Entre cães e gatos, veados e golfinhos. Que espécies animais podem ser suscetíveis ao SARS-CoV-2, o novo coronavírus responsável pela COVID-19? A resposta é avançada num estudo conduzido por Joana Damas, licenciada em Biologia e mestre em Genética Forense pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), e atual investigadora de pós-doutoramento no Instituto do Genoma da Universidade da Califórnia em Davis, nos Estados Unidos.

Num artigo que acaba de ser publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, e do qual é a primeira autora, Joana Damas relata os resultados de um exercício que combinou várias técnicas computacionais de análise de genomas e proteínas para prever os animais que podem vir a ser infetados pelo SARS-CoV-2.

“O principal resultado do nosso estudo foi a identificação de um alto número de espécies de mamíferos com potencial de serem também infetadas pelo vírus SARS-CoV-2, através da proteína ACE2, que é a proteína que o vírus usa para infetar as células humanas”, explicou a alumna da FCUP, em declarações ao jornal PÚBLICO.

Cães e gatos com potencial de infeção diferente

Entre as espécies identificadas como tendo um muito alto potencial de infeção – semelhante aos humanos, incluem-se os gorilas e chimpanzés. De resto, uma das conclusões a que chegou a investigadora foi que cerca de “40% das espécies identificadas como tendo potencial de infeção estão classificadas como ameaçadas pela União Internacional para a Conservação da Natureza”.

No nível abaixo, com alto potencial, estão, entre outros, o veado e o golfinho, e também espécies importantes a nível económico, como o gado bovino, ovelhas e cabras. 

Quanto à categoria de espécies de baixo risco, estão animais como os porcos, o cavalo ou o elefante. Já “os gatos apresentam um potencial de infeção médio e os cães têm um potencial baixo”

Por fim, a investigação confirma também um dado que já era conhecido: embora seja possível que humanos infetem estes animais, o risco de eles infetarem seres humanos será extremamente baixo. 

Conter um futuro surto de COVID-19

Apesar da longa lista de animais identificados, Joana Damas realça que “as previsões são baseadas apenas em semelhanças de sequência e requerem validação experimental”. São necessárias, de acordo com a investigadora, outras experiências e testes para comprovar se estes animais são ou não suscetíveis à infeção.

“O facto de haver potencial para infeção através da proteína ACE2 não quer dizer que estes animais irão apresentar sintomas, já que isso depende de outros mecanismos que não abordamos, por exemplo o sistema imunitário de cada espécie e a forma como reagem a infeção viral”, explica a cientista de 33 anos, que trabalhou como assistente de investigação no Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (Ipatimup) – atualmente integrado no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) .

Os resultados desta investigação podem mesmo assim ser úteis. Na entrevista ao PÚBLICO, Joana Damas defende que o estudo pode ajudar “na identificação de organismos-modelo para o estudo de infeção por SARS-CoV-2, e espécies que podem servir como reservatórios ou hospedeiros intermediários para SARS-CoV-2 e, portanto, reduzir a oportunidade de um futuro surto de COVID-19”.