamento da nova ligação entre Casa da Música e Santo Ovídio, infraestrutura que consideram “imprescindível para a zona do Campo Alegre e muito em especial para o Pólo Universitário da U.Porto”.

“Este espaço, que se estende do CDUP (Estádio Universitário) à Faculdade de Letras e inclui o Jardim Botânico, Faculdade de Ciências, Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação, Teatro do Campo Alegre, Planetário, Cantina, Residências e Círculo Universitário, carece de uma intervenção unificadora que, amortecendo o impacto da estrutura viária que o espartilha (e que a proposta apresentada pelo Metro vem agravar), possibilite a criação de percursos pedonais e ciclovias entre as diferentes Faculdades. Com o reforço da valiosa mancha verde que o caracteriza, este lugar universitário poderia assumir a condição de pólo-jardim, aberto à cidade, aos seus cidadãos e não apenas aos utentes”, defendem a FAUP, a FCUP, a FCNAUP e a FLUP.

Cientes da oportunidade que a intervenção do Metro poderia representar para a qualificação de todo o conjunto do Campo Alegre, e entendendo que o Concurso de Conceção poderia servir como espaço/tempo para pensar a cidade, as Faculdades do Pólo do Campo Alegre da U.Porto “lamentam que um número muito significativo de soluções apresentadas a concurso, que enveredaram por traçados e cotas alternativas menos lesivas relativamente às características paisagísticas e urbanas preexistentes, tenham sido liminarmente eliminadas”.

“Sem qualquer pretensão de invalidar ou protelar no tempo a execução de tão importante infraestrutura para a área metropolitana do Porto, e em especial para o Pólo Universitário do Campo Alegre”, as quatro Faculdades concluem manifestando “total disponibilidade para dialogar, debater e estabelecer compromissos para viabilizar uma melhor solução de implantação da rede de Metro no Campo Alegre”.