“Acreditamos que estudar no corpo humano é a melhor maneira de estudar anatomia”. A afirmação é de Dulce Madeira, professora catedrática da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), instituição onde coordena, há mais de uma década, a Unidade de Anatomia.

Defensora da importância que o estudo de material cadavérico tem para a compreensão do corpo humano em contexto real, a também diretora do Mestrado Integrado da FMUP e  investigadora do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde considera que a doação é “um ato de generosidade e de filantropismo”. E foi para agradecer e reconhecer esse mesmo gesto que, em 2016, teve a ideia de homenagear todos os cidadãos que doaram o seu corpo à Medicina através de uma cerimónia singela que, desde então, já vem sendo uma prática habitual da FMUP.

Prestes a completar-se 40 anos desde que o Programa de Doação Cadavérica foi instituído na Faculdade de Medicina, verificou-se, nos últimos anos, um boom de doações e intenções de doação. “Houve uma maior divulgação do tema e as pessoas ficaram sensibilizadas para a sua importância”, justifica Dulce Madeira. E quem fica a ganhar são os futuros médicos, mas não só. Afinal, lembra a docente, também os médicos mais experientes recorrem ao estudo da anatomia para “treinar técnicas cada vez mais especializadas e com abordagens cirúrgicas mais pequenas”.

Licenciada em Medicina pela FMUP em 1978, Dulce Madeira iniciou a sua carreira como professora auxiliar nessa instituição em 1990, ano em que também concluiu o seu Doutoramento em Morfologia Médica. Especialista em Endocrinologia, foi assistente hospitalar no Hospital de São João entre 1988 e 1995. Em 2001, tornou-se professora catedrática de Anatomia da FMUP, tendo sido nomeada para dirigir a Unidade de Anatomia (antigo Departamento de Anatomia), cargo que desempenha há mais de 10 anos. Em 2018, assumiu a direção do Curso de Mestrado Integrado da FMUP, cuja comissão científica passou a presidir já em 2019.

No seu curriculum, Dulce Madeira contabiliza cerca de 70 artigos assinados em revistas científicas e três livros publicados por editoras internacionais. Para além de uma intensa atividade nas áreas da docência e da investigação, integrou ainda vários órgãos científicos e consultivos da FMUP.

Para o futuro, Dulce Madeira tem “apenas” o objetivo de “continuar a aprender pelo menos uma coisa nova todos os dias”…

 Naturalidade? Covilhã

Idade? 64 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?
Do seu elevado potencial e da sua enorme diversidade científica e cultural.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?
Do peso e da lentidão dos processos burocráticos.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?
Rejuvenescer os seus quadros e aumentar o diálogo e cooperação entre as suas Instituições.

– Como prefere passar os tempos livres?
Tendo tempo: viajar e ler. Quando o tempo escasseia: ler, caminhar e, quando a oportunidade surge, cozinhar para os amigos.

 – Um livro preferido?
Dependendo do momento, livros de autores como Gabriel Garcia Márquez, Juan Rulfo, Julio Cortázar, Jorge Luis Borges, Juan Gabriel Vásquez, Orhan Pamuk, Céline, Albert Camus, Franz Kafka, entre muitos outros. E, em português, Miguel Torga e José Saramago.

 – Um disco/músico preferido?
Para além de música clássica, que aprendi a apreciar já depois da adolescência, posso citar alguns cantores/compositores que fui ouvindo repetidamente ao longo dos anos, tais como Jacques Brel, Georges Brassens, Beatles, Queen e, mais recentemente Youssou N’Dour.

– Um prato preferido?
Peixe e de citrinos. Fica a sugestão: um, bem português, peixe grelhado e ceviche.

 – Um filme preferido?
Para citar um dos vários que revi recentemente, “O Carteiro de Pablo Neruda”.

 – Uma viagem de sonho? 
Uma das próximas: cruzar África, de costa a costa, da Namíbia a Moçambique.

– Um objetivo de vida?
Continuar a aprender pelo menos uma coisa nova todos os dias.

 – Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)
Alguns dos meus Professores, desde o ensino secundário à Faculdade de Medicina. Mas, se tiver que identificar só um, não hesito em dizer que foi o meu Pai.

– O projeto da sua vida…
Tentar atingir um estado de paz, tranquilidade e discernimento que me permita trazer bem-estar a mim própria e aos que me rodeiam.