Óscar Felgueiras, professor do departamento de Matemática da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), tem vindo, desde o início da epidemia em Portugal, a colaborar com a Administração Regional de Saúde do Norte (ARS Norte) na análise de dados relativos à Covid-19. 

“O meu papel é multifuncional e cabe-me fornecer diariamente uma interpretação adequada à informação que vai sendo recolhida. Tenho de prever cenários de curto e médio prazo, ajudar a definir critérios na ação e contribuir na comunicação externa da mensagem que se pretende transmitir”, explica o especialista da FCUP, que trabalha no estudo estatístico de doenças infeciosas. 

Assim que os primeiros números da epidemia começaram a surgir, já o docente da FCUP estava atento e a projetar cenários da evolução desta doença em Portugal. Poucas semanas depois, era oficialmente requisitado pela ARS Norte para integrar uma equipa com o objetivo de “conhecer tudo o que envolve a atual epidemia, de modo a equacionar e a pôr no terreno as respostas adequadas”.

Neste momento, devido à importância do trabalho que desempenha, Óscar Felgueiras está dedicado a 100% à análise dos números da Covid-19, sobretudo os da região Norte do país. 

Para além da estimação do evoluir da epidemia, o docente da FCUP tem também “usado modelos para dar respostas a outras questões, nomeadamente na definição de prioridades na intervenção feita em lares”.

Mais 4 mil casos até ao fim do mês

A Matemática tem sido uma área essencial para se entender os números da epidemia, para a previsão de cenários e para a tomada de decisões. E no âmbito da análise dos números da Covid-19, Óscar Felgueiras tem sido contactado pelos meios de comunicação social. Em declarações prestadas este fim de semana ao jornal SOL, o docente da FCUP estima que “nas próximas duas semanas venham a ser confirmados cerca de 4 mil casos, com a epidemia a chegar aos 23 mil infetados até ao final do mês.”

Segundo o investigador, o número de casos diários continuará a diminuirEsta diminuição de números de casos deve-se em grande parte às medidas que têm vindo a ser tomadas, agora a produzir resultados. 

Em termos práticos, Portugal conseguiu passar de um R0 (ou seja o número médio de novos infetados gerado por um indivíduo doente) inicial superior a 2,08 para um atual que estará, nas contas de Óscar Felgueiras, abaixo de 0,91. Ainda assim, segundo o especialista da FCUP, não é altura para baixar a guarda. Embora se possa aos poucos ir reabrindo a economia, isso deve ser feito “com prudência e forma faseada”.

O uso de máscara e adoção de normas de higiene serão essenciais. Outras medidas como evitar grandes concentrações de gente terão de ser mantidas por algum tempo. Temos de voltar a uma nova normalidade arranjando um compromisso entre as várias variáveis em jogo.”