Desenvolver, testar e demonstrar sistemas inovadores e sustentáveis de produção agroecológica de alimentos em seis países africanos. São essas as metas do INNOECOFOOD, um novo projeto liderado pelo CIIMAR – Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto e financiado no âmbito do programa Horizonte Europa.

Iniciado em janeiro passado, o INNOECOFOOD – Eco-innovative technologies for improved nutrition, sustainable production and marketing of agroecological food products in Africa – visa estabelecer ECOHUBS e Living Labs inovadores em seis países africanos nas áreas da produção e do negócio de alimentos e rações, através dos quais pretende melhorar as explorações aquícolas locais. Para tal, propõe uma abordagem sistemática em combinação com a aplicação de novas Tecnologias Digitais, em particular o recurso a IA e a IoT.

Este projeto Horizonte Europa é liderado pelo CIIMAR e conta com 21 multi-atores na Europa (Portugal, Reino Unido, Alemanha, Bélgica e Turquia) e África (Quénia, Uganda, Tanzânia, Namíbia, Gana e Egipto), envolvendo as comunidades rurais nestes países. No total, estão abrangidas 17 Instituições de investigação e quatro empresas.

O projeto INNOECOFOOD é liderado pelo investigador António Marques, do CIIMAR, e conta ainda com a colaboração da investigadora Maria Leonor Nunes, líder da equipa de Segurança e Processamento do Pescado daquele centro de investigação da U.Porto

O coordenador do projeto destaca o papel da Europa na sustentabilidade das produções agroalimentares nos países africanos, afirmando que “uma colaboração mais estreita com África é uma prioridade para a União Europeia, através de uma cooperação científica que permita aos países africanos fazer a transição para uma produção alimentar e energética mais sustentável. Esta é uma oportunidade única para o fazer, com Portugal e o CIIMAR a desempenharem um papel central”, acrescenta.

A sustentabilidade local com impacto também na Europa

Tendo como ponto de partida os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e do Green Deal da UE-UA, este projeto é ambicioso mas altamente inovador. Com recurso a uma abordagem sistemática em combinação com a aplicação de novas Tecnologias Digitais (IoT e IA), pretende-se desenvolver sistemas de produção agroecológica de alimentos sustentáveis que, ao mesmo tempo, proporcionem benefícios socioeconómicos aos produtores e às comunidades locais, quer em África como na Europa.

Em detalhe, o INNOECOFOOD vai instalar unidades de produção em 4 ECOHUBS e implementar a monitorização em seis explorações aquícolas locais (os chamados Living Labs), utilizando as tecnologias digitais que serão o impulso para gerar novas áreas de negócio e formar agricultores e aquicultores rurais, jovens e mulheres, nos países africanos envolvidos.

“Estas unidades irão produzir e processar localmente peixes de aquacultura, spirulina (microalga) e insetos de modo a assegurar o abastecimento sustentável e responsável de alimentos seguros e de qualidade, bem como de rações” refere António Marques.

“O processamento dos recursos locais sustentáveis será alcançado através de sistemas de refrigeração e secagem inovadoras, energia renovável (solar e eólica) e reciclagem de subprodutos e água (economia circular) dentro dos ECOHUBS, seguindo Códigos de Boas Práticas de Fabrico, Controlo de Qualidade, Avaliação do Ciclo de Vida e Implementação de Planos de Certificação que irão melhorar o desempenho, facilitar a confiança dos mercados e o comércio entre a EU e a UA” acrescenta o investigador do CIIMAR.

Pretende-se ainda que, através destes ECOHUBS, seja possível formar pelo menos 120 jovens, 120 mulheres e cerca de 5.000 trabalhadores rurais, a nível local. O projeto abrirá assim novos caminhos para permitir que as comunidades locais criem valor através do desenvolvimento sustentável de alimentos saudáveis e de rações para a aquacultura.

O potencial das novas tecnologias digitais

O recurso a tecnologias de IA e IoT é também um aspecto chave para o sucesso do INNOECOFOOD. A ideia é permitir que alguns processos sejam implementados em formato hands-off e com procedimentos automatizados e em tempo real.

Estas tecnologias serão selecionadas e instaladas nos quatro ECOHUBs recorrendo a sensores para recolher dados em tempo real, e terão o papel de monitorizar e controlar a produção de peixe, spirulina e insetos, bem como controlo dos equipamentos de processamento.

As tecnologias desenvolvidas servirão igualmente para desenvolver sistemas inteligentes de controlo e regulação para monitorizar a eficiência de funcionamento dos ECOHUBs “por exemplo, otimizar a gestão de energia, o desempenho dos produtos, a monitorização e o controlo da qualidade”, destaca António Marques.

 O impacto do INNOECOFOOD na ciência

António Marques acredita que são muitas as linhas de investigação que serão impulsionadas através dos resultados do INNOECOFOOD. Delas deverá resultar o “desenvolvimento e implementação de tecnologias sustentáveis que levarão à validação de novos alimentos e rações, a um custo reduzido, com viabilidade económica, e que sejam aceites pelos consumidores, para que possam ser implementadas no futuro noutros países africanos e europeus”.

O investigador do CIIMAR destaca ainda o poder das parcerias que este projeto desenvolverá para o futuro: “as novas parcerias criadas irão amadurecer e as novas ideias que, desenvolvidas, conduzirão a futuras parcerias em áreas que envolvam a aquacultura, o melhoramento genético, o desenvolvimento sustentável, entre outras”, projeta.

O projeto INNOECOFOOD – Eco-innovative technologies for improved nutrition, sustainable production and marketing of agroecological food products in Africa teve o seu kick-off meeting no passado dia 5 de fevereiro, nas instalações do CIIMAR.