Uma equipa de investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP) rumou recentemente à ilha da Boavista, em Cabo Verde, para uma grande missão de amostragem integrada no projeto EMERTOX, focado no estudo e mapeamento das toxinas marinhas emergentes nas regiões do Atlântico Norte e Mediterrâneo.

Realizada entre os dias 8 e 22 de maio, esta missão de campo percorreu diversas praias rochosas (Atalanta, Santa Mónica, Chaves, da Varandinha, das Gatas, da Cruz), as salinas do Curral Velho, o ilhéu de Sal Rei e a lagoa do Ojo do Mar.

Ali, a equipa constituída pelos investigadores Vítor Vasconcelos, Pedro Leão, Joana Reis de Almeida, João Morais, Flávio Oliveira e Marine Cuau (CIIMAR), Linda Medlin (Marine Biological Association, Reino Unido), Gerado  Mengs (Ecotoxilab, Espanha ) e Nicole Avalon (Scripps Institute of Oceanography, La Jolla, EUA), teve a oportunidade de recolher exemplares de toxinas e organismos produtores de toxinas em ambientes costeiros.

A missão de amostragem permitiu angariar microrganismos tóxicos emergentes (cianobactérias, dinoflagelados e microalgas) que serão utilizadas em em três grandes áreas de trabalho: isolamento e cultivo de novas estirpes; análise metagenómica de biofilmes para avaliação do potencial produção de toxinas, e de novas vias biossintéticas de produção de metabolitos de interesse biotecnológico; e isolamento e caraterização de novas moléculas utilizando abordagens de bioquímica de produtos naturais.

A equipa aplicou diversas técnicas para amostrar na zona intertidal (zona do litoral que fica exposta ao ar apenas durante a maré-baixa). (Foto: DR)

Uma base de dados alargada

Os dados e recolhidos nesta missão de amostragem vão juntar-se às iniciativas de monitorização de toxinas feitas em Portugal pelo Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA), e às toxinas emergentes que têm vindo a ser detetadas e publicadas pela equipa de Vitor Vasconcelos, como é o caso da tetrodotoxina, a palitoxina e a ciguatoxina.

Apesar destas toxinas estarem associadas a países tropicais, os seus registos em águas mais frias do Atlântico são crescentes. Os dados recolhidos pelos membros deste projeto serão um importante instrumento de decisão para a EFSA (Agência Europeia de Segurança Alimentar) relativamente à necessidade de legislar e monitorizar algumas destas toxinas no futuro em águas europeias.

Os investigadores recorreram ainda a mergulhos regulares para amostragem em águas mais profundas. (Foto: DR)

Sobre o EMERTOX.

O projeto EMERTOX – Toxinas marinhas emergentes no Atlântico Norte e Mediterrâneo – Novas abordagens para avaliar a sua ocorrência e cenários futuros decorrentes das alterações globais – é um projeto RISE financiado pelo Horizonte 2020 e tem como principais objetivos mapear as toxinas marinhas emergentes e os organismos que as produzem, desenvolver novas abordagens para avaliar a sua ocorrência e prever os possíveis cenários futuros no contexto de um mundo em pleno aquecimento global.

O projeto tem a coordenação de Vítor Vasconcelos, presidente da direção do CIIMAR e professor na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), e conta com a participação de outras 15 instituições de investigação de todo o mundo: Espanha, França, Reino Unido, Itália, República Checa, Cabo Verde, Marrocos e Tunísia e República Dominicana. Esta equipa, altamente multidisciplinar permitiu ao projeto usufruir de competências complementares e das sinergias dos maiores especialistas na área.

“O projeto junta os maiores especialistas europeus na área das comummente conhecidas marés vermelhas, que são na realidade explosões populacionais de micro-organismos marinhos (dinoflagelados, diatomáceas, bactérias) produtores de toxinas que se podem acumular em bivalves e outros invertebrados mas também em peixes”, explica Vítor Vasconcelos, coordenador do projeto e investigador do CIIMAR.

O projeto EMERTOX terá a sua reunião final na sede do CIIMAR no da 10 de julho de 2023. Nessa ocasião, serão apresentados os resultados finais desta ação RISE.